segunda-feira, 28 de março de 2011

Medição do impacto da demissão do Governo nos títulos da dívida pública

Valores dos titulos a 5 anos da dívida soberana portuguesa, para os dias 9 de Março (tomada de posse de Cavaco Silva) e 25 de Março (pós demissão do Governo):

9 de Março25 de MarçoVariação AbsolutaVariação Relativa
Abertura7,798,42+0,63+7,48%
Máximo7,848,51+0,67+7,87%
Mínimo7,608,42+0,82+9,74%
Fecho7,648,49+0,85+10,01%


Valores dos titulos a 10 anos da dívida soberana portuguesa, para os dias 9 de Março (tomada de posse de Cavaco Silva) e 25 de Março (pós demissão do Governo):

9 de Março25 de MarçoVariação AbsolutaVariação Relativa
Abertura7,617,78+0,17+2,19%
Máximo7,707,80+0,10+1,28%
Mínimo7,607,77+0,17+2,19%
Fecho7,637,79+0,16+2,05%

quarta-feira, 23 de março de 2011

Remember, remember, the 23rd of March

Caiu o Governo.

Por muito que o Ministério da Verdade diga o contrário, o maior culpado desta queda é ele próprio.

Por muito que o Ministério da Verdade diga que agora é inevitável a ajuda externa, ela já está aí. Vide a quantidade de dívida pública que o BCE nos comprou nos últimos meses.

Por muito que o Ministério da Verdade diga que queria negociar com a oposição, a tal ajuda externa que não chegou e que, sem chegar, negociou o PEC veio atempadamente dizer que este PEC é inegociável.

Por muito que o Ministério da Verdade diga que põe os interesses do país acima de tudo e que este PEC é crucial para o país, convém relembrar o exemplo irlandês.

Por muito que o Ministério da Verdade diga que as sucessivas redefinições de medidas e correção de previsões são consequência dos mercados, é a sua incapacidade em aplicar o que propõe que torna as previsões erradas e as medidas ineficazes. Vide o que aconteceu com a despesa pública nos últimos tempos.

Por muito que o Ministério da Verdade apelasse ao entendimento, sabe que pedia o impossível. Criou uma situação sem saída:
- PSD não podia aprovar o PEC, pois a necessidade de novas medidas de austeridade é uma prova irrefutável da incapacidade de execução e análise dos resultados por parte do Ministério da Verdade;
- BE, PCP e CDS não podiam aprovar o PEC, pois para além do mesmo motivo do PSD, isso significaria contradizer o que vêm defendendo há anos.

Por muito que o Ministério da Verdade diga que os responsáveis pelos difíceis tempos que se avizinham são os outros, é a sua incompetência atroz a candeia que iluminou o caminho que nos trouxe até aqui. Vide todos os pontos anteriores.

Não é uma opinião. São factos. Dizer o contrário é hipocrisia. É um facto.

P.S: "Eu quero que este país entenda que estamos perto do esquecimento. (...) Eu quero que todos se lembrem porque precisam de nós!"

segunda-feira, 14 de março de 2011

A aventura das vias alternativas

No fim de semana passado, tinha de fazer uma viagem entre Coimbra e Ovar. Como tinha algum tempo disponível e os combustíveis são caros, optei por realizar a viagem por uma via alternativa às auto-estradas "pagas".
Os primeiros 20kms até são interessantes, realizados em via com dupla faixa em cada sentido, embora o piso não seja do melhor, mas há que ter em conta que é uma via alternativa "gratuita".
Após esses 20kms o caos acontece... atravessamos um sem número de localidades, com rotundas seguidas de outras rotundas, com cova aqui, cova acolá! Raro é o sítio onde podemos passar os 50km/h e só quando nos aproximamos de Águeda é que durante uns 2 ou 3 kms é que voltam a surgir duas faixas de rodagem. Este pequeno troço permite apenas escoar o trânsito pois já seguimos mais de 10 automóveis atrás de dois camiões.
O piso volta a melhorar quando já estamos perto dos acessos à A25, para logo a seguir acontecer o inexplicável... início de obras, o piso todo levantado, um autêntico caminho de cabras... o autocarro que segue à minha frente vai levantando constantemente pedras que embatem na frente do meu carro. Este percurso dura uns 5kms e obriga a desvios atrás de desvios e a circular a uma velocidade máxima de 30km/h. Até que na Branca se volta a ganhar um piso digno de nome de estrada, mas sem qualquer possibilidade de ultrapassagem... aliás... o autocarro que segue à minha frente pára de 2 em 2kms em plena estrada, servindo-se da via pública como paragem de autocarros.
Finalmente, já na zona de Oliveira de Azeméis a estrada apresenta-se como uma alternativa a qualquer autoestrada, fazendo (aí, sim) jus ao nome de IC-2. Todo esse trajecto é assim até à saída de Santa Maria da Feira, daí em diante sei que não é!

No fim desta aventura, demorei quase 2 horas para perfazer os 100kms que separam Coimbra de Ovar, o que dá uma média ligeiramente superior a 50km/h. Só este facto já deveria ser suficiente para não se apresentar o IC-2 como alternativa à A29. Muito menos se pode considerar uma alternativa se esta está, em grande parte do seu troço, a ser alvo de obras muito significativas.
Eu considero que é justo pagarmos pela utilização das auto-estradas, se existir uma via alternativa. Não é necessário que seja também uma auto-estrada, ou que tenha em todo o seu percurso duas faixas de rodagem em cada sentido. Bastava que não atravessasse aldeias e vilas exactamente a meio, que não fosse utilizada por tractores, peões ou como paragem de autocarros. Veja-se o exemplo do IC-2 entre Oliveira de Azeméis e Santa Maria da Feira.
A lei neste caso é omissa... ficamos sem saber o que são vias alternativas a uma ex-SCUT.
Mais... a lei é protectora dos fortes (concessionárias) em detrimento dos mais fracos (utentes das auto-estradas ou vias alternativas). Em caso de obras, (quer na própria auto-estrada, quer na via alternativa) não devia ser pago qualquer valor de portagem referente àquele troço que está a ser alvo de obras ou pelo menos devia ser feito um desconto sobre a mesma. Quanto pago uma portagem, estou a pagar um serviço que deve ser prestado nas melhores condições, se o mesmo não acontecer, nem devia ser preciso fazer qualquer reclamação. Era imediatamente descontado no pagamento da portagem. E se uma via alternativa não oferece as condições mínimas de circulação, então não deve ser pago qualquer valor de portagem sob pena de estarmos a criar um "pequeno" monopólio para as concessionárias, o que é proibido por lei.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Jogo duro, agressão e anti-desportivismo

Confesso que não é fácil, num qualquer desporto com contacto físico, distinguir jogo duro, ou viril, de agressão. Muitas vezes ouvi a desculpa, no futebol, que por “ter ido à bola” o contacto daí decorrente, qualquer que fosse, era legítimo. Não concordo. Para mim, agressão é qualquer contacto físico com potencial dolo para o atingido e que não seja fruto do acaso.

Vem esta prosa a propósito da expulsão do Ravi Garcia no último Braga-Benfica. Já agora, e para que não fiquem com dúvidas, sou do Benfica. Mas consigo ver para além das cores clubistas, acho. Neste caso, para além do (meu) vermelho e branco J

Existe um equívoco habitual que considera como carga-de-ombro qualquer iniciativa em que um jogador encosta o seu lado a outro, tentando dessa forma afastá-lo do local de onde está. Tal é completamente errado. Uma carga-de-ombro só existe, legitimamente, quando dois jogadores seguem percursos rectilíneos que se intersectam no ponto onde a bola está, e, como os jogadores não ocupam volume nulo, o que tiver maior capacidade de se manter na sua trajectória, numa disputa convergente ombro-a-ombro, será potencialmente o que mais depressa chegará à bola.

O que vimos na jogada que resultou na expulsão do Ravi Garcia foi algo completamente diferente. Alan atirou-se de ombro contra o peito de Ravi Garcia, em caso algum se dirigiu para a bola. Ravi, em desequilíbrio, “desforrou-se” da agressão com uma pancada com a mão no peito do adversário, Alan. Este cai no chão com as mãos no peito, que mais tarde sobem até ao pescoço para simular uma agressão numa área substancialmente mais sensível.

Qual é a minha conclusão de tudo isto? Eu acho que ambos se agrediram. Tanto é uma agressão a entrada do Alan, como a desforra do Ravi. A mostrar cartões, seriam amarelos para ambos ou vermelhos para ambos; nunca para um só. Pelo tipo de agressões, eu mostraria amarelos, porque os níveis de agressão mútua não foram muito elevados e o risco para a integridade física moderado. Mas acho que o Alan fez uma entrada mais perigosa do que a desforra do Ravi, porque a quantidade de movimento de um corpo a entrar “de ombro” no peito de outro é superior à de uma mão em rotação a bater no peito.

Finalmente, importa referir a atitude anti-desportiva de Alan, que tudo fez para expulsar o seu adversário, incluindo a simulação de uma agressão na garganta. Para mim, isso é mesmo o pior de tudo, porque se está a abusar de uma fragilidade da arbitragem no que diz respeito à sua incapacidade de avaliar e rever, com precisão, um gesto tão rápido. Se pode haver compreensão (mas não desculpa, no sentido em que tem de ser punido) para o gesto irreflectido do Ravi, não deveria haver nem compreensão nem desculpa para o fingimento de Alan.

A hora dos reformados (ou pensionistas)

Com o recente anúncio de mais medidas de austeridade, chegou a hora dos reformados (ou pensionistas, segundo outros) darem um “passo em frente”. Aparentemente, reformas acima dos 1500 Euros irão ter a mesma sina que os ordenados dos funcionários do Estado.

Inevitavelmente, seguir-se-ão coros de protestos, encabeçados pelas personagens habituais, que vão “rasgar as vestes” por mais um atentado aos reformados e pensionistas. No entanto, há aqui um valente equívoco, muito embora eu ache que é mais uma iniciativa panfletária ao nível do populismo mais reles: pensionista ou reformado não é sinónimo de pobre coitado; não é sinónimo de indigente; e também não é sinónimo de nada relacionado com pobreza. Pensionista ou reformado é apenas uma expressão que designa alguém que recebe uma pensão ou reforma; nada diz do seu valor. Sejamos claros, portanto. E não demagogos.

E eu pergunto. Eu tive uma redução de vencimento de 10%. Gostei? Claro que não. Mas entendo-a e acho-a razoável. E porque é que alguém que recebe uma pensão ou reforma igual ao meu vencimento não pode ter a mesma redução? Em princípio já não terá filhos a cargo, como eu tenho. E não precisa de pagar transportes para o emprego que já não tem, enquanto eu tenho. E pode dedicar o seu tempo à lide caseira, enquanto que eu posso ter que delegar essa tarefa (com custos) em terceiros. E por aí fora. Portanto, acho muito bem que a contenção salarial chegue aos reformados.

Sobre a racionalidade dos “mercados”

Não sendo economista, e portanto podendo estar profundamente errado na minha opinião, creio que estamos a laborar num erro quando dizemos que “os mercados entendem isto ou aquilo” em termos de medidas de equilíbrio orçamental. Ora, na minha óptica, “os mercados” (leia-se, uma cambada de imberbes recém-licenciados que querem mostrar serviço (dinheiro) aos seus patrões para poderem subir rapidamente na carreira) não entendem nada disto. Ou melhor, entendem outras coisas, entendem muito bem onde podem sacar mais facilmente.

Os “mercados”, neste momento, são um conjunto de investidores que tiveram um valente rombo com a crise do sub-prime. E que tentam corrigir esse erro. E que, por isso, vão sacar mais a quem mais conseguirem. E quem são esses? São todos os que têm dívidas (Portugal e outros), que não se conseguem ver livres delas (Portugal e outros), que não representam uma ameaça (Portugal e outros) e que têm umas potenciais ajudas para continuar a pagar (Portugal e outros membros do Euro clube). E, portanto, não vão largar, porque nada o justifica. Pelo contrário, vão continuar “agarrados ao osso” até puderem, porque não há razão nenhuma para “largarem o osso”. Portugal não assusta ninguém, por isso não correm o risco de represálias. Além disso, somos uma “mina sustentável” (?), com a nossa dívida crescente e algum apoio da UE. Finalmente, continuarão a existir justificações muito inteligentes e com boas metáforas para nos agravar a taxa de juro.

Concluindo, não temos hipótese, temos mesmo que mudar de vida. A única hipótese de defraudar o mercado de agiotas que nos está a sugar até ao tutano é acabar com a dívida. Seja pela diminuição da despesa, ou aumento da receita, só temos uma hipótese: deficit=0, ou mesmo superavit. Caso contrário, continuaremos a caminhar inexoravelmente para a ruína. E não me venham mais com a racionalidade dos mercados; para esse peditório eu já dei.