quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sindicatos vs Ordens

Apesar dos sindicatos e as ordens apresentarem perfis diferentes, a sua área de actuação é muito semelhante. O objectivo principal dos sindicatos e das ordens é maximizar os seus rendimentos, ou seja, do próprio sindicato ou da ordem. Apesar de começarem por ter objectivos focados nos seus associados, a evolução natural de qualquer instituição é maximizar os seus lucros. Uma vez que os associados não são accionistas, este objectivo muito dificilmente vai de encontro do benefício dos associados.
  • sindicatos - maximização dos rendimentos é conseguida pela maximização conjunta dos seguintes pontos: salário, número de trabalhadores, número de anos de trabalho.
  • ordem - maximização dos rendimentos pela escassez da oferta. Basicamente, o equilíbrio é obtido quando o lucro é maximizado, ou seja, aumentando a oferta não vai aumentar o lucro agregado.
Tendo isto como base, é fácil compreender algumas atitudes dos sindicatos, nomeadamente o facto de nunca reivindicarem as reformas antecipadas e o facto de quererem aumentar o número de trabalhadores empregados e o número de trabalhadores no escalão máximo salarial. O caso extremo seria ter todos os trabalhadores no último escalão salarial a trabalhar até morrer.

As ordens têm alguma capacidade em limitar o número de trabalhadores, através de provas de acesso, ou de controle da formação ou pelo custo excessivo da formação. Quando estas ferramentas são retiradas, passam-se a comportar como sindicatos porque já não podem limitar a oferta.
Para um trabalhador, as ordens são mais benéficas que um sindicato. Para um consumidor, os sindicatos são mais benéficos em termos de custos e são menos benéficos em termos de qualidade. Este último ponto é trivial, uma vez que a maximização do número de trabalhadores não pode ter em conta qualquer tipo de controlo de qualidade, ao contrário das ordens que têm as provas de acesso... quase sempre com um nível excessivo de dificuldade com o objectivo de limitar a entrada na ordem.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Croudsourcing para estradas mais ecológicas

Todos os dias encontramos nas estradas veículos a deitar fumo negro e a gerar uma poluição incrível. No entanto, com as inspecções obrigatórias dos veículos isto não devia acontecer.
Penso que acontece por duas razões:
  • Os veículos são temporariamente equipados com peças em bom estado, só para poderem passar a inspecção.
  • Os centros de inspecção têm muita concorrência e se derem um jeitinho o veículo lá passa a inspecção.
No entanto, está previsto na lei que um veículo possa ser parado pela polícia ou GNR e que seja reencaminhado para um centro de inspecção, para verificar se de facto está apto para circular na estrada.
Penso que esta prática não é comum, mas claramente devia ser mais difundida. Para complementar esta medida, devia existir uma página web em que o cidadão comum podia, através da matrícula, denunciar veículos suspeitos de estarem a poluir acima dos limites da lei.
Quando uma matrícula tivesse um determinado número de denúncias, por pessoas diferentes, as autoridades competentes seriam notificadas.
Duas acções possíveis seriam:
  • se o veículo fosse parado numa operação stop, este podia ser imediatamente encaminhado para um centro de inspecção.
  • notificar pessoalmente o proprietário do veículo e, caso este tivesse na posse do veículo, este podia ser imediatamente encaminhado para um centro de inspecção.
Para além disso, devia existir um medidor de gases de escape em todas as operações stop. Deste modo, era o condutor e o veículo a sobrar no balão.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O país está inclinado...

Meus amigos... ontem fiquei estupefacto com a notícia de que a etapa portuguesa do Red Bull Air Race de 2010 vai ser deslocalizada do Porto para Lisboa.

A minha estupefacção não reside tanto pela deslocalização deste ou daquele evento, mas pelo desprezo que, de uma maneira geral, se tem votado ao Norte e Interior do país.
Agora, foi a deslocalização de um evento super lucrativo para as cidades do Porto e de Gaia. Há uns meses, uma banda que ia actuar no Estádio do Bessa, mas que à última da hora não pôde comparecer (o que é compreensível), decidiu compensar o povo português apresentando-se num concerto... em Lisboa!
Ainda no que concerne aos grandes eventos, diz-se que Portugal não tem Fórmula 1, em Portimão, por esse mesmo motivo... seria em Portimão!
Em assuntos mais preocupantes para o dia-a-dia dos portugueses, o Tribunal de Contas decide chumbar 5 auto-estradas que iriam servir centenas de milhares de pessoas diariamente, mas que trabalham fora dos distritos de Lisboa ou do Porto.
As grandes empresas do Interior, apesar de continuarem a apresentar lucros, fecham e enviam centenas de pessoas para o desemprego. Que medidas se tomam para melhorar a economia? Constrói-se o TGV e o Aeroporto, que de nada servirão aos povos do Interior. O primeiro rouba-lhes o terreno que usam para cultivar e tirar dele o seu ganha-pão. Em contrapartida, o TGV pára-lhes à porta, mas só se for por acidente. Do segundo é melhor nem falar, não vá haver um estudo que venha dizer que Alcochete não é uma boa localização, que é melhor construí-lo
Cai neve em Trás-os-Montes... gera-se o caos, centenas de pessoas ficam 6 e 7 horas fechadas nos seus carros, porque há apenas 2 limpa-neves para cobrir toda a região (um por cada distrito), mas para o Gabinete do Ministro da Administração Interna há 6 ou 7 carros disponíveis para transportar sua excelência.

Meus amigos, o país está inclinado! Sem sermos um país comunista, estamos a tornar o nosso país numa Cuba Europeia, onde só interessa Havana e Varadero para o turista ver...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

É Natal!!! Ninguém leva a mal!


Pumbaa!!
Eu nem sou do tipo violento, muito menos daqueles que acreditam que se consegue atingir (nos tempos que correm) a paz usando técnicas um tanto ou nada belicistas! Mas hoje não consegui evitar uma gargalhada "monumental" quando o Sr. Berlusconi apanhou com a cúpula do duomo de Milão naquela cremalheira desenvergonhada.
Se fosse eu tinha-lhe acertado em cheio com (claro que isto é só garganta e apenas no sentido figurativo. Não pretendo aqui incentivar a tais empreitadas) o campanário da praça de São Marcos de Veneza.

Emoções à parte, condeno esse ataque à face do homem mais bonito da Europa de forma categórica e desejo ao Sr. Berlusconi uma recuperação rápida e total pois a sua figura é importantíssima nos bordeis políticos que participa.


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Vou abrir um banco

...e a seguir criar um estado, mas isso fica para outra altura...

Recebi um email com um suposta carta de um cliente dirigida ao BES. Não posso atestar pela veracidade da mesma, mas ainda assim penso que nela é feita uma descrição muito interessante do autentico roubo perpetuado pelas entidades bancárias. O que eu acho curioso é ninguém ainda ter levantado a questão da existência de um cartel bancário.

Eu sou daqueles clientes chatos. Daqueles em que se lhe cobram 1 cêntimo por ter acedido ao serviço de online banking (sim, já me aconteceu), perde uma hora no banco a reclamar esse cêntimo de volta. E caso não mo devolvam, fecho, na medida do possível, todas as contas naquele banco (é normalmente no pedido de fecho de conta que, subitamente, o cêntimo afinal pode ser devolvido).

Não o faço por uma questão de sovinice. Faço porque não gosto de ser roubado. Faço porque penso que, ao dar liberdade ao banco para fazer o que bem entender com o meu dinheiro, já estou a pagar todos os serviços básicos. Como diz a minha querida avó, faço-o porque pura e simplesmente não gosto de dar de mamar a chulos.

Bem, já me alonguei em demasia. Aqui fica a tal "carta":
 
      Exmos. Senhores Administradores do BES  
Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina da v/. Rua, ou pela existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da tabacaria, ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.  
Funcionaria desta forma: todos os senhores e todos os usuários pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, farmácia, mecânico, tabacaria, frutaria, etc.). Uma taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao utilizador. Serviria apenas para enriquecer os proprietários sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade ou para amortizar investimentos. Por qualquer outro produto adquirido (um pão, um remédio, uns litro de combustível, etc.) o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até ligeiramente acima do preço de mercado.  
Que tal?  
Pois, ontem saí do BES com a certeza que os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e honestidade. A minha certeza deriva de um raciocínio simples.  
Vamos imaginar a seguinte situação: eu vou à padaria para comprar um pão. O padeiro atende-me muito gentilmente, vende o pão e cobra o serviço de embrulhar ou ensacar o pão, assim como todo e qualquer outro serviço. Além disso impõe-se taxas de. Uma 'taxa de acesso ao pão', outra 'taxa por guardar pão quente' e ainda uma 'taxa de abertura da padaria'. Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.  
Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o que ocorreu comigo no meu Banco.  
Financiei um carro, ou seja, comprei um produto do negócio bancário. Os senhores cobram-me preços de mercado, assim como o padeiro cobra-me o preço de mercado pelo pão.  
Entretanto, de forma diferente do padeiro, os senhores não se satisfazem cobrando-me apenas pelo produto que adquiri.  
Para ter acesso ao produto do v/. negócio, os senhores cobram-me uma 'taxa de abertura de crédito'-equivalente àquela hipotética 'taxa de acesso ao pão', que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar  
Não satisfeitos, para ter acesso ao pão, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente no v/. Banco. Para que isso fosse possível, os senhores cobram-me uma  'taxa de abertura de conta'.  
Como só é possível fazer negócios  com os senhores depois de abrir uma conta, essa 'taxa de abertura de conta' se assemelharia a uma 'taxa de abertura de padaria', pois só é possível fazer negócios com o padeiro, depois de abrir a padaria.  
Antigamente os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como 'Papagaios'. Para gerir o 'papagaio', alguns gerentes sem escrúpulos cobravam 'por fora', o que era devido. Fiquei com a impressão que o Banco resolveu antecipar-se aos gerentes sem escrúpulos. Agora, ao contrário de 'por fora' temos muitos 'por dentro'.  
Pedi um extracto da minha conta - um único extracto no mês - os senhores cobram-me uma taxa de 1 EUR. Olhando o extracto, descobri uma outra taxa de 5 EUR 'para manutenção da conta' - semelhante àquela 'taxa de existência da padaria na esquina da rua'.  
A surpresa não acabou. Descobri outra taxa de 25 EUR a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial vou pagar os juros mais altos do mundo. Semelhante àquela 'taxa por guardar o pão quente'.  
Mas os senhores são insaciáveis.  
A prestável funcionária que me atendeu, entregou-me um desdobrável onde  sou informado que me cobrarão taxas por todo e qualquer movimento que eu fizer.  
Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores se devem ter esquecido de cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações de v/. Banco.  
Por favor, esclareçam-me uma dúvida: até agora não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma?  
Depois de eu pagar as taxas correspondentes talvez os senhores me respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço bancário é muito diferente de uma padaria. Que a v/. responsabilidade é muito grande, que existem inúmeras exigências legais, que os riscos do negócio são muito elevados, etc., etc., etc. e que apesar de lamentarem muito e de nada poderem fazer, tudo o que estão a cobrar está devidamente coberto pela lei, regulamentado e autorizado pelo Banco de Portugal. Sei disso, como sei também que existem seguros e garantias legais que protegem o v/. negócio de todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de uma padaria, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados.  
Sei que são legais, mas também sei que são imorais. Por mais que  estejam protegidos pelas leis, tais taxas são uma imoralidade. O cartel algum dia vais acabar e cá estaremos depois para cobrar da mesma forma.  

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Ensino de qualidade II

Fausto!

Em primeiro lugar, ia apenas comentar a tua pedrada, mas depois fui divagando até que tornei isto num barroco!

Quero deixar claro que gostei muto da tua ideia e que ela seria bem recebida por muitos professores e pretendo explicar aqui o porquê! Mas antes quero comentar um facto que assinalaste de extrema importância: a ambiguidade dos rankings de escolas.

Os rankings actuais são criados pelas redacções dos jornais tendo por base os dados fornecidos pelo Ministério da Educação. 1º problema: Cada redacção adopta os critérios que quer... uns limitam as escolas pelo número de alunos, outros pela área geográfica e outros ainda pelo número de exames. Demasiados critérios, pouca informação relevante e poucas conclusões se retiram dos rankings. 2º problema: Ninguém sabe se os rankings são para se levar a sério ou se são apenas para fazer notícias e assim condicionar a opinão pública!
O que é verdade é que ambíguos ou não, os rankings mostram que no seu topo estão sempre escolas privadas, mas também é verdade que no seu fundo também estão escolas privadas. Também é verdade que os maiores fossos entre a avaliação interna e o resultado obtido no exame também se registam em escolas privadas. A acrescentar a este facto, temos que as escolas privadas realizam poucos exames e recebem apenas os alunos que querem, ao passo que as escolas públicas têm muitos exames e recebem todos os alunos (internos ou externos) que neles se inscrevam!
Desta forma, parece claro que as escolas públicas e privadas não "concorrem" (o termo não me parece o melhor, porque não se trata de um concurso...) no mesmo pé de igualdade e portanto a elaboração de um ranking fiável e claro não se pode basear apenas nos resultados dos Exames Nacionais. Mas é bastante importante que esse ranking seja mais uma ferramenta de trabalho com o objectivo de melhoria do ensino.

Quanto à proposta do Fausto, considero-a (quase) brilhante uma vez que, ao contrário do que é vigente no ensino em Portugal, preocupa-se com os alunos com melhores capacidades! Este tipo de alunos tem tido pouco incentivo no ensino português, preferindo-se apoiar todos aqueles que apresentam dificuldades, indisciplina constante, pouco interesse ou empenho no estudo!
A selecção dos alunos para a frequência de escolas de referência é um bom ponto de partida, mas não será o único! A criação de projectos a nível de escola, como o Projecto TurmaMais da Escola Rainha Santa Isabel, em Estremoz, e a aproximação entre Escolas e Universidades serão outros aspectos a explorar!

A todos aqueles que apontam o dedo à proposta do Fausto gritando "discriminação", muitos mais baterão palmas clamando por "justiça"! Os professores facilmente concordarão com esta proposta, pois ela valoriza o mérito e incentiva ao interesse e empenho pelas actividades escolares, em detrimento das preocupações e tempo desperdiçado com os indisciplinados e desinteressados!
Mas os professores não querem medidas avulso como as que têm sido tomadas nos últimos 30 anos e legisladas por pessoas distantes do ensino que não conhecem a realidade... Os exemplos de más leis são tantos que daria para outro barroco! Os professores querem um projecto nacional para o Ensino e leis reais e coerentes!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ensino de qualidade

Os rankings das escolas são claramente ambíguos e dados a múltiplas interpretações.
No entanto, uma coisa está clara... os colégios privados dominam os topo da tabela.

Penso que deveria existir na rede de escolas públicas, um conjunto de escolas de topo que dominassem os rankings e fossem uma alternativa pública aos colégios privados. Em certos países, existem este tipo de escolas, ou em alternativa, uma série de bolsas de estudo para os melhores alunos que não têm possibilidades económicas para frequentar os colégios privados.

A solução para implementar este tipo de escolas é, por incrível que pareça, extremamente simples.
  • para regiões servidas por uma rede relativamente densa de escolas, permitir a criação de uma escola de regime especial.
  • Estas escolas, inicialmente, só seriam diferentes das outras pelo facto de poderem escolher os alunos. Os alunos que não fossem aceites por esta escola ou que fossem convidados a sair, teriam de ser aceites pelas outras escolas. Hoje em dia, é praticamente impossível uma escola recusar um aluno.
  • As escolas teriam de manter um número normal de alunos, ou seja, só poderiam expulsar um aluno se isso não implicasse descer abaixo de um número mínimo de alunos.
  • As escolas podiam manter uma lista de espera de alunos que quisessem entrar ou pedir transferência. Estes seriam seleccionados e convidados a entrar caso um aluno fosse expulso.
  • Numa segunda fase, os professores e toda a equipa não-docente também seriam escolhidos. Não haveria professores efectivos nessas escolas, estando lá todos por destacamento. Os períodos de destacamento seriam definidos (por exemplo: 3 anos) e renováveis. A renovação seria pendente de uma série de critérios, tal como os resultados dos próprios alunos, mas mais importante ainda seria a avaliação dos outros professores.
  • A avaliação dos encarregados de educação NÃO seriam um dos critérios... infelizmente, os pais às vezes têm prioridades enviesadas. Acham que um bom professor é amigo dos alunos e dá boas notas... claramente isso não define um bom professor que produz bons resultados.
Para os críticos da criação deste conjunto de escolas por supostamente criar discriminação no sistema público, o meu comentário é apenas um: se as escolas públicas não oferecerem uma alternativa aos colégios privados, a discriminação será baseada em factores económicos em vez de factores de mérito.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Campeão do Salto com Vara


Deixa-me surpreendido, perplexo, estupefacto e por fim revoltado quando assisto a tanto "chico-espertismo"! O caso que me fez mudar de cor foi o do Sr. Armando Vara. Faço das minhas palavras as do Miguel Sousa Tavares que melhor caracterizam o personagem (ler aqui). O texto remonta a janeiro de 2009, altura em que o personagem em questão ainda não se encontrava a braços com a justiça. Este caso, para mim, é sem dúvida o do verdadeiro campeão do salto com Vara! Conseguiu driblar tudo e todos, usando a política como veículo para chegar ao lugar que ambicionava que era.. banqueiro! Há coisa de 4 anos atrás decidiu tirar um curso superior, daqueles instantâneos, que se dissolvem com água quente, de forma a disfarçar a sua escalada em busca do poder supremo. Mais, conseguiu obter uma pós-graduação mesmo antes de ter acabado a licenciatura (ver curriculum no site do BCP)! Isto é Fantástico!!

Francamente...sinto-me revoltado e indignado. Mas tenho esperança que este caso, tal como outros, sejam esclarecidos e devidamente julgados por forma a fazer renascer a credibilidade nas instituições.


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Humpty-dumpty?

O PCP está velho, gasto... A laburiosa defesa dos direitos dos trabalhadores é quase como umas calças velhas num homem que nunca as tirou desde miúdo: ficam-lhe curtas demais... Mas recusa comprar umas novas porque o consumismo é também base do capitalismo, afinal de contas...

Mas tudo isto são lérias quando as comparamos com isto.

Celebrar a queda do muro é celebrar a Europa, a liberdade. Há mudanças que se coligam com a evolução temporal: as transiçoes absolutismo-liberalismo, monarquia-republica por exemplo são em regra unidireccionais - a historia raras vezes dá cambalhotas para trás. Por isso o PCP está velho: porque no que diz guarda a vontade de uma pirueta acrobática e do regresso ao que já não é.

Berlim unificado é, pela queda da muro, simbolo de prevalencia de democracia e de união na diferença. E percorrendo a Karl Marx Allee, ladeado de uma arquitectura imponente, reminiscente de um regime quadrado - até mesmo na sua estética - não consigo deixar de sorrir perante a alegria de uma cidade que, ainda que com dois rostos, tem hoje uma alma apenas.

A avaliação a Mário Nogueira... de novo.

O tema da avaliação dos professores voltou à ribalta (se é que alguma vez saiu), com o CDS a tentar encontrar um ponto de encontro entre a posição do governo e a dos sindicatos, ambas intransigentes até ao momento. Esta estabilidade é fundamental para o bom funcionamento do sistema de ensino, mas sinceramente espero que a base da proposta do governo se mantenha: avaliação, com subida na carreira baseada no mérito.


Fundamental para um possível entendimento é a não-intervenção de Mário Nogueira, pelo menos no estilo a que nos habitou. Já por várias vezes mostrei o meu descontentamento para com a atitude deste "professor" (há quantos anos não dá aulas mesmo?), como por exemplo aqui e aqui.

No fundo, o que me faz imensa confusão é ver tantas medidas que trazem mais dignidade à profissão e que motivam uma cultura de excelência, premiando quem de facto se revela merecedor, serem rejeitadas pelos sindicatos, usando a capa da "luta". Usando o argumento de serem uns coitados explorados pelo estado.

Veja-se o quanto o Estado os explora, neste excerto do Diário da Republica onde se podem ver alguns valores das reformas atribuídas pela Caixa Geral de Aposentações:



(dados obtidos a partir da publicação em Diário da Republica; podem ser consultados aqui)

Esta estratégia de Mário Nogueira é infeliz, muito infeliz, pois apenas contribui para o deterioramento da já desgastada imagem da classe docente. Trata-se de uma classe que é vista como privilegiada por uma parte significativa da opinião pública, donde esta atitude de "vitimização" vem apenas piorar essa imagem.

Trata-se de uma profissão crucial para o desenvolvimento de uma sociedade. Assim, é natural que se trate de uma classe privilegiada, de uma elite. É natural que queiramos privilegiar quem educa e forma os nossos filhos.

Mas, assim, é também natural exigir elevação, qualidade e excelência. Privilégios aos melhores, aos que nos privilegiam com a sua capacidade de ensinar. Para que sejam uma elite admirada pelo sociedade, é necessário que lutem por promover os melhores e afastar os que não dignificam a profissão.

Sejamos francos: não é essa a imagem que Mário Nogueira e, consequentemente, a classe dos professores nos tem vindo a transmitir.

O actual processo de avaliação pode não ser o melhor, mas é certamente melhor do que o vazio anterior. Não podemos cair no erro de, à boa maneira portuguesa, passarmos 20 anos a discutir a melhor forma de resolver o problema, enquanto o problema se agiganta e provoca danos irreversíveis.

sábado, 7 de novembro de 2009

Watson e o gene colorido

Ora vamos lá lançar um calhau, no mínimo recheado de polémica (e talvez um pouco de inocuidade) , para ver se cria um ambiente fervoroso de discussão e partilha de ideias!
Hoje li aqui que um dos pais do ADN, o Prof. James Watson (JW), foi convidado pela Fundação Champalimaud a dar uma palestra acerca do cancro. Estas iniciativas são no meu entender extremamente benéficas para a divulgação da ciência no nosso País. Afinal de contas não é todos os dias que temos um prémio nobel em território Português (sim, porque eu acredito na correlação "forte" entre prémio nobel e mérito cientifico, mas claro está, está é outra pedra e merece outro tipo de lançamento). Contudo lembrei-me de umas palavras proferidas pelo JW numa entrevista dada ao Sunday Times algures em 2007 onde dizia:

"inherently gloomy about the prospect of Africa because all our social policies are based on the fact that their intelligence is the same as ours - whereas all the testing says not really"

Claro que estas palavras, lidas de forma literal (isto soa-me a caso recente), despertam algum sentimento de revolta, uma vez que podem ser conotadas de racistas. O Sr. JW tenta esclarecer melhor a sua posição:

"We do not yet adequately understand the way in which the different environments in the world have selected over time the genes which determine our capacity to do different things. The overwhelming desire of society today is to assume that equal powers of reason are a universal heritage of humanity. It may well be. But simply wanting this to be the case is not enough. This is not science. To question this is not to give in to racism. This is not a discussion about superiority or inferiority, it is about seeking to understand differences, about why some of us are great musicians and others great engineers."

Eu sempre pensei, de uma maneira muito simplista, que fosse o calor que fizesse atrasar o desenvolvimento na generalidade dos países africanos. Agora vejo que há quem acredite que os genes podem explicar esse atraso.
Afinal de contas, será que o gene colorido africano é mais preguiçoso que o gene desbotado dos nórdicos?
Vá lá, a nível estatístico até que poderíamos suportar as palavras do JW, mas serão elas completamente desprovidas de sentido?




terça-feira, 20 de outubro de 2009

Mário David: Já chega!

Transcrevo aqui o texto da página oficial do eurodeputado Mário David (PSD), vice presidente do Partido Popular Europeu

José Saramago: Já chega!

José Saramago, há uns anos, fez a ameaça de renunciar à cidadania portuguesa. Na altura, pensei quão ignóbil era esta atitude. Hoje, peço-lhe que a concretize... E depressa! Tenho vergonha de o ter como compatriota! Ou julga que, a coberto da liberdade de expressão, se lhe aceitam todas as imbecilidades e impropérios?

Se a outorga do Prémio Nobel o deslumbrou, não lhe confere a autoridade para vilipendiar povos e confissões religiosas, valores que certamente desconhece mas que definem as pessoas de bom carácter.

Umas declarações dessas claramente só podem vir de uma pessoa com uma forte intolerância religiosa. A tolerância implica aceitar críticas, cartoons, outros pontos de vista e, mais que tudo, aceitar quem não acredita em Deus, Buda ou Thor.
Para quem acredita em Deus, devia considerar a atitude de Roger Williams, o fundador do estado de Rhode Island, EUA, que foi banido do Massachusetts pelas suas ideias radicais, tais como a separação entre a igreja e o estado, a liberdade religiosa e a vivência pacífica com os índios americanos. Apesar disso, era uma pessoa extremamente religiosa, pastor e fundador da primeira igreja baptista na América. Rhode Island tornou-se um refúgio para pessoas de todas as crenças e, para além disso, viviam lado a lado com os índios, aos quais tinha comprado a terra para criar a colónia de Rhode Island que, mais tarde, veio dar origem ao estado homónimo.

Uma pessoa que demonstra através das suas acções ser de bom carácter, só o é verdadeiramente se não esperar nenhuma recompensa ou castigo pelas acções que realiza.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Autárquicas 2009

Vencedores:

PS - É inegável a vitória do PS nas eleições de ontem. Apesar de não ter superado o PSD no número de presidências de câmaras municipais, o partido conseguiu um ganho de mais de 20 concelhos em relação a 2005. Lisboa, Leiria, Barcelos e Beja foram vitórias emblemáticas para o partido. Deve-se ressaltar também que este ano o PS obteve mais votos e mandatos do que o PSD.

Rui Rio, Luís Filipe Menezes e Fernando Seara - Estes foram um dos poucos pontos positivos do PSD, que continua a governar três dos maiores concelhos do país. Foram vitórias muito mais pessoais do que partidárias. Devemos destacar também a vitória de Macário Correia em Faro.


Perdedores:

PSD - Apesar do maior número de câmaras, não consigo deixar de ver o resultado de ontem como uma derrota para o PSD. Houve redução de votos, câmaras e mandatos. Creio que estas eleições selaram o destino da líder Manuela Ferreira Leite.

CDU - Apesar de ter manter vereadores em Lisboa e no Porto, a CDU perdeu em Beja, um dos seus bastiões. O saldo da CDU em relação a 2005 foi negativo tanto em número de câmaras quanto em número de mandatos.

Bloco de Esquerda - Sem dúvida o grande perdedor da noite. Manteve a única Câmara que tinha (com menos votos do que em 2005), perdeu o vereador de Lisboa e não conseguiu eleger vereador no Porto.


Neutros:

CDS - Conseguiu uma grande vitória em Ponte de Lima com uma votação superior a 60%. De resto apenas ganhos incrementais em algumas freguesias. Depois do grande desempenho nas legislativas, o resultado das autárquicas não deixa de ser um pouco decepcionante.

Independentes - Tiveram todo tipo de sorte: vitórias do Isaltino e Valentim Loureiro, derrotas para a Fátima Felgueiras e Narciso Miranda.

Santana Lopes - Apesar da derrota em Lisboa, Santana Lopes teve um desempenho melhor do que o esperado. Houve voto útil à esquerda para que ele perdesse a eleição.


(Análise de Tiago Vinhoza para o Costa Rochosa)

Um pequeno ponto luminoso

Desde o rescaldo das eleições legislativas, afastei-me um pouco do blog. Talvez porque o trabalho consumiu todas as energias nestes últimos dias. Talvez devido a cansaço bloguistico. Ou pura e simplesmente por descrença na classe politica.

Mas ontem, após ver o discurso de vitória do Fernando Seara, senti-me a olhar o céu e encontrar um pequeno ponto luminoso no meio da imensidão negra.


Elegância. É a palavra que me ocorre para descrever este discurso. A outra palavra que se segue é Democracia.

Democracia deve ser vista exactamente desta forma: uma luta saudável entre vários concorrentes que, após o escrutínio, se devem unir em prol da governação, mas sobretudo em prol dos eleitores. O foco deve estar sempre nos cidadãos e não em pequenas "guerritas" pessoais ou partidárias, numa luta cega pelo poder.

Veja-se o contraste  com o discurso de vitória de Paulo Rangel, actualmente uma estrela politica e visto como um politico de grande futuro. Eu já pensei assim, mas... mas... mas... mas...

No seguimento do meu post anterior, a elevação presente no discurso de Fernando Seara será fundamental durante a legislatura que agora começa. A ver vamos.

Surpresa no Nobel da Economia!

Elinor Ostrom e Oliver E. Williamson venceram o prémio Nobel da Economia! Surpreendente pois, pelas recentes atribuições de certos prémios Nobel, tudo apontava para que o vencedor fosse Bernard Madoff.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O valor real das coligações

Analisando o Shapley value das possíveis coligações é possível determinar o verdadeiro peso político de cada partido.
  • PS: 40%
  • PSD: 26,7%
  • PP: 20%
  • BE: 6,7%
  • CDU:6,7%
Assume-se que os deputados pelos círculos eleitorais da Europa e Fora da Europa são repartidos entre o PS e PSD.

Clarificação:
O Shapley value foi calculado para a maioria simples e assume-se que os partidos da coligação votam a favor, e os que não estão, votam contra.
Exemplo:
  • A coligação PS+BE é equivalente a 46,7%, que é insuficiente para maioria simples.
  • A coligação PS+CDU é equivalente à PS+BE, porque apesar do BE ter mais deputados, não existe nenhuma coligação possível que não possa ser feita com o BE, que também não possa ser feita com a CDU.
  • O PP tem um Shapley value superior à sua representação no parlamento, uma vez que consegue viabilizar várias coligações: {PS+PP, PSD+BE+PP, PSD+CDU+PP}.
  • Por outro lado, o PSD fica pouco acima do PP porque é apenas necessário para coligações que não incluam o PS.
  • Basicamente, qualquer coligação que têm um Shapley value superior a 50%, terão a maioria simples.

E o vencedor é...

...a democracia portuguesa. Pelo menos esta é a minha esperança. Lá chegaremos, mas antes olhemos para os partidos: o CDS é o grande vencedor destas eleições; o BE e sobretudo o PSD os derrotados.

Porque penso que o Bloco teve um desempenho negativo nestas eleições? Porque não concretizou o seu potencial. Existia uma grande dinâmica em torno do BE porque a esquerda descontente via no Bloco uma alternativa viável ao PS. Além disso, muitos eleitores "independentes" viam no Bloco uma oposição útil. O potencial no inicio da campanha era enorme e a possibilidade/expectativa de triplicar o número de deputados fazia todo o sentido. Acima de tudo, a possibilidade de governar com o PS ou então condicionar o futuro governo era uma realidade perfeitamente ao alcance.

O problema é que, com o decorrer da campanha, o BE foi desmascarado, digamos assim, e a sua imagem foi sendo colada à extrema esquerda. A sua ideologia tornou-se mais próxima da do PCP aos olhos do eleitor independente, o que fez com que muitos destes optassem por um voto útil diferente (CDS). O momento fulcral é aquele em que grande parte do eleitorado tomou consciência de que o BE poderia formar governo com o PS (algo de que tentaram desmarcar-se, com pouco sucesso) ou pelo menos ter força suficiente para, sozinhos, condicionarem um futuro governo. Isso criou algum receio em parte do eleitorado que via no BE um voto útil, que passou a procurar opções de voto mais "seguras".

O Bloco de Esquerda duplicou o número de deputados, o que é de louvar. Mas eu vejo o BE como um dos derrotados porque não soube aproveitar uma conjectura claramente favorável para chegar ainda mais longe. Ainda assim, os meus parabéns ao Dr. Louça por atingir um marco histórico na (ainda curta) história do Bloco de Esquerda e também da política nacional.

Quanto ao PSD, obteve uma derrota que, no mínimo, é estrondosa. É a consequência de dois aspectos cruciais: a péssima campanha eleitoral e, na sua base, de uma desunião dentro do partido. Este resultado é muito mais do que o quarto pior resultado do PSD desde 1976, muito mais do que apenas 0,32% melhor do que Pedro Santana Lopes em 2005: é tudo isso numas eleições frente ao primeiro-ministro mais contestado, mais desgastado e mais envolvido em polémicas (provavelmente) desde Salazar.

Esta derrota é a derrota da campanha isenta de compromissos levada a cabo pelo PSD. O único compromisso com os portugueses assumido pelo PSD foi o de retirar Sócrates do poder. Como ficou demonstrado, isso não basta para convencer os eleitores. Não basta dizer que o que lá está é mau, é preciso mostrar como se pode ser melhor. A aposta no tema da asfixia democrática saiu cara, como esperava. Foi um erro estratégico, sobretudo porque colocaram Sócrates numa posição em que ele se sente como peixe na água.

Eu sou optimista por natureza e, por isso, quero ver esta derrota do PSD como a derrota da "oposição do contra" e do "bota-abaixismo". Talvez esteja a ver castelos na nuvens, mas deixem-me apreciá-los enquanto o vento não os empurra daqui para fora.

Paulo Portas e o CDS foram o contraste (pelo menos à direita) de Manuela Ferreira Leite e da campanha do PSD: comprometeram-se com os portugueses ao apresentar propostas concretas, fugiram aos ataques pessoais e focaram-se em temas que realmente interessam a uma grande fatia do eleitorado. Resultado: passaram a barreira dos 10%, passaram a ser a 3ª força politica no parlamento e, mais importante, tornaram-se o partido (excluindo o PSD) que pode viabilizar sozinho um governo com o PS.

Portas foi o destaque positivo ao longo de toda a campanha eleitoral. Embora não seja apreciador do seu estilo, Paulo Portas mostrou ser um grande líder partidário. Os meus parabéns ao CDS pois, para além da vitória, obtiveram-na recorrendo a "politica de verdade".

Já o PCP (ou melhor, a CDU) teve um resultado "neutro". Embora tenha subido um pouco, passou para 5ª força no parlamento. É um sinal da necessidade de renovação no PCP. Mas também um sinal da estabilidade do seu eleitorado.

A análise aos resultados obtidos pelo PS e, em particular, por José Sócrates é difícil. Por um lado, o PS desce cerca de 9%, o que comprova o enorme desgaste da imagem de José Sócrates. Com esta queda, é difícil para mim concordar com o Primeiro Ministro quando enaltece a vitória obtida nestas eleições. Uma queda de 9% dificilmente pode ser vista como uma vitória, mesmo quando ainda assim é o partido mais votado e é reeleito como Primeiro Ministro.

Por outro lado, convém relembrar as batalhas travadas por este governo contra diversas classes. Professores, administração pública, magistrados, sindicatos, etc. O governo travou muitas destas batalhas mantendo-se fiel à sua visão (certa ou errada) o que levou a grande contestação e, consequentemente, grande desgaste. Ora, o facto de ainda assim terem sido reeleitos deve ser também lido à luz destas batalhas. Estarão os portugueses a dormir, como perguntava um homem hoje ao café? Ou concordarão os portugueses com o governo em todas as reformas, pois visam em geral classes consideradas privilegiadas? Ou estarão 36,56% dos eleitores, mesmo discordando de várias reformas impostas por este governo, a dar um voto de confiança a um executivo que se manteve fiel às suas ideias e levou as suas reformas avante, apesar de toda a contestação e as óbvias consequências para as eleições?

Assim, penso que é também difícil olhar para o resultado obtido como uma derrota clara para o PS. Talvez a melhor forma de descrever este resultado do PS seja um voto de confiança, mas com uma advertência muito forte. Sobretudo um alerta para a necessidade de diálogo.

É exactamente na necessidade de diálogo que reside a minha esperança, a esperança da democracia ter sido a grande vencedora destas eleições (apesar dos valores da abstenção, alarmantes para umas eleições tão importantes e num momento tão delicado). Os portugueses ditaram uma maior equilíbrio de forças no parlamento, o que levará obrigatoriamente a um maior diálogo entre os partidos. No pior dos casos (do ponto de vista do diálogo), mesmo que o PS e o CDS formem um governo de maioria absoluta, isso implicará um compromisso entre estes dois partidos que, em vários temas, têm posições opostas. Caso essa coligação não ocorra, o PS terá de obter acordos com diferentes partidos, devolvendo assim ao parlamento a sua principal função: discussão politica. E essa discussão terá de ser civilizada, pois nenhum partido está em posição de bloquear sozinho o governo. Até entre a oposição terá de haver diálogo.

Há quem preveja um período de grande instabilidade e novas eleições dentro de um ou dois anos. Como disse, sou optimista. E vejo nestes resultados uma excelente oportunidade de se elevar a qualidade da politica em Portugal. Pois ser governo agora exige cooperação. Pois ser oposição agora requer muito mais do que ser "do contra".

Este é o momento para ver até que ponto a classe politica é capaz de abandonar os seus odiozinhos e lutar, junta, por um Portugal mais forte.

Comparação dos resultados com lista única nacional

Aqui vão os resultados eleitorais se em Portugal existisse apenas uma lista nacional por partido.
PARTIDO Por_distrito Nacional Diferença
PS......... 96.........87........9
PSD.........78.........70........8
PP..........21.........25.......-4
BE..........16.........23.......-7
PCP.........15.........18.......-3
PCTP/MRPP....0..........2.......-2
MEP..........0..........1.......-1

Estes cálculos foram obtidos usando os resultados provisórios que estão publicados no site http://www.legislativas2009.mj.pt. Para a distribuição de deputados por partido, foi aplicado o método de Hondt, que é o mesmo método usado a nível de distrito.
Estes resultados mostram que 17 deputados em 226 foram atribuídos incorrectamente aos dois partidos com maior número de votos.
Também é interessante analisar que o PP teve 591974 votos, contra os 557109 do BE, mas o PP perdeu apenas 3 deputados enquanto o BE perdeu 7. Claramente, o BE obteve muitos votos em distritos que não elegeram deputados pelo BE.
É óbvio que não é do interesse dos partidos mais votados mudar o sistema actual, mas o objectivo de uma democracia representativa recair exactamente na sua designação de representativa.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

TAP+ANA: o golpe do século

Antes de mais nada, alguns factos:
  • A ANA e a AENA (versão espanhola) são as duas umas entidades de gestão de aeroportuária que operam todos os aeroportos dos respectivos países.
  • Na Catalunha, uma das maiores lutas do governo autonómico foi conseguir participar na gestão dos aeroportos da região e em especial do aeroporto de El Prat (BCN). Durante muitos anos, a AENA teve uma política de apoio do modelo de HUB da IBERIA, centrado em Barajas. Os milhares de passageiros que saíam de Barcelona para a América Latina, tinham necessariamente que passar por Madrid... para rentabilizar a IBERIA e o terminal T4 de Barajas (exclusivo da IBERIA).
  • O Aeroporto do Porto é dos melhores da Europa, com vários prémios, e tem uma das taxas aeroportuárias mais baixas. A RyanAir opera a partir do Porto devido ao baixos custos e ao tempo reduzido de turnaround (20-25 minutos). O tempo de turnaround é o tempo que demora a descarregar e a voltar a carrerar um avião, e é fundamental para aumentar a rentabilidade dos voos.
  • O Aeroporto de Faro é extremamente concorrido, principalmente durante a primavera e o verão e, no entanto, não tem condições para suportar todos esses passageiros. Este aeroporto claramente seria ainda mais rentável com uma remodelação semelhante ao ao Aeroporto do Porto.
  • O Aeroporto da Portela está a rebentar pelas costuras, com a sua estrutura antiquada e com remodelações superficiais sucessivas. Por outro lado, a parte militar (Figo Maduro) continua sem ser utilizada.
... e agora o golpe.

Há uns anos atrás, a TAP achou que podia ser como a IBERIA (antes do advento das low-cost). Achou que o modelo em HUB deveria ser utilizado na Portela, sendo alimentado por passageiros nacionais e europeus, para ligação ao Brasil e a países da América Latina. Para além disso, os voos para destinos europeus teriam sempre de passar por Lisboa, mesmo que houvessem passageiros suficientes do Porto para terem voos directos.
Esta política de centralizar os voos em Lisboa, provavelmente foi apoiada pela ANA, que já há muitos anos tentava justificar um aeroporto novo para Lisboa. Por outro lado, a ANA prometeu um terminal próprio para a TAP, no novo aeroporto. A TAP ia ter o seu T4... até já se sentia ao nível da IBERIA.

... e depois apareceram as low-cost.

Estas empresas conseguem operar com custos bastante inferiores porque têm um esforço constante de aumentar a eficiência, de usar a Internet, de permitir aos passageiros gerir o verdadeiro custo da viagem (bagagens, check-in, ...). Para além disso, estas empresas só oferecem voos directos, o que são mais baratos que escalas em aeroportos de HUB.
As low-cost sabem que atrasos, bagagens perdidas e um mau serviço são maus para o negócio e aumentam os custos.

... mas TAP ainda quer o seu terminal.

A TAP não consegue competir com as low-cost nem com as operadores de bandeira que já foram reestruturadas. No entanto, continua a insistir que tudo vai melhorar com um novo aeroporto.
Agora que o novo aeroporto já está quase garantido, voltou a ter voos intercontinentais a partir do Porto, de modo a reduzir a carga da Portela.

... e a ANA ainda quer o seu aeroporto.

Em vez de ter investido em reestruturações de fundo na Portela, foi adiando até ser insustentável manter o aeroporto e impossível de implementar alguma reestruturação de fundo. Agora, não existe outra possibilidade que construir o novo aeroporto.
No entanto, o negócio não é muito vantajoso. O novo aeroporto fica longe de Lisboa, o que vai reduzir a sua rentabilidade, e não está claro que a TAP consiga aumentar o número de voos para rentabilizar o aeroporto. Por outro lado, as outras operadoras não têm interesse em usar no novo aeroporto como HUB, mas apenas como destino final.

Qual a solução para adoçar o negócio?

Vende-se a ANA a quem construir o aeroporto, e assim inclui-se os outros aeroportos (bastante rentáveis) para adoçar o negócio. Quem construir o novo aeroporto, terá como melhor estratégia para aumentar a rentabilidade do novo aeroporto, voltando ao modelo de HUB e aumentando as taxas aeroportuárias dos outros aeroportos para os níveis do novo aeroporto.
Se alguém duvida que esta é a melhor estratégia, compare com a concessão da Ponte Vasco da Gama, em que a empresa também detém a concessão da ponte 25 de Abril (já paga há muitos anos), de modo a uma ponte não fazer concorrência à outra.

Conclusão.

A construção do novo aeroporto vai um encargo muito grande para o país, a TAP muito dificilmente conseguirá rentabilizar o aeroporto (basta ver as crises e greves constantes e os prejuízos constantes) e os passageiros dos outros aeroportos vão andar a pagar pelo novo aeroporto de Lisboa e vão ter um pior serviço.

Solução.

Não há solução... excepto a privatização parcial dos aeroportos do Porto e Faro, em que a participação pública passaria por uma gestão regional. Talvez assim o novo aeroporto de Lisboa seja repensado para uma solução mais racional e eficiente. O aeroporto tem de valer por sí, e não pelos dotes que vêm atrás.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ideias para financiar um jantar...

Caros leitores!

Por diversas vezes, li aqui a expressão da vontade de muitos em passarmos as discussões para um local mais físico que a virtualidade na internet, por exemplo: uma mesa bem farta de comida e bebida!
Considerando que estamos a atravessar uma crise profunda e que os bolsos de todos não se encontram tão recheados quanto a mesa que imaginamos, procura-se um financiamento para a realização do referido jantar.
Após muita procura, posso, enfim, dizer que encontrei uma solução!

Então caros amigos, a ideia é a seguinte:
A minha avó, habitante de uma aldeia quase deserta, de apenas uma dezena de conterrâneos é possuidora de alguns terrenos bastante íngremes e pedregosos (bem típicos na região da Serra da Estrela). Pois bem, esses terrenos não estão a ser tratados, nem cultivados (diria mesmo, ao abandono), bem como os terrenos vizinhos.
Assim, tive a ideia de construir uma auto-estrada naqueles terrenos! Negócio extremamente lucrativo, senão vejamos:
  • O interior português precisa de mais quilómetros de auto-estrada, sob o nome do desenvolvimento. Ora, uns hectares alcatroados serão sem dúvida um desenvolvimento enorme para a terra e para a região!
  • Sob o desígnio do desenvolvimento, podemos expropriar mais alguns hectares aos vizinhos da minha avó e assim aumentar o número de quilómetros alcatroados.
  • Ainda sob o desígnio do desenvolvimento e pela dificuldade que é construir uma estrada naquela região podemos conseguir algumas verbas a fundo perdido, vindas da Europa e do Estado Português!
  • Claro que o interior também tem direito a ter asfalto 5 estrelas, como o litoral. Essa será a qualidade da estrada a construir, o que envolverá mais custos, logo mais verbas do Estado e da Europa!
  • Como será um investimento enorme, teremos que obter retorno do investimento com portagens. Mas o custo da portagem terá que ser elevado, porque não nos podemos habilitar a que o Sr.Joaquim, futuro-antigo-proprietário das terras, as queira usar novamente atravessando a autoestrada com as suas cabritas e o burro, estragando o asfalto 5 estrelas!
  • Mas, atenção! O negócio não fica por aqui... Teremos também que encomendar um estudo para saber quantos veículos passarão pela nossa auto-estrada e já que o estudo é encomendado por nós, podemos lançar um número nunca inferior a 100mil carros por ano!
  • Ora, com esse número, podemos sempre propor ao Governo uma concessão da auto-estrada. Nessa concessão colocaremos uma cláusula em que em virtude do risco do negócio, teremos que ser compensados pelo Estado caso não se atinjam os 100mil carros por ano e se por ventura os alcançarmos não teremos que ressarcir ninguém!
  • Ah e quando houver obras, queremos um novo financiamento e obrigaremos todos os utentes a pagar a portagem na sua totalidade!
Digam lá que o negócio não será extremamente lucrativo? Assim teremos o financiamento necessário para o nosso mega-jantar!

A parte lamentável do negócio é a pouca criatividade porque é assim que já se constroem auto-estradas em Portugal...

sábado, 12 de setembro de 2009

Círculos eleitorais... saga continua

Mais uma aberração do nosso sistema eleitoral:
Nunca aconteceu em Portugal, mas o sistema eleitoral abre as portas a uma equação confusa e de difícil saída: um partido pode ter mais votos, mas acabar com menos deputados no Parlamento. As sondagens recentes mostram o alto grau de disputa e imprevisibilidade das eleições de 27 de Setembro. Uma extrapolação dessas previsões, feita para o PÚBLICO pelo politólogo José António Bourdain, revela que esse cenário é possível.

Como? Devido ao sistema de representação proporcional, há sempre votos nos círculos eleitorais (distritos) que não chegam para eleger deputados. Quanto mais votos sobrarem, maior a possibilidade de um partido ter mais votos mas menos deputados.
in Publico, 12.09.2009
Já antes tinha mencionado em Sistema de votação para o parlamento, que os círculos eleitorais são um ataque à democracia, uma vez que há muitos votos desperdiçados e o parlamento não reflecte as verdadeiras escolhas dos eleitores. Nestas eleições, vamos ter a oportunidade de ver o sistema a funcionar excepcionalmente mal.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Política e as suas claques

Encontrei aqui algo que há muito queria escrever. O clubismo na política está muito próximo de algo anti-democrático. Mas é um fenómeno crescente, dentro da própria classe política. Citando o João Ricardo Vasconcelos,

"Autênticas claques aparecem do nada e tomam conta dos espaços de discussão. Enxovalhar os outros e exaltar o grande líder assume-se como único objectivo."

A cegueira, a obsessão e por vezes até o ódio dominam discussões politicas, ao invés da razão, da classe e da elegância, remetidas para fora do "estádio" onde o jogo político se desenrola. Tal como o JRV diz no final do post:

"É pena ver gente inteligente subitamente transformada em autênticas caixas de ressonância..."

Eu acrescentaria: é muito perigoso para o futuro do país.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Abaixo os feriados!

Sou contra os feriados. Completamente. Dão cabo de qualquer planeamento decente de aulas. Então quando nos calha na rifa ter aulas nos dias 1 e 8 de Dezembro...

Alguns, porventura, veriam nisto uma benesse (menos aulas para dar). Eu vejo um problema, não são muitas aulas (14) e menos duas faz diferença. A menos que eu não me importasse de não cumprir o programa, mas importo-me!

Se não me engano, feriados nacionais são 13:

1 - 1/Jan
2 - Carnaval (não sei se é ...)
3 - Sexta-Feira Santa
4 - Corpo de Deus
5- 25/Abril
6 - 1/Maio
7 - 10/Jun
8 - 15/Ago
9 - 5/Out
10 - 1/Nov
11 - 1/Dez
12 - 8/Dez
13 - 25/Dez

A maior parte deles não serve para nenhuma comemoração específica, apenas serve para tirar férias, fazer pontes, ter tolerâncias de ponto (o conceito mas idiota da nossa cultura de bandalheira). Se assim é, então transformem-nos em dias de férias móveis, em vez de feriados inúteis. Eu ficaria apenas com os 5 seguintes, os quais não colidiriam com as aulas (talvez apenas o 10/Jun):

1 - 1/Jan
2 - Carnaval
3 - Sexta-Feira Santa
4 - 10/Jun
5 - 25/Dez

Todos os demais passariam para o Domingo seguinte, alguns desapareceriam completamente, tal a sua falta de sentido (alguém comemora o 1/Dez?).

Os demais 8 passariam a dias de férias extra, a gozar em qualquer altura do ano.

Isto merecia um referendo!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O futuro do SNS

Segundo Manuela Ferreira Leite (MFL), no debate com Louçã, o programa do PSD para o SNS é mínimo e baseia-se em suprir faltas/ineficiencias do SNS com out-sourcing, pago pelo Estado, a privados. Tudo a bem de uma prestação de serviços de saúde de forma rápida e eficaz.

Imagine que tem uma empresa. Imagine que nessa empresa tem um funcionário (colaborador, diz-se agora...) que não faz o seu trabalho de forma competente ou que alega razões para o não fazer. Imagine que a solução do seu problema, enquanto empregador, é manter o funcionário inútil e contratar uma empresa em regime de out-sourcing para fazer o trabalho desse funcionário. Imagine ainda, para terminar, que esse funcionário presta serviço para essa empresa, onde cumpre zelosamente com as suas obrigações. Pronto, pode parar de imaginar, a metáfora está terminada. Acrescento apenas que esta metáfora se baseou num exemplo real concreto e que o pagador, claro está, eramos todos nós (o Estado).

No entanto, é isto que a MFL propõe para o SNS. Como o mesmo não presta bom serviço (por vezes por simples desorganização mas normalmente não por falta de meios), paga-se a privados para fazer o mesmo mas bem e depressa, privados esses que podem envolver os mesmos médicos que no SNS não são tão eficientes.

Eu sei que a qualidade é estimulada pela remuneração, e que os bons médicos podem cobrar bem porque sabem que os doentes ficam satisfeitos. Portanto, uma política de premiar a qualidade com um salário mais elevado é benéfica para aumentar a qualidade do serviço prestado. Mas o mecanismo proposto pela MFL nada resolve, porque continua a pagar a ineficiência enquanto paga celeridade (?) e qualidade (?), paralelamente, quando deveria, com incentivos, diminuir a ineficiência premiando a qualidade.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Mais uma pedrada, para ninguém se ficar a rir...

E agora a lista do PS... que diga-se foi um pouco mais difícil de fazer!

Aveiro: Maria de Belém Roseira - entre esta senhora e o Carlos Candal, os cagaréus bem que preferem o Carlos Candal é claro!! Esta senhora nada tem a ver com Aveiro!
Beja: Luís António Pita Ameixa - o nome não engana, é alentejano! A medalha de mérito de Ferreira do Alentejo dá-lhe a obrigação de fazer um bom trabalho em prole do Alentejo!
Braga: António José Seguro - Penamacor e Gouveia não são do distrito de Braga! Mas devo dizer que considero este homem a melhor alternativa ao Eng. Sócrates pelo PS.
Bragança: José Carlos Correia Mota de Andrade - filho da terra, mas a profissão de Engenheiro Civil deixa-me de orelha atrás... (nada contra os Engenheiros Civis, apenas contra o Eng. Sócrates...)
Castelo Branco: José Sócrates - será que devo acreditar no que me dizem do CV deste homem?! Devo confessar que não gosto, nem acredito neste homem, ponto final!
Coimbra: Ana Jorge - também devo confessar uma certa admiração por esta senhora, pelo menos em comparação com o seu antecessor! Mas diga-se que de Coimbra também só deve conhecer o Pediátrico aquando da inauguração!
Évora: José Carlos das Dores Zorrinho - alentejano e com cargos na Univ. Évora. Muito bem!
Faro: João Soares - mais um saltimbanco! Deve conhecer o Algarve, deve... de férias!
Guarda: Francisco Assis - este homem ainda existe?! Ainda não acabaram com esta anedota?! Deve ser o nome e com isso estão à espera de milagres... Se Felgueiras lhe atirou lixo à cabeça, o que lhe atirarão os egitanienses??
Leiria: Luís Amado - Leiria deve dizer-lhe muito... só se for a base aérea de Monte Real, quando foi Ministro da Defesa... Imaginem que já foi Deputado Regional da Madeira, Ministro da Defesa e actualmente é MNE, mas o ponto alto é ser amigo do Kaddafi!
Lisboa: Jaime Gama - grande currículo... para um filósofo! É de Lisboa.
Portalegre: Júlio Francisco Miranda Calha - é de Portalegre e foi eleito por Portalegre! Começo a achar que quem sabe disto são os alentejanos... pouco falham nos candidatos filhos da terra!
Porto: Alberto Martins - nasceu em Guimarães, estudou em Coimbra e trabalha em Lisboa... o Porto também não lhe deve dizer muito...
Santarém: Jorge Lacão Costa - Santarém não é Almada, mas deve ser um deserto... para combater o extraterrestre Pacheco Pereira, nada mais nada menos que outro extraterrestre, por sinal alentejano!
Setúbal: José António Vieira da Silva - a ver se eu consigo adivinhar o pensamento do líderes do PS... Setúbal - Autoeuropa; Autoeuropa - trabalho; trabalho - Ministro do Trabalho! Seja ele de que terra for...
Viana do Castelo: Rosalina Maria Barbosa Martins - é filha da terra e minha colega! Espero vê-la na Assembleia a debater-se pelos seus ideais, nem que eles vão contra os ideais do partido!
Vila Real: Pedro Silva Pereira – “o lacaio”, em 2005 também foi eleito por Vila Real, mas será que Vila Real se revê neste deputado lisboeta? Só por curiosidade, sabiam que este senhor foi director de informação da TVI entre 1992 e 1996? Curioso, não?
Viseu: José Junqueiro - filho da terra.
Açores: Ricardo Manuel Amaral Rodrigues - um filho da terra que exerceu alguns cargos no Governo Regional dos Açores e também já foi eleito deputado pelo círculo dos Açores. A ver se desta vez ajuda trabalha como deve ser na redacção do Estatuto dos Açores!
Madeira: Bernardo Trindade - madeirense e actual Secretário de Estado do Turismo, não está mal...
Europa: Paulo Pisco - este assessor de imprensa é licenciado em Estudos Europeus, o que não me parece mal, mas é o "pisco" maior é a sua n.º2... Maria de Lurdes Rodrigues!
Fora da Europa: Renato Leal - um açoriano. Há quem diga que os Açores são zona periférica da Europa, mas daí a considerá-los Fora da Europa?! Num círculo que inclui a Venezuela, Fernando Serrasqueiro não seria melhor escolha? Os seus conhecimentos junto de Hugo Chávez deviam valer-lhe uma eleição limpinha...

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Política de verdade

Mais uma vez, vejo-me completamente perdido no que toca à minha decisão de voto nas próximas eleições legislativas. É preciso mudança, sem dúvida. Mas mudar para melhor. E aí reside o meu problema: não vejo isso acontecer na oposição actual ao governo.

Vejamos: PP (entenda-se: Paulo Portas) é um bom demagogo, sem dúvida, mas para governar precisamos de algo mais que demagogia. PCP está claramente desenhado para estar na oposição. Bloco de Esquerda parece um mistura estranha dos dois anteriores: demagogia a rodes mas ainda assim útil na oposição.

Resta-me o PSD. E aí está um grande dilema para mim. Existem no PSD inúmeros indivíduos com capacidade para governar (bem) o nosso país - tal como no PS - mas, sinceramente, não penso que Manuela Ferreira Leite esteja entre esse grupo de pessoas. Por várias razões, uma delas sendo o vago programa do PSD apresentado para estas eleições. Ao ler o programa, eu vejo um conjunto de "visões", boas em geral, mas muito pouco de concreto. Tudo muito vago. Tudo muito no ar. Noto, sobretudo, uma clara tentativa de não se comprometerem com nada, para depois terem margem de manobra. Para que depois ninguém possa cobrar erros e metas por atingir. É uma estratégia, válida como muitas outras.

Eu prefiro alguém que se exponha ao erro. Prefiro alguém que se comprometa com as suas ideias, com as suas visões. Alguém que apresente propostas concretas sobre como atingir as suas metas. Eu prefiro alguém que arrisque o seu nome politico em prol das suas ideias, dos seus ideais. Eu prefiro alguém com coragem, alguém que se exponha porque acredita que pode melhorar o país.

Não vejo isso em Manuela Ferreira Leite. Vejo sim um enorme esforço em agradar ao eleitorado, mas pouca arte em fazê-lo. Por exemplo, vejamos a questão da privatização da segurança social. Manuela Ferreira Leite mentiu no debate com Francisco Louça, ao afirmar que não defende a privatização desta instituição. Basta ler o programa do PSD e ver que a reforma dos Portugueses deve ser crescentemente encarada como uma responsabilidade individual. Isto para não falar das suas declarações em 2008, quando questionada pelos deputados do PSD sobre as funções do Estado, respondeu que começaria por privatizar "aqueles sectores em que os privados já estão, como a saúde a educação". Em que ficamos? Qual é afinal a sua visão, o seu ideal? Ganhar as eleições, certo.

Depois temos as declarações recentes, na visita à Madeira:

A líder do PSD rejeitou a crítica de que existe "asfixia democrática" neste arquipélago, argumentando que "quem legitima o poder é o voto do povo e não está ninguém aqui por imposição, é em resultado dos votos". "Acho que há asfixia democrática no continente", adiantou(...)

Ah, mas então o actual governo foi imposto à força, ou foi eleito pelos espanhóis? Penso que nem vale a pena alongar-me sobre estas declarações, elas são auto-suficientes.

Depois temos afirmações em que diz que não importa se as acusações são verdadeiras, o que importa é a suspeição levantada. Para a auto-proclamada defensora da Politica de Verdade, estas afirmações não fazem muito sentido. Mais uma vez, parece-me pura demagogia. Mas já agora, fica aqui uma coincidência curiosa, que me chegou via a Câmara de Comuns:



Curioso, não é? Não tento com isto afirmar que a Manuela Ferreira Leite seja fascista! Quero apenas alertar para o perigo que advém da demagogia. E também salientar a importância de escolher alguém que se comprometa com as suas ideias, que se comprometa com propostas concretas.

Vamos ver o que acontece nos próximos dias. Talvez Sócrates me convença, talvez Manuela Ferreira Leite mostre que estou enganado. Não me interessa qual, desde que uma delas se verifique. Apenas quero poder votar em alguém em que acredito ser o melhor, e não apenas o menos mau.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Gostei tanto da última pedrada que cá vai mais uma...

... afinal sou um típico português... que gosta de atirar pedras! E se for para o telhado do vizinho, tanto melhor!

Inspirado pelo despedimento da MMG e na tentativa de me convidarem para a apresentação do Jornal Nacional de Domingo (Sim, porque à 6a estou ocupado!), decidi encetar uma investigação! Fui abrindo as listas dos dois maiores partidos aos diversos distritos e tentei saber em quem os portugueses vão votar no próximo dia 27 (ainda ninguém se tinha lembrado desta, pois não?).

Começo pelo PSD:
Aveiro: Fernando Couto dos Santos - bem procurei no seu currículo uma possível ligação a Aveiro, mas nada... Da Veneza portuguesa apenas deve conhecer o hotel Meliá.
Beja: João Paulo Ramôa - Alentejano de gema... tudo o que fez teve como epicentro Beja. Muito bem!
Braga: João de Deus Pinheiro - andou muito tempo pela Europa... que deve ter confundido Braga com Praga ou assim...
Bragança: José Ferreira Gomes - ele bem que andou lá perto... Nasceu em Penafiel, estudou e trabalhou no Porto, tirou o Mestrado na Catalunha, mas Trás-os-Montes???
Castelo Branco: Carlos Costa Neves - um açoriano, ex-presidente do CA da SATA, Secretário
de um montão de coisas nos Governos dos Açores, até chegou a Ministro da Agricultura, Pescas e Florestas... só se foi aqui que conheceu Castelo Branco!
Coimbra: Paulo Mota Pinto - filho da terra! Muito bem! Já dos seus companheiros de lista... bem, adiante!
Évora: Luís Capoulas - filho da terra! Foi Governador Civil do distrito e vereador da Câmara de Évora. Muito bem!
Faro: Jorge Bacelar Gouveia - no seu CV só se vê Lisboa, o que não quer dizer que não conheça o Algarve, pelo menos em férias. Mas até concordo com esta designação, com a sua vasta experiência no Instituto de Estudos Superiores de Ciências Militares e no Sistema de Informações da República Portuguesa, ainda vai encontrar a Maddie!!
Guarda: António Carlos Peixoto - filho da terra e Gouveia é capaz de chorar a sua partida!
Leiria: Teresa Morais - Loures e Lisboa, começam por L, mas não têm nada a ver com Leiria!
Lisboa: Manuela Ferreira Leite - nada a dizer...
Portalegre: Cristovão Crespo - filho da terra que chegou a Governador Civil do distrito. Muito bem!
Porto: José Pedro Aguiar-Branco - filho da terra e exerceu alguns cargos importantes no distrito e no país. Fica a dúvida se terão sido bem desempenhados.
Santarém: José Pacheco Pereira - que escândalo foi a retirada de Pedro Passos Coelho de cabeça de lista por este distrito proposto pelo PSD-Santarém, mas eu diria que foi ainda maior a imposição de Pacheco Pereira para o seu lugar! De Santarém, este homem deve conhecer a estação de serviço na auto-estrada!
Setúbal: Fernando Negrão - este senhor devia ter mudado de nome para Fernando "Dá o corpo ao manifesto!". Talvez pelo seu passado na PJ, esteja habituado a levar com as balas em candidaturas que mais ninguém quer! Bala por bala, candidata-se no distrito correcto!
Viana do Castelo: José Eduardo Martins - mais um lisboeta... vai usar Viana para ver se não sai de Lisboa.
Vila Real: António Montalvão Machado - no seu CV, surgem as cidades do Porto, Coimbra e Lisboa... e Vila Real?!
Viseu: José Luís Arnaut - Covilhã não pertence a Viseu, Lisboa também não! Estrasburgo tem muito a ver, mas quem sabe até tenha conhecido a realidade deste distrito enquanto Ministro do Ambiente?!
Açores: Mota Amaral - uma candidatura mais do que evidente!
Madeira: Alberto João Jardim - a candidatura fictícia! Até tenho pena... gostaria de ver este homem sentado numa cadeira da oposição uma vez na vida (oposição dentro do próprio partido não vale!)! Haviam de ser lindos aqueles debates do Estado da Nação!
Europa: Carlos Gonçalves - parece-me uma boa candidatura, tem trabalhado com no MNE e com as Comunidades Portuguesas.
Fora da Europa: José Cesário - um CV estranho para chegar a Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas e Secretário de Estado da Administração Local, mas pelo menos tem obrigação de conhecer os terrenos que pisa!

Só para atirar mais uma pedra...

... que é uma coisa tão típica dos portugueses, aqui vai uma pergunta:

Sabem porque é que as rotundas têm proliferado pelas nossas cidades como autênticos cogumelos?

Para alturas como esta, em que a cada rotunda temos meia dúzia de cartazes...
Já repararam na quantidade de lixo visual que temos agora nas nossas cidades? Como é que frases como "Avançar Portugal", "Política de Verdade", "Agora sim", "Nós conseguimos", "Nós fizemos", "Por Coimbra com Amor" (gosto particularmente desta última), e outras que tais, informam a população portuguesa?
Depois, como se não bastasse metem fotos enormes dos candidatos. Devem tentar eleger o mais feio! Eles são carecas, elas velhas, uns têm bigode, muitas também...

As empresas de marketing e de sondagens deviam estudar este fenómeno... quantos votos ganham os partidos com cada cartaz que exibem e já agora, quantos perdem...

Se me permitem, também queria fazer um pedido à CNE (Comissão Nacional de Eleições), multem todos aqueles que 15 dias depois das eleições ainda tenham cartazes espalhados na rua... é que já estou farto de que me peçam para votar no dia 7 de Junho... é que parece que não, mas já passaram 3 meses!!

E já que tenho a palavra neste momento, aqui vai outra pedrada...
Não gosto nada do Benfica, mas está visto que ele tem a solução para o nosso país! Ainda não foram as eleições e eles já ganharam a Taça CNE!

Porque não aproveitamos a ideia? Em lugar de andar 15 dias ou um mês a lavar a roupa suja em campanha eleitoral, porque não organizámos um torneio de futebol inter-partidário? Acabem com a campanha, os comícios, os debates e principalmente com os cartazes... O povo agradece, enche os estádios (vazios desde 2004), diverte-se um bom bocado a chamar nomes aos políticos, entre o vencedor do torneio e o vencedor das eleições pouca diferença deve fazer e no final de contas ainda podemos patentear a ideia, exportá-la por esse mundo fora e quem sabe fazer Milhões com a venda de um goleador Sócrates (já tem nome de futebolista) ou uma guarda-redes Manuela Ferreira Leite!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Jornal Nacional: mais sensacionalismo



Já por mais do que uma vez manifestei a minha opinião acerca do Jornal Nacional e, em particular, da Manuela Moura Guedes (aqui, aqui, aqui e ainda aqui - uau, não gosto mesmo da senhora...). Não é novidade para ninguém que reprovo por completo o jornalismo sensacionalista: ser jornalista representa ser uma ponte isenta entre a informação e os cidadãos, daí ser fundamental em democracia a existência da liberdade de imprensa, mas também de um código deontológico do jornalista. O problema é que, enquanto que algum ataque ao primeiro despoleta uma onda de contestação - e ainda bem!-, quando alguém desrespeita o segundo e é atacado por isso, recorre imediatamente ao primeiro, num estilo muito semelhante ao de virgens ofendidas. Adiante.

Fiquei muito surpreendido com a decisão de suspender o Jornal Nacional. Do ponto de vista de gestão económica, não faz sentido nenhum que a Direcção da TVI tenha decidido "deitar fora" um dos seus melhores activos (melhor, só as novelas). Talvez do ponto de vista ético faça algum, mas isso é outra história. Talvez haja a nova direcção tenha a intenção de acabar com a imagem sensacionalista da TVI e tenha decidido cortar o mal pela raiz. Sinceramente, não acredito.

Algo de estranho aconteceu, parece-me claro. Mas já há algum tempo se ouviam rumores que quem vinha segurando a Manuela Moura Guedes e o seu "jornalismo" era o seu marido. O "clima" não era bom. Algo aconteceu, certamente.

É natural e expectável que entre a população se comente a possibilidade de este "despacho" ter sido encomendado pelo governo. Faz parte da nossa essência portuguesa: gostamos de novelas (daí termos a TVI como líder das audiências). Que alguns meios de comunicação sensacionalistas embarquem nessa onda, também me parece natural (afinal, como a Manuela provou, as novelas é que dão audiências). O que eu não esperava é ver a classe politica e de analistas politicos assumirem de imediato que a novela é verdadeira. Vejamos:


Vejamos então alguns títulos em blogs de opinião politica, bastante conceituados:


Deixem-me cá lançar polémica: e se Sócrates e o PS nada têm haver com a suspensão? UI! Que maluqueira!

De facto, acho que o que temos assistido à volta deste caso mostra uma democracia doente. Sobretudo porque os próprios defensores ofendidos da liberdade desprezam a liberdade de quem talvez esteja inocente. Tal como dizia a Manuela Ferreira Leite, não importa se as acusações são verdadeiras, o que importa é a suspeição levantada. É exactamente o mesmo principio usado pelas beatas, para quem um boato é a realidade e a realidade muitas vezes um boato. Isto assusta-me. Mesmo. Assusta-me a facilidade com que se fazem este tipo de acusações, quase à lá "Teoria da Conspiração".

Depois temos a Manuela Moura Guedes a lançar mais polémica: "Temos pronta uma peça sobre o Freeport". Para bem da nossa democracia, espero que essa peça seja emitida. O mais rápido possível. E que não se faça uma nova novela depois dessa transmissão, argumentando censura no conteúdo da peça.

Mas de facto é muito estranho. É estranho a TVI desperdiçar o seu melhor activo noticioso. É estranho acabarem com o serviço noticioso que mais tem vindo a criticar o governo português a poucos dias das eleições. Tão estranho como um governante português ter poder sobre uma entidade privada espanhola (PRISA) ou sobre a Media Capital. Tão estranho como um governo ser estúpido ao ponto de ter "calado" imprensa opositora a dias de eleições, menosprezando a mais que expectável onda de vozes a acusá-los de censura e o consequente impacto nas intenções de voto.

Muito estranho, não é? Vamos escrever uma novela para a TVI colocar no ar às sextas, às 21h?

Precisa-se de matéria prima para construir um País

«A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país:
- Onde a falta de pontualidade é um hábito;
- Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
- Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.
- Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
- Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.
- Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.
- Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.
- Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
- Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.
Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.
Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA' congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana,
mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte...
Fico triste.
Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada...
Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa ?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror ?
Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.
Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos: Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável,
não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.
Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.
AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.
E você, o que pensa ?... MEDITE !»

EDUARDO PRADO COELHO - in Público
Já há algum tempo que o hoje falecido Eduardo Prado Coelho escreveu este texto. Recebi-o hoje novamente por e-mail e achei por bem publicá-lo. Vai ao encontro de muito do que aqui se tem escrito.