Por diversas vezes, li aqui a expressão da vontade de muitos em passarmos as discussões para um local mais físico que a virtualidade na internet, por exemplo: uma mesa bem farta de comida e bebida!
Considerando que estamos a atravessar uma crise profunda e que os bolsos de todos não se encontram tão recheados quanto a mesa que imaginamos, procura-se um financiamento para a realização do referido jantar.
Após muita procura, posso, enfim, dizer que encontrei uma solução!
Então caros amigos, a ideia é a seguinte:
A minha avó, habitante de uma aldeia quase deserta, de apenas uma dezena de conterrâneos é possuidora de alguns terrenos bastante íngremes e pedregosos (bem típicos na região da Serra da Estrela). Pois bem, esses terrenos não estão a ser tratados, nem cultivados (diria mesmo, ao abandono), bem como os terrenos vizinhos.
Assim, tive a ideia de construir uma auto-estrada naqueles terrenos! Negócio extremamente lucrativo, senão vejamos:
- O interior português precisa de mais quilómetros de auto-estrada, sob o nome do desenvolvimento. Ora, uns hectares alcatroados serão sem dúvida um desenvolvimento enorme para a terra e para a região!
- Sob o desígnio do desenvolvimento, podemos expropriar mais alguns hectares aos vizinhos da minha avó e assim aumentar o número de quilómetros alcatroados.
- Ainda sob o desígnio do desenvolvimento e pela dificuldade que é construir uma estrada naquela região podemos conseguir algumas verbas a fundo perdido, vindas da Europa e do Estado Português!
- Claro que o interior também tem direito a ter asfalto 5 estrelas, como o litoral. Essa será a qualidade da estrada a construir, o que envolverá mais custos, logo mais verbas do Estado e da Europa!
- Como será um investimento enorme, teremos que obter retorno do investimento com portagens. Mas o custo da portagem terá que ser elevado, porque não nos podemos habilitar a que o Sr.Joaquim, futuro-antigo-proprietário das terras, as queira usar novamente atravessando a autoestrada com as suas cabritas e o burro, estragando o asfalto 5 estrelas!
- Mas, atenção! O negócio não fica por aqui... Teremos também que encomendar um estudo para saber quantos veículos passarão pela nossa auto-estrada e já que o estudo é encomendado por nós, podemos lançar um número nunca inferior a 100mil carros por ano!
- Ora, com esse número, podemos sempre propor ao Governo uma concessão da auto-estrada. Nessa concessão colocaremos uma cláusula em que em virtude do risco do negócio, teremos que ser compensados pelo Estado caso não se atinjam os 100mil carros por ano e se por ventura os alcançarmos não teremos que ressarcir ninguém!
- Ah e quando houver obras, queremos um novo financiamento e obrigaremos todos os utentes a pagar a portagem na sua totalidade!
A parte lamentável do negócio é a pouca criatividade porque é assim que já se constroem auto-estradas em Portugal...
Durante anos, a construção de autoestradas foi a galinha dos ovos d'oiro de alguns "felizardos", os mesmo de sempre. Dá que pensar, não dá?
ResponderExcluirDá que pensar que na Alemanha, por exemplo, todas as autoestradas sejam totalmente gratuitas. Dá que pensar que nos USA, a capital do capitalismo, eu paguei 4 dólares para viajar de Boston a Nova Iorque, algo semelhante a uma viagem Porto-Lisboa.
Dá que pensar que nos digam a EN109 é uma alternativa válida à A29. Dá mesmo que pensar. Estradas construídas com dinheiro público, que serão pagas (e bem pagas) pelos contribuintes que contribuem para esse dinheiro público.