sexta-feira, 31 de julho de 2009

Que futuro para os nossos doutorados?



O investimento na formação de doutorados tem vindo a intensificar-se nos últimos anos, fruto de uma política virada para o desenvolvimento científico, de forma a acompanhar os restantes países da Europa.
Contudo, chegamos a um ponto em que o país não consegue absorver a grande quantidade de doutorados que se formam todos os anos e o desemprego científico torna-se uma realidade. Sucedem-se os pós-doutoramentos, geralmente com contratos inferiores ou iguais a 3 anos, sem grandes perspectivas de no final obter um emprego científico. Esta situação piora quando grande parte dos bolseiros nem direito a subsídio de desemprego tem, quando lhes terminam os contratos. No entanto o governo prevê contratar 1000 doutorados entre 2007 e 2009, oferecendo contratos de 5 anos contrastando com os existentes para bolsas de pós-doutoramento. Será uma boa medida? Talvez resolva o problema “pela rama”…

Penso que chegou a hora de as empresas começaram a encarar com “bons olhos” a contratação de doutorados. É frequente esboçaram-se os seguintes contra-argumentos:
1) Excesso de currículo, resultando num investimento dispendioso.
2) Não sabe trabalhar em equipa.
3) Tão profunda especialização que não trás nenhum beneficio para o empregador.
São todos, argumentos inválidos. O doutorado é uma pessoa que aprendeu a pensar, a argumentar, a escrever, a formular e resolver problemas. Aprendeu a conviver, sociabilizar e comunicar (e.g. quando sai em conferências ou quando apresenta algum trabalho). Aprendeu a trabalhar em equipa com seus pares e orientador, a respeitar as opiniões e a aceitar as críticas. Aprendeu a ultrapassar momentos de desmotivação, de frustração, de ansiedade e de tensão. Mais importante, são pessoas curiosas e capazes de aprender! Por todos estes motivos, não vejo qual o inconveniente para que as empresas não comecem a contratar os doutorados! Ah..talvez o dinheiro seja um problema…Então a solução é simples: que os contratem como a outro licenciado qualquer e a seu tempo mostrará o que vale.

Bom exemplo dos "nuestros hermanos"

O blog do Marco Batista alertou-me para esta notícia. O título é elucidativo:

"Repsol, Cepsa e BP multadas por fixarem preços"

Ficaria contente se esta advertência tivesse sido executada em Portugal. Não sendo, valha-nos a autoridade para a concorrência de "nuestros hermanos" esperando que as três empresas (que eu acredito que também detêm uma bela fatia dos nossos gastos petrolíferos) tomem consciência também no nosso país e desistam do cartel.

Por outro lado, também prefiro que tenham sido os espanhóis a pensar nisto primeiro: se a ideia tivesse sido do nosso lado a advertência seria executada quando os veículos se locomovessem a caroços de azeitona!...
(era o apontamento geek que faltava...)


quinta-feira, 30 de julho de 2009

A lógica da evolução do IE


Não, não se trata do Internet Explorer :-)

Trata-se do Índice de Edifícios, já por mim abordado numa outra mensagem neste blog (http://costarochosa.blogspot.com/2009/07/mao-amiga.html).

Intrigado pela evolução do IE nos últimos meses, resolvi fazer um estudo mais alargado da sua evolução ao longo do tempo face a outros indicadores macro-económicos, como a inflação. Em particular, confrontei a sua evolução trimestral (face ao ano anterior) com a evolução trimestral das taxas de inflação homólogas e a variação anual trimestral do IHPC (Índice Harmonizado de Preços no Consumidor, http://www.bportugal.pt/stats/download/a11.csv). Como estes valores são publicados pelo Banco de Portugal para cada mês, e o IE é actualizado trimestralmente, usei médias trimestrais para elaborar o gráfico que está no início desta mensagem.

Não é preciso ser sobredotado nem cientista da NASA para concluir que o IE (linha vermelha) varia em contra-ciclo com a inflação e com o IHPC (linhas azul e verde, respectivamente). O que não deixa de ser curioso, porque ele fundamentalmente reflecte uma variação no preço de reconstrução de um edifício, o qual estará naturalmente "em ciclo" com a inflação.
Qual será, então, a lógica da evolução do IE? Já fiz esta pergunta ao ISP (Instituto de Seguros de Portugal), explicando este meu raciocínio e enviando-lhes a folha de cálculo que usei para desenhar o gráfico, mas devem estar de férias porque ainda não me responderam. Se souberem, esclareçam-me (-nos).

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Regresso a Casa!

Finalmente chegou o dia em que atesto a mala do carro com as tralhas que juntei durante o último ano... Há quem lhe chame férias, mas eu, por razões óbvias, apelido este dia de "O Regresso a Casa".
No meio de tantos, que utilizam o mês de Agosto para regressarem à sua terra natal, eu ainda me considero um felizardo por percorrer "apenas" 300km e por ainda conseguir trabalhar em território nacional.
Mas há muitos (e parecem ser cada vez mais) aqueles que não se podem gabar do mesmo. Ao fim de tantos anos e de algumas gerações voltamos (se é que alguma vez o deixamos de ser) a ser um país de emigrantes.
À primeira vista, isto até nem seria um problema. A entrada de divisas, a experiência adquirida, a qualificação da mão de obra são apontados como os resultados positivos da emigração. Mas o contraponto parece-me extremamente pesado.
Vejo demasiados jovens a saírem do nosso país à procura de uma formação académica que de outra forma não a conseguiriam alcançar, vejo demasiados recém licenciados a sair do nosso país em busca de melhores condições de trabalho, vejo os milhões investidos na formação dos portugueses serem colocados do lado de lá da fronteira e aproveitados ao máximo pelos países estrangeiros (em muitas empresas, universidades e até governos) que esfregam as mãos de contentamento pela mão de obra altamente qualificada a custo zero, vejo muitos empregos serem ocupados por estrangeiros com formação duvidosa e vejo poucos regressos... cada vez menos regressos! Se no tempo dos nossos pais a história era a de partir, ganhar umas coroas e voltar à santa terrinha, hoje a história é partir para nunca mais voltar!
Não é pelo saudosismo que aqui escrevo, mas sim pela descrença e pelo desânimo que se apoderou do nosso país.
Olho em volta e não vejo projectos capazes de cativar os nossos emigrantes a voltar ou para manter os nossos jovens por terras lusas. Vejo aldeias a ficarem desertas e as grandes cidades com demasiada miséria. Vejo demasiado entusiasmo com o turismo que só me faz lembrar Cuba e a República Dominicana: hotéis com estrangeiros e pobreza e miséria nas ruas!
Solução? Não a tenho... pois se a tivesse já a tinha posto em prática, mas sinto que não é este o caminho que temos de tomar! Teremos que começar muita coisa de novo. Uma justiça capaz de eliminar a corrupção que mina os bons projectos, uma educação capaz de eliminar o "chico-espertismo" instalado, uma sociedade com valores de cooperação e solidariedade ao invés da falsa competitividade latente, da vida de aparências...
Apelo a um trabalho mais coordenado entre as Escolas e as Universidades e entre as Universidades e as Empresas tendo como principal objectivo a criação de projectos de excelência capazes de gerar emprego e assim uma maior riqueza, na tentativa de inverter a desertificação (de pessoas e de ideias) do nosso país!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Armando Sá Rodrigues

A 10 de Setembro de 1964 chega a Colónia o milionésimo "trabalhador convidado" pela República Federal da Alemanha: um carpinteiro português, Armando Sá Rodrigues.

Perplexo e embaraçado com a grande recepção, este senhor, natural de Vale de Madeiros vê-se rodeado de jornalistas... Ouve as palavras:
"Sem o trabalho adicional de estrangeiros, o nosso desenvolvimento económico nos últimos anos seria impensável."

A Alemanha é, provavelmente, o mais próspero grande país europeu. Destruída depois da guerra, dividida por muros (alguns mais visíveis que outros), renasce ainda assim. E há 40 anos atrás saudava com gratidão, aos olhos de um português, o trabalho do imigrante.

Hoje, depois dos tristes resultados da extrema direita nas europeias, é urgente um grito contra a xenofobia, é necessária a calorosa recepção, as boas-vindas àqueles que vieram para ajudar. Assim também se mostra a nossa dignidade enquanto país.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

The Crisis of Credit Visualized

Já há algum tempo que tinha estes vídeos na minha To Read List. Trata-se de uma explicação ilustrada através de vídeo das causas da crise do sub-prime (crédito para habitação de risco), que foi um dos grandes impulsionadores da actual crise económica.

Citando o autor, "The goal of giving form to a complex situation like the credit crisis is to quickly supply the essence of the situation to those unfamiliar and uninitiated."

Fantástico!



quinta-feira, 23 de julho de 2009

O pequeno criador de gado




Nos últimos dias, tenho mantido algum contacto com pequenos criadores de gado, o que me tem levado a reflectir um pouco sobre os seus problemas. Problemas esses que assentam sobretudo na concorrência estrangeira.

Todos eles se queixam da dificuldade que têm tido em vender o seu gado. Porquê? Porque, como não são capazes de rivalizar com o preço da carne importada, o mercado das grandes superfícies é-lhes inacessível. Além disso, o pequeno talhante, que mantém uma aposta na carne de qualidade, vê a sua clientela diminuir, em fuga para os preços apelativos das grandes superfícies, embora reconhecendo a diferença na qualidade. O pequeno criador vê assim o seu mercado apertar cada vez mais.

É a lei do mercado aberto, disse a alguns. Mercado injusto, responderam eles. Injusto porque essa carne importada provém de países onde o Estado presta um maior apoio aos criadores, o que lhes permite vender a preços mais competitivos. Como combater esta concorrência? Obter um maior apoio estatal, disseram-me de imediato. Concordo. O problema é que isso não depende do criador de gado, depende da vontade politica (eleitoral?). Mas a cooperação entre criadores depende apenas deles mesmo. Sim, a solução talvez passe pelo cooperativismo. Sim, porque nos países de onde importamos carne, existe um cooperativismo acentuado na agricultura. Isso permite negociar em maior volume, tornando o preço mais competitivo e abrindo assim portas a mercados mais amplos.

Em nota de rodapé, muitos destes pequenos criadores compra a carne para consumo doméstico... nas grandes superfícies. Porque é mais barato, disseram-me. É a lei do mercado. Mercado injusto...

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A mão amiga?


Se tem um seguro multi-riscos habitação, então esta informação interessa-lhe.
O capital destes seguros é actualizado anualmente em função de um índice publicado pelo ISP (Instituto de Seguros de Portugal). Um destes índices é o IE (Índice de Edifícios). Estes índices são publicados todos os trimestres e são usados segundo a seguinte fórmula:

Capital (trim. x, ano y) = Capital (trim. x, ano y-1) x IE (trim. x, ano y) / IE (trim. x, ano y-1)
Exemplo:

IE (2, 2007) = 313,81
IE (2, 2006) = 302,48
Capital (2, 2007) = Capital (2, 2006) x 313,81 / 302,48

Daqui deduz-se um aumento do capital seguro entre 2006 e 2007 para os seguros que vencem no 2º trimestre, que neste caso, que tem valores reais, será de 3,7%.

O ISP comunica estes índices às seguradoras mas normalmente os utentes dos seguros não conseguem ter acesso fácil aos mesmos, mesmo usando a Internet. Aqui fica o link:


O IE deverá reflectir a evolução do custo de reconstrução da fracção ou imóvel seguro, o qual reflectirá a inflação, no geral, e a inflação no sector da construção.

A figura no ínicio desta mensagem apresenta a evolução do IE desde o 1º trimestre de 2006 até ao 3º trimestre de 2009, bem como a sua variação anual, que está directamente relacionada com a actualização dos valores seguros. Como se pode claramente ver, desde 2007 até ao 3º trimestre de 2008 o IE manteve-se razoavelmente estável, entre os 3 e os 4%, e daí em diante "disparou", atingindo no 2º trimestre de 2009 uns extraordinários 8%! Note-se que isto acontece em plena crise, onde o custo de reconstrução terá tendência a baixar por causa da baixa da inflação, da baixa do custo do dinheiro e do excesso de oferta em termos empresariais na área da construção.

O que fará, então, aumentar tão drásticamente o IE? Será que o ISP resolveu dar uma mãozinha amiga às seguradoras, penalizando para esse fim todos os segurados?

quinta-feira, 9 de julho de 2009

PVB

A 25 de Junho de 2009, a Manuela Ferreira Leite disse:

“Vamos rasgar e romper com todas as soluções que têm estado a ser adoptadas em termos de política económica e social”

Hoje, 9 de Junho de 2009, Manuela Ferreira Leite diz:

"Não há nenhuma medida anunciada por este Governo com a qual eu discorde. Eu nunca disse que rasgaria políticas sociais. Não há nenhuma medida a que o PSD se tenha oposto ou que tenha criticado sequer"

Eu bem quero ter esperança nesta senhora. Eu bem quero acreditar na classe politica. Eu bem quero acreditar que existe "politica de verdade" (entenda-se: politica a sério). Mas assim... Bem, irei eu de novo para o PVB?

P.S: Roubado do fantástico We have Kaos in the Garden:


sexta-feira, 3 de julho de 2009

Moche ao Rui!!

O Rui Costa tem nome de futebolista, mas os poucos toques que lhe vi dar na bola são bastante desajeitados!
O 10 na camisola bem que podia ser substituído por um 4 de tão difícil que foi fintá-lo (na verdade nem sei se alguma vez o consegui!).
A qualidade na argumentação faz dele um bom director, mas pouco desportivo!
É um homem de paixões, mas nenhuma delas é vermelha!
Do Benfica só lhe guarda desprezo... Ódio? Não! Porque o seu Porto tem-lhe dado muitas vitórias e alegrias, como aquela que nos trouxe a brilhante e bela taça da Liga dos Campeões após 9 intermináveis e frias horas!
O Rui nasceu para a poesia, mas é nos números que se notabiliza! O gosto pela Matemática que partilhamos foi o início para muita farra e a paixão que temos pelo nosso país levou-nos à discussão! Aí aprendi que não interessa discutir opiniões com paixões. Para resolver problemas, temos que analisar as questões com a frieza dos factos e apresentar soluções!
A amizade é muito importante para ele e fortalece-a à mesa durante umas grandes jantaradas!
O blog foi uma grande ideia dele, cada pedrada aqui atirada é um prémio e cada prémio ganho é uma pedra preciosa para a nossa Costa!
"Meu amigo! Parabéns por quem és e pelo que nos fazes ser!"
Aquele abraço!
Costa Rochosa

O Plano Tecnológico

O Plano Tecnológico tão elogiado no estrangeiro (link) também encontra elogios em Portugal. De todas as medidas adoptadas por este Governo na Educação, esta foi sem dúvida a mais positiva e provavelmente a única com futuro garantido! Considero extremamente importante dotar as escolas de meios informáticos e tecnológicos capazes e que ajudem os professores a ensinar, os alunos a aprender e os pais a reconhecer os trabalhos desenvolvidos por aqueles dentro e fora do recinto escolar. Mas atenção! Há pontos neste plano que merecem uma reflexão muito cuidada.
Numa primeira fase foram distribuídos computadores portáteis com acesso à internet a alunos e a professores. Uma medida excepcional e tremendamente impulsionadora para a alfabetização informática dos portugueses, possibilitando uma ferramenta de trabalho essencial, a custos reduzidos, com acesso à internet, que é cada vez mais imprescindível à vida de todos. Houve pontos fortes e outros fracos, mas ao todo o processo foi extremamente positivo. Penso é que devia ter havido um maior controlo para evitar algumas situações completamente anómalas: professores a servirem de vendedores de computadores e técnicos de informática para as operadoras; famílias com 6 e 7 filhos na escola a receberem 6 e 7 computadores (gratuitos) em casa (é claro que a maioria foi para revenda); contas de internet exorbitantes pelo tráfego superior ao plafond; entre outras coisas. Outro ponto que devia ter sido acautelado é falta de formação de alguns pais que deram uma ferramenta impregnada de perigos para as mãos dos seus filhos, sem controlo, nem capacidade para controlar. Muitos pais dizem que os seus filhos passam 10 a 12 horas seguidas em frente ao computador e não sabem o que eles estão a fazer. Eu digo! Há 3 anos que dou Informática e todos os anos faço o mesmo: uma a duas aulas por ano são completamente livres! Não fiz nenhuma estatística, mas posso afirmar que em mais de 50% dos casos o primeiro site aberto é o hi5 e eles são capazes de andar por ali a navegar durante horas a fio, sem fazerem realmente nada! Em casa fazem o mesmo.
A segunda fase do Plano foi equipar uma em cada 3 salas de aula com um Quadro Interactivo e todas as restantes com um projector. Devo referir que acredito muito nestas duas ferramentas! Sou um utilizador assíduo do Quadro Interactivo e dou formação na área! É fantástico o que se consegue fazer com o Quadro e a adesão dos alunos a uma aula com recurso a esta ferramenta é enorme. Claro que é preciso saber usá-las, mas tenho encontrado nos professores muita vontade de aprender!
Nas terceira e quarta fases, as salas estão a ser equipadas com fibra óptica e um computador fixo em todas as salas. Esta medida apenas peca por tardia (este ano estivemos 150 a trabalhar com 5 computadores na sala de professores!) e por não ser acompanhada pela contratação de pessoal especializado para a manutenção do equipamento e da rede (por carolice, éramos 3 professores que fazíamos manutenção a todos os computadores da escola).
A fase seguinte será a implementação de um sistema de videovigilância, importante para a segurança de todos e de uma central telefónica capaz de informar os pais por SMS e em tempo real das faltas dos seus filhos.
Levantem as suspeitas que quiserem sobre o Plano, digam que os portugueses não estão preparados e que haveriam muitas coisas a serem feitas antes e outras tantas a serem corrigidas. Mas eu contraponho com a necessidade de saltarmos etapas no nosso desenvolvimento. Porque havemos de copiar modelos de outros países, se chegamos à conclusão de que temos capacidade para fazer melhor? Porque havemos de esperar o "momento certo" para investir se na tecnologia e na educação a evolução é tanta que não há "momentos certos"? Porque havemos de interrogar a introdução das novas tecnologias na educação se quando chegamos a adultos levamos com as tecnologias novas e velhas nas costas?

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Manuel Pinho

Depois de tantos erros, tantos pedradas no charco, sai do governo por causa de uns cornos...



Benditos cornos! Só foi pena não ter aparecido uma equipa de forcados.