Confesso que não é fácil, num qualquer desporto com contacto físico, distinguir jogo duro, ou viril, de agressão. Muitas vezes ouvi a desculpa, no futebol, que por “ter ido à bola” o contacto daí decorrente, qualquer que fosse, era legítimo. Não concordo. Para mim, agressão é qualquer contacto físico com potencial dolo para o atingido e que não seja fruto do acaso.
Vem esta prosa a propósito da expulsão do Ravi Garcia no último Braga-Benfica. Já agora, e para que não fiquem com dúvidas, sou do Benfica. Mas consigo ver para além das cores clubistas, acho. Neste caso, para além do (meu) vermelho e branco J
Existe um equívoco habitual que considera como carga-de-ombro qualquer iniciativa em que um jogador encosta o seu lado a outro, tentando dessa forma afastá-lo do local de onde está. Tal é completamente errado. Uma carga-de-ombro só existe, legitimamente, quando dois jogadores seguem percursos rectilíneos que se intersectam no ponto onde a bola está, e, como os jogadores não ocupam volume nulo, o que tiver maior capacidade de se manter na sua trajectória, numa disputa convergente ombro-a-ombro, será potencialmente o que mais depressa chegará à bola.
O que vimos na jogada que resultou na expulsão do Ravi Garcia foi algo completamente diferente. Alan atirou-se de ombro contra o peito de Ravi Garcia, em caso algum se dirigiu para a bola. Ravi, em desequilíbrio, “desforrou-se” da agressão com uma pancada com a mão no peito do adversário, Alan. Este cai no chão com as mãos no peito, que mais tarde sobem até ao pescoço para simular uma agressão numa área substancialmente mais sensível.
Qual é a minha conclusão de tudo isto? Eu acho que ambos se agrediram. Tanto é uma agressão a entrada do Alan, como a desforra do Ravi. A mostrar cartões, seriam amarelos para ambos ou vermelhos para ambos; nunca para um só. Pelo tipo de agressões, eu mostraria amarelos, porque os níveis de agressão mútua não foram muito elevados e o risco para a integridade física moderado. Mas acho que o Alan fez uma entrada mais perigosa do que a desforra do Ravi, porque a quantidade de movimento de um corpo a entrar “de ombro” no peito de outro é superior à de uma mão em rotação a bater no peito.
Finalmente, importa referir a atitude anti-desportiva de Alan, que tudo fez para expulsar o seu adversário, incluindo a simulação de uma agressão na garganta. Para mim, isso é mesmo o pior de tudo, porque se está a abusar de uma fragilidade da arbitragem no que diz respeito à sua incapacidade de avaliar e rever, com precisão, um gesto tão rápido. Se pode haver compreensão (mas não desculpa, no sentido em que tem de ser punido) para o gesto irreflectido do Ravi, não deveria haver nem compreensão nem desculpa para o fingimento de Alan.
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