sexta-feira, 30 de abril de 2010

Quem é ela?!

Ontem, o Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações referiu-se ao Governo como sendo "uma pessoa de bem" que procura honrar os seus compromissos...

Quem é ela, Sr. Ministro?

terça-feira, 27 de abril de 2010

Viva Portugal!

Porque estamos na ressaca do 25 de Abril, da comemoração da liberdade, democracia e claro de Portugal...seguindo a linha de raciocínio do post anterior, gostava de partilhar convosco uma grande gargalhada!
Por muito que digam, não há nada melhor que a nossa Terra! Melhor? Só aos olhos dos nossos poetas:

Excerto de "A Cidade e as Serras" CAP VII:

Muito desagradavelmente me recordo do dia dos seus anos, a 10 de Janeiro. Cedo, de manhã, recebera, com uma carta de Madame de Trèves, um açafate de camélias, azaléas, orquídeas e lírios-do-vale. E foi este mimo que lhe recordou a data considerável. Soprou sobre as pétalas o fumo do cigarro e murmurou com um riso de lento escárnio:
-Então há trinta e quatro anos eu ando nesta maçada?
E como eu propunha que telefonássemos aos amigos para beberem no 202 o Champanhe do “Natalício” - ele recusou, com o nariz enojado.
-Ó! Não! Que horrível seca!... - E bradou mesmo para o Grilo: - Eu hoje não estou em Paris para ninguém. Abalei para o campo, abalei para Marselha... Morri!
E a sua ironia não cessou até ao almoço perante os bilhetes, os telegramas, as cartas, que subiam, se arredondavam em colina sobre a mesa de ébano, como um preito da Cidade. Outras flores que vieram, em vistosos cestos, com vistosos laços, foram pôr ele comparadas às que se depõem sobre uma tumba. E apenas se interessou um momento pelo presente de Efraim, uma engenhosa mesa, que se abaixava até ao tapete ou se alteava até ao teto - para quê, senhor Deus meu?
Depois do almoço, como chovia sombriamente, não arredamos do 202, com os pés estendidos ao lume, em preguiçoso silêncio. Eu terminara pôr adormecer beatificamente. Acordei aos passos açodados do Grilo... Jacinto, enterrado na poltrona, com umas tesouras, recortava um papel! E nunca eu me compadeci daquele amigo, que cansara a mocidade a acumular todas as noções formuladas desde Aristóteles e a juntar os inventos realizados desde Terâmenes, como nessa tarde de festa, em que ele, cercado de Civilização nas máximas proporções, para gozar nas máximas proporções a delícia de viver, se encontrava reduzido, junto ao seu lar, a recortar papéis com uma tesoura!
O Grilo trazia um presente do Grão-Duque - uma caixa de prata, forrada de cedro, e cheia dum chá precioso, colhido, flor a flor, nas veigas de Kiang-Sou pôr mãos puras de virgens, e conduzido através da Ásia, em caravanas, com a veneração duma relíquia. Então, para despertar o nosso torpor, lembrei que tomássemos o divino chá - ocupação bem harmônica com a tarde triste, a chuva grossa alagando os vidros, e a clara chama bailando no fogão. Jacinto acendeu - e um escudeiro acercou logo a mesa de Efraim para que nós lhe estreássemos os serviços destros. Mas o meu Príncipe, depois de a altear, para o meu espanto, até aos cristais do lustre, não conseguiu, apesar de uma suada e desesperada batalha com as molas, que a mesa regressasse a uma altura humana e caseira. E o escudeiro de novo a levou, levantada como um andaime, quimérica, unicamente aproveitável para o gigante Adamastor. Depois veio a caixa do chá entre chaleiras, lâmpadas, coadores, filtros, todo um fausto de alfaias de prata, que comunicavam a essa ocupação, tão simples e doce em casa de minha tia, fazer chá, a majestade dum rito. Prevenido pelo meu camarada da sublimidade daquele chá de Kiang-Sou, ergui a chávena aos lábios com reverência. Era uma infusão descorada que sabia a malva e a formiga. Jacinto provou, cuspiu, blasfemou. Não tomamos chá.
Ao cabo de outro pensativo silêncio, murmurei, com os olhos perdidos no lume:
-E as obras de Tormes? A igreja... Já haverá igreja nova?
Jacinto retomara o papel e a tesoura:
-Não sei... não tornei a receber carta do Silvério... Nem imagino onde param os ossos... Que lúgubre história!
Depois chegou a hora das luzes e do jantar. Eu encomendara pelo Grilo ao nosso magistral cozinheiro uma larga travessa de arroz-doce, com as iniciais de Jacinto e a data ditosa em canela, à moda amável da nossa meiga terra. E o meu Príncipe à mesa, percorrendo a lâmina de marfim onde no 202 se escreviam os pratos a lápis vermelho, louvou com fervor a idéia patriarcal:
-Arroz-doce! Está escrito com dois ss, mas não tem dúvida... Excelente lembrança! Há que tempos não como arroz-doce! Desde a morte da avó.
Mas quando o arroz-doce apareceu triunfalmente, que vexame! Era um prato monumental, de grande arte! O arroz, maciço, moldado em forma de pirâmide do Egito, emergia duma calda de cereja, e desaparecia sob os frutos secos que o revestiam até ao cimo onde se equilibrava uma coroa de Conde feita de chocolate e gomos de tangerina gelada! E as iniciais, a data, tão lindas e graves na canela ingênua, vinham traçadas nas bordas da travessa com violetas pralinadas! Repelimos, num mudo horror, o prato acanalhado. E Jacinto, erguendo o copo de Champanhe, murmurou como num funeral pagão:
-Ad Manes, aos nossos mortos!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

"O país do Eça"

"O país de Eça" é a descrição de Eça de Queirós, nos seus livros, do País em que viveu. As semelhanças entre o País do Sec. XIX enquadra-se no quotidiano dos nossos dias. E olhando, no fundo, Portugal não se modificou assim tanto. Aparte da modernização causada pela globalização e o desenvolvimento tecnológico, a sociedade continua mergulha em dogmas, doutrinas e numa mentalidade muito aquém do mundo.

Celebrou-se ontem o 25 de Abril, a viragem de uma nova era. Recordar Abril é relembrar o apogeu da música popular portuguesa no seu papel de dar a voz num tempo sem liberdades, é rever a emoção do povo como pais de um recém-nascido. Recordar é viver, mas também é aprender. A revolução dos cravos triunfou! Conseguimos restabelecer a democracia e reencontramos o caminho para uma nova realidade. Então questiono-vos: Passados 36 anos, terá mesmo a revolução triunfado? Não querendo questionar sobre a viragem para a democracia, mas sim a viragem da mentalidade do povo.

O que faltou, na minha opinião, à revolução foi um pequeno factor que ainda nos pena. Vivemos 48 anos numa ditadura militar, onde a população era oprimida, comandada, sem consciência nos seus actos como uma criança cujos pais têm a sua responsabilidade. Salazar torna-se para o País como esse pai, tomando conta e comandando sobre opressão. Essa opressão ainda é visível no rosto da sociedade portuguesa, o receio dos políticos, de um controlo que não existe em liberdade e é nessa consciência que o movimento falhou, a consciência democrática ou o sentido crítico. Não se molda um País em um par de dias, nem se faz uma nação em 2 anos. Ao povo não se soube ensinar o que significa voto, poder popular, república, democracia, nem se soube criar condições de punição de maneira a controlar a corrupção. Explicar-lo, em texto, torna o argumento fraco, mas é só olhar para os nossos políticos que num dia de celebração de um marco, discursam em tom eleitoral em vez de respeitarem os partidos na Assembleia da República.

A história é clara e irrefutável. Camões retratou, através do "Velho do Restelo", a euforia do povo em busca de riqueza; Gil Vicente, pai do teatro português, representou a falsidade das promesas dos governantes e a mentalidade; Eça de Queirós contou-nos, em histórias, as tentativas de imitação falhadas da sociedade; Ary dos Santos cantou, em prosa, as angústias do povo na procura da liberdade.
Na nossa história há sempre um factor em comum: corrupção, e não basta punir nem banir, mas sim ensinar a mudar. E por sermos humanos e fracos erramos quando falamos que os ideais de Abril concretizaram-se. Afinal ainda estamos bastante longe dessa "utopia".

Na canção "O País de Eça" de Ary dos Santos (http://www.youtube.com/watch?v=9uPIX6-6I1o) no final canta-nos assim:
"Há cem anos que eu canto esta canção/sem cabeça porém no coração/porque um país do Eça de Queirós/ainda é o país de todos nós"

Relembrar Abril é recorda, é viver, é sonhar. Este é o País do Eça, do Fernando Pessoa, do Ary, do Camões. Este é o nosso País.

sábado, 17 de abril de 2010

Subsídio de Desemprego + Serviço Cívico = Emprego Cívico

O desemprego é um flagelo social e actualmente afecta quase 1 em cada 5 portugueses. É sem dúvida um problema de difícil solução que estará no topo da agenda deste governo e do próximo que virá. Para além do impacto que tem na economia global do país, o desemprego é causa de grande parte dos problemas sociais.

Na minha opinião não existe nenhuma solução que efectivamente diminua o desemprego a curto prazo. No entretanto é necessário apoiar as pessoas que por motivos alheios (falência, doença, problemas familiares, etc.) ficaram sem o seu trabalho e não conseguem ou não podem no imediato encontrar outro. A este grupo de pessoas é essencial o subsídio de desemprego.

Nenhum conjunto de regras ou deveres é perfeito ou infalível e o nosso sistema de atribuição de subsídios não foge à regra. Tenho observado um grande número de pessoas que usam o subsídio de desemprego indevidamente. Um exemplo típico é o do acordo do despedido: O patrão e o empregado acordam numa rescisão "amigável", sem indemnização, mas com direito a despedimento que será usado posteriormente para requerer subsídio. Este tipo de acordo ocorre principalmente no sector industrial. O patrão fica satisfeito porque o empregado era pouco produtivo ou redundante. Por seu lado o empregado já estava a ficar farto do trabalho e um descanso vinha mesmo a calhar.

Neste tipo de situações acredito que responsabilizar o patrão é a solução mais correcta. Uma parte da indemnização que um empregado tem direito quando é despedido deveria ser usada como subsídio de desemprego caso este necessitasse. Assim o patrão, caso decidisse entrar com o despedimento, seria responsável por pagar, por exemplo, os primeiros 3 meses do subsídio de desemprego. Desta forma o "acordo do despedido" traria desvantagens para o patrão e não se concretizaria. Desta forma haveria uma maior selecção do número de pessoas no subsídio, para não falar num aliviamento financeiro nas contas do estado.

Para aqueles que realmente necessitam do subsídio, penso que deveria se instituir um novo termo: Emprego Cívico. Porque desemprego é uma palavra muito carregada e trabalho comunitário dá ideia de reformatório eu proponho uma nova definição. Não se trata de dar uma lição aos desempregados, pobres ou aos mais desfavorecidos. Trata-se de uma contratação em tempo parcial para a realização de diversos trabalhos em instituições públicas. Este tipo de trabalho não deve dificultar a procura de um novo emprego e serviria para o desempregado se sentir útil e justificar o apoio que a sociedade lhe presta.




sexta-feira, 9 de abril de 2010

Administradores bem pagos

Quando a comunicação social tenta atacar os administradores de empresas públicas por receberem milhões de euros num ano, os seus argumentos falham e soam a oco. Afinal os administradores cumpriram e excederam os objectivos. Como é que é possível argumentar esse facto?
A realidade é que é possível analisar do ponto de vista de científico o que é um salário justo, desde que se tenha a métrica adequada. No artigo New theory on fairness in economics targets CEO pay, a entropia é usada para medir a justiça do salários dos CEO, nomeadamente comparando a razão entre o salário do CEO e o salário mais baixo na empresa.
Esta simples métrica tem implicações fortes em relação à estabilidade e sustentabilidade económica da empresa, uma vez que limita os riscos desnecessários em troca de um bónus chorudo.
A análise no artigo aponta para que um salário ideal de um CEO se situe entre 8 e 16 vezes o salário mais baixo da empresa.
Por tanto, da próxima vez quiserem argumentos contra os salários de milhões, basta pergunta quando é que ganha o trabalhador com o menor salário da empresa.
Como referência, o artigo aponta para razões médias de 11/1 no Japão, 15/1 em França, 2o/1 no Canadá e 344/1 nos EUA.