sexta-feira, 11 de março de 2011

A hora dos reformados (ou pensionistas)

Com o recente anúncio de mais medidas de austeridade, chegou a hora dos reformados (ou pensionistas, segundo outros) darem um “passo em frente”. Aparentemente, reformas acima dos 1500 Euros irão ter a mesma sina que os ordenados dos funcionários do Estado.

Inevitavelmente, seguir-se-ão coros de protestos, encabeçados pelas personagens habituais, que vão “rasgar as vestes” por mais um atentado aos reformados e pensionistas. No entanto, há aqui um valente equívoco, muito embora eu ache que é mais uma iniciativa panfletária ao nível do populismo mais reles: pensionista ou reformado não é sinónimo de pobre coitado; não é sinónimo de indigente; e também não é sinónimo de nada relacionado com pobreza. Pensionista ou reformado é apenas uma expressão que designa alguém que recebe uma pensão ou reforma; nada diz do seu valor. Sejamos claros, portanto. E não demagogos.

E eu pergunto. Eu tive uma redução de vencimento de 10%. Gostei? Claro que não. Mas entendo-a e acho-a razoável. E porque é que alguém que recebe uma pensão ou reforma igual ao meu vencimento não pode ter a mesma redução? Em princípio já não terá filhos a cargo, como eu tenho. E não precisa de pagar transportes para o emprego que já não tem, enquanto eu tenho. E pode dedicar o seu tempo à lide caseira, enquanto que eu posso ter que delegar essa tarefa (com custos) em terceiros. E por aí fora. Portanto, acho muito bem que a contenção salarial chegue aos reformados.

18 comentários:

  1. André,

    1) Aí está o grande problema. Todos são a favor de sacrifícios, mas dos outros.

    2) Eu também sofri um corte nos meus vencimentos e não gostei, mas compreendo. Mas isto é o governo a optar pela solução mais fácil. Os grandes sorvedouros de dinheiro continuam abertos.

    3) O debate a respeito do sistema de reformas que tivemos aqui no Costa Rochosa continua mais atual do que nunca.

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  2. Sem querer entrar em grande discussão, suponhamos que num determinado ano a empresa para a qual trabalhamos releva aos seus trabalhadores que para garantir a sua sustentabilidade dos anos que se avizinham a empresa terá de fazer um esforço financeiro e cortes salariais serão inevitáveis. Nós discordamos, pois ninguém gosta de ver o seu salário encolher, mas acabamos por acatar a proposta, pois num cenário actual de endividamento e contracção da economia seria espectável que tal viesse a acontecer.

    Agora suponhamos que durante 30 a 40 anos fomos transferindo uma parte do nosso salário para uma instituição que gere planos de poupança/reforma. Começamos a gozar a nossa reforma até que um dia essa instituição comunica que haverá um corte na mensalidade. Que pensamos nós? Fomos enganados! A instituição geriu mal o nosso dinheiro! Andamos nós a dar dinheiro a estes gajos e com que direito é que nos cortam a reforma que andamos a planear durante uma vida? Quero o meu dinheiro de volta!

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  3. Meu caro Zé, eu até podia concordar contigo, mas há 3 elementos fulcrais que me impedem:

    1 – Estás a assumir que o descontos servem para pagar a reforma futura. No entanto, muitos dos actuais pensionistas pouco descontaram, porque o sistema só entrou em vigência a meio da sua carreira. Além disso, o que descontamos serve para pagar muito mais, como já aqui se discutiu (por exemplo, desemprego de terceiros).

    2 – Mas admitamos o modelo de que uma pessoa paga a sua reforma. Segundo as taxas actuais, um trabalhador por conta de outrem desconta, de forma coordenada com o seu empregador, 34.5% do seu ordenado bruto. Portanto, se tiveres uma carreira contributiva dos 25 aos 65 anos (40 anos), e se auferires da reforma durante 20 anos (até aos 85), então só deverias auferir cerca de 70% do teu salário médio ao longo da carreira contributiva. Mas o que temos agora são muitos reformados que estão a auferir algo próximo de 100% do seu salário no final da carreira! Será que isto é sustentável?

    3 – Independentemente de tudo o mais, “o barco está a ir ao fundo”. Podemos equacionar todos os ideais sobre justiça e injustiça, mas se é preciso mesmo diminuir a despesa, eu não percebo como é que alguém reformado que ganha o mesmo que alguém que trabalha não pode fazer sacrifícios, ao contrário do outro. Acho mesmo que isso revela uma tremenda injustiça.

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  4. Eu acho que há duas diferenças fundamentais entre o caso dos reformados e o caso dos funcionários públicos.

    1. Os funcionários públicos sofreram um corte no valor que vão receber por algo que ainda vão investir (o seu trabalho). Os reformados vão sofrer um corte por algo que já investiram (o seu dinheiro).

    2. Os funcionários públicos, caso não aceitem o corte no valor a pagar pelo seu investimento futuro, têm a hipótese de mudar o seu investimento. Os reformados não têm essa hipótese.

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  5. Rui Costa disse...
    Os reformados vão sofrer um corte por algo que já investiram (o seu dinheiro).

    Há muitos casos em que isto não é verdade.

    O governo sempre opta pela solução mais fácil, que é cortar todos igualmente.

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  6. "Há muitos casos em que isto não é verdade."

    Há muitos casos em que é. E esses estão a ser, literalmente, roubados.

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  7. Podemos viver num país democrático, mas esta não é uma crise "democrática". Democratizar os cortes pode parecer justo à primeira, mas é preciso ter cuidado com o fosso que está a estratificar cada vez mais a nossa sociedade.

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  8. O André levanta com cada discussão...
    Esta questão das reformas é e sempre será o alvo de muitas discussões, uma vez que é uma das grandes clivagens entre a esquerda e a direita políticas. Num momento como o que estamos a atravessar, parece-me que os dois lados da barricada vão ter que se sentar à mesma mesa e procurar chegar a um acordo, sob pena de acabar a Segurança Social e deixar de existir a reforma.
    1º problema, os dirigentes políticos têm pouca vontade de se sentar à mesma mesa e de assumirem compromissos para o futuro e quem governa está a assumir uma atitude totalitária, em que apresenta medidas avulso e sem mostrar à população (ou sequer à oposição) o porquê e qual o objectivo destas medidas.
    2º problema, estas medidas mexem no bolso de muitos portugueses e àqueles a quem não mexe é mais fácil ficar sossegado no seu cantinho a ver se se esquecem dele.
    3º problema, o corte que é feito nos nossos salários (e neste caso, nas reformas) é um sacrifício que cairá em saco roto. Não são descontos para a Segurança Social, não são impostos para as Finanças e nem sequer são um donativo ao Estado, porque se assim fosse ainda o podíamos apresentar no IRS, mas nada!
    Isto quer dizer que é um corte salarial, que é ilegal segundo a Constituição Portuguesa.
    Como tal, se cometeram uma ilegalidade comigo, não posso exigir que cometam a mesma ilegalidade com outros... isso não é justiça!

    Quanto ao problema essencial, "onde arranjar o dinheiro que falta?" voltemos ao 1º problema... se houver vontade de arranjar uma solução, ela arranja-se... lembrem-se que o PSD apresentou mais de 2 mil propostas, que foram recusadas pelo Governo, por serem apenas "trocos"... mas são esses "trocos" que me fazem questionar... porque me tiram 100€ se não querem poupar uns milhares?
    Lembrem-se das PPP que custam milhões ao Estado e cujo resultado é nulo (senão negativo) para o dia-a-dia de grande parte dos portugueses.
    Como estas, tantas outras hipóteses que se não resolviam o problema, pelo menos contribuiriam para uma melhor compreensão do problema para os portugueses.

    Acrescente-se que qualquer reformado que tenha trabalhado 30 ou 40 anos e que agora tem a sua justa reforma, não a quer ver reduzida, pelo menos enquanto houver reformados com 8 anos de serviço e pensões vitalícias enquanto exercem outras actividades.

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  9. .......Enfim os reformados podem pagar, segundo uns!!!! deve ser gente muito nova a proferir semelhante asneira ou então são gente com meios de fortuna senão os de trabalho. Li que os reformados podem cuidar das casas e etc etc ...E o lazer? e aqueles cuja saúde já não os deixa gozar uma digna e merecida reforma,e o valor das pensões em média neste país que teima em de vez em quando remar para trás! Me perdoem os muito ricos pois não têm culpa de o ser e até precisamos de gente com muito dinheiro para inovar tirar o meu país do marasmo

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  10. Acha muito bem agora e estou certo que achará quando chegar a sua altura e o sistema actual, insustentável, não lhe devolver o que é seu por direito.



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    1. é por isto mesmo que temos o país que temos.
      Se durante todo o tempo que estive ao ativo me foi descontado no mem vencimento mensal um determinado montante para efeitos de reforma, é evidente que eu tenho todo o direito a receber essa reforma e legalmente ninguém a pode diminuir ou tirar. Fui eu que a paguei. Não fui eu que me endividei, eu nãotenho dívidas, foram os governos que se endividaram, que façam tudo o que já deviam ter feito para saber o que fizeram ao dinheiro deste país, e julguem quem deve ser julgado

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  11. Caro André Zuquéte.
    Vim parar ao seu blog por acaso numa busca sobre a eventual diferença subtil entre "reformado" e "pensionista" e podia ter saído do mesmo em silêncio. Mas depois de ler o seu post, não conseguiria deixar de lhe dizer algumas coisas para além do que já lhe disseram em alguns dos comentários anteriores.
    Não sei se sabe que nem todos os ditos "reformados" foram funcionários públicos e que, por isso, não foram reformados com 100% do valor do último vencimento. A maioria, onde me incluo, trabalhou por conta de outrém em empresas do sector privado e, depois de terem descontado ambos COMPULSIVAMENTE durante o tempo que o «contrato forçado» lhes impôs para uma entidade que se julgava idónea - o Estado, foi reformada com base em 80% da média dos 10 melhores anos dos últimos 15 (anterior cálculo, substituído actualmente pela média de todos os anos da sua carreira contributiva). Antes dessa operação ser chamada compulsivamente ao referido Estado, cada um descontava nos mesmos moldes para a sua Caixa de Previdência e aquele só estava comprometido com os funcionários públicos através da Caixa Geral de Aposentações. Em determinada altura, o Estado chamou a si todas as verbas das CP, extinguiu-as e resolveu reunir tudo no chamado Centro Nacional de Pensões, transferindo as obrigações de trabalhadores do sector privado e das suas empresas para essa entidade e sem aí «meter um tusto». Já no que se referia à CGA, limitava-se a receber as contribuições dos funcionários públicos e, contrariamente à obrigação que impunha às empresas privadas, também lá não punha um tusto mensalmente por cada funcionário público.
    Dir-me-á que estes passaram de baixos salários nos tempos do Estado Novo a grandes aumentos nas últimas décadas. É verdade, e isso começou no consulado do actual PR, com o argumento de que era necessário termos um funcionalismo mais preparado. Contudo, e como sempre, o aumento do seu número foi feito à custa de compadrios que se têm mantido nas últimas 2 décadas e mesmo com o (des)governo actual. O Estado, que se esperava que se portasse como uma pessoa de bem, gerindo convenientemente as verbas colocadas «à sua guarda» acaba de se portar como um reles ladrão, ao nível de quem o serve, ou dele se serve. O exemplo de um dos comentários anteriores é elucidativo quando lhe perguntam o que sentiria se tivesse colocado o seu dinheiro num qualquer plano de poupança num banco, por exemplo, e chegasse agora à conclusão de que ele tinha desaparecido total ou parcialmente.
    Por outro lado, o seu argumento de que os reformados já não têm despesas com filhos, etc., se não é falacioso é no mínimo infantil. E o meu caro não parece ter 20 anos de idade. É portanto inadmissível que não entre em conta com factores tão diversos como o elevado custo com medicamentos que os mais idosos são obrigados a dispender, com o custo do apoio que nesta crise estão a suportar pelo facto de muitos dos seus filhos, apesar das suas elevadas qualificações profissionais, não conseguirem emprego e terem de voltar para casa dos pais, etc.
    Para finalizar só lhe posso desejar que, se tiver filhos, eles ainda venham um dia a poder usufruir de um mínimo de qualidade de vida.
    Por mim, estou farto de gente RAIVOSA, INVEJOSA e MAL FORMADA.
    Far-nos-ia a todos um grande favor se, neste blogue, abordasse as reformas vitalícias dos deputados após 8 (agora 12) anos de ESFORÇADO trabalho, incluindo aí o caso da actual Presidente da AR, reformada aos 42 anos, as reformas cumulativas da CGD e do Banco de Portugal, etc.

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    1. Ia responder ao texto, mas li o comentário do Anónimo de 26 de Novembro de 2012 00:34 e estou em completo acordo!
      A acrescentar que, funcionários públicos também são os funcionários das Autarquias Locais e que têm ou tinham uma tabela abaixo de outras... por ex. a Câmara Municipal de Lisboa, certos Ministérios, etc...etc... e que, quantas vezes, trabalhavam fora do horário do expedientes e davam muitas horas a mais, sem nunca receberem tostão que fosse!
      È bom que se lembrem disso!

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  12. Não vale a pena ! Continua a haver gente a confundir a obra-prima de um Mestre com a prima de um Mestre de Obras...
    Nós os Reformados, Jubilados, Aposentados ou Pensionistas, somos uma geração priveligiada... Nascemos e levámos com o final da grande guerra, levámos com o Salazar, fomos obrigados a interromper a nossa juventude quando fomos obrigados a ir para Africa lutar contra os inimigos, hoje nossos irmãos africanos, levamos com o 25 de Abril, com os comunistas e os direitistas, e com toda esta casta de políticos que nos tem desgorvenado até aos dias de hoje.
    A maior parte dos que agora falam não têm nem uma pequena ideia do que passou esta geração que pagou o que tinha e o que não tinha para hoje acabar os seus dias com uma reforma digna !
    Não vale a pena... mais vale olhar para a prima do Mestre de obras...

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. "Atire a sua pedra, vá!"


    E se pensasse antes de atirar as suas a torto e a direito?

    E não esqueçam a diferença entre escudos e euros! E o poder de compra que os funcionários públicos perderam nessa "transacção""

    È que os ordenados ficaram em € o que eram em $ mas o custo de vida, os impostos, etc. etc dispararam, em muitos casos, em mais de 200%.

    E ninguém fala disso! :(

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Atire a sua pedra, vá!