sexta-feira, 11 de março de 2011

Sobre a racionalidade dos “mercados”

Não sendo economista, e portanto podendo estar profundamente errado na minha opinião, creio que estamos a laborar num erro quando dizemos que “os mercados entendem isto ou aquilo” em termos de medidas de equilíbrio orçamental. Ora, na minha óptica, “os mercados” (leia-se, uma cambada de imberbes recém-licenciados que querem mostrar serviço (dinheiro) aos seus patrões para poderem subir rapidamente na carreira) não entendem nada disto. Ou melhor, entendem outras coisas, entendem muito bem onde podem sacar mais facilmente.

Os “mercados”, neste momento, são um conjunto de investidores que tiveram um valente rombo com a crise do sub-prime. E que tentam corrigir esse erro. E que, por isso, vão sacar mais a quem mais conseguirem. E quem são esses? São todos os que têm dívidas (Portugal e outros), que não se conseguem ver livres delas (Portugal e outros), que não representam uma ameaça (Portugal e outros) e que têm umas potenciais ajudas para continuar a pagar (Portugal e outros membros do Euro clube). E, portanto, não vão largar, porque nada o justifica. Pelo contrário, vão continuar “agarrados ao osso” até puderem, porque não há razão nenhuma para “largarem o osso”. Portugal não assusta ninguém, por isso não correm o risco de represálias. Além disso, somos uma “mina sustentável” (?), com a nossa dívida crescente e algum apoio da UE. Finalmente, continuarão a existir justificações muito inteligentes e com boas metáforas para nos agravar a taxa de juro.

Concluindo, não temos hipótese, temos mesmo que mudar de vida. A única hipótese de defraudar o mercado de agiotas que nos está a sugar até ao tutano é acabar com a dívida. Seja pela diminuição da despesa, ou aumento da receita, só temos uma hipótese: deficit=0, ou mesmo superavit. Caso contrário, continuaremos a caminhar inexoravelmente para a ruína. E não me venham mais com a racionalidade dos mercados; para esse peditório eu já dei.

4 comentários:

  1. Ainda há uns dias discutia com o Rui este problema. Concordo plenamento com o que o André diz. Não há volta a dar, somos o elo mais fraco da cadeia e a exploração dos mercados continuará a existir enquanto andarmos a reboque destes.

    A racionalidade dos mercados é esta. Faz-se um teste de stress aos bancos. Os bancos portugueses aguentam. Baixa-se o rating. Lógica? Só se for muito twisted...

    Entretanto, e como se viu recentemente, nem as demonstrações de confiança de altos membros da sagrada aliança UE servem para "acalmar" os mercados.

    E como conta o sermão aos peixes, "enfim, ainda o pobre defunto o não comeu a terra, e já o tem comido toda a terra."

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  2. Lógica? O rating foi baixado ao Estado português. Pergunta: tu emprestavas dinheiro a Portugal? A que taxa?

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  3. "A agência de notação financeira Fitch cortou hoje o rating de Portugal de AA- para A+, justificando com maiores dificuldades de financiamento tanto do Estado como dos bancos desde a última revisão publicada." -> isto depois do teste de stress.

    Ou seja, o bancos também entraram na revisão. A resposta é: se tivesse emprestava, com um juro não elevado. Porquê os juros elevados? Ou acreditas que a instituição te paga (e é difícil acreditar que estes tipos não acreditem que Portugal pague a sua dívida) ou não acreditas e não emprestas dinheiro. Juros altos servem apenas para comer aqueles a quem se empresta dinheiro, olhando apenas ao lucro. Não se importam de afundar um país e os seus cidadãos para fazer mais uns big bucks.

    Agora deixo a pergunta, como te sentirias tu se revissem assim o teu empréstimo para uma habitação? Ah e tal não acredito muito que vás conseguir pagar. Toma lá mais 2% de juros nisso...

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  4. "e é difícil acreditar que estes tipos não acreditem que Portugal pague a sua dívida"

    É? Mesmo tendo em conta que o total da dívida portuguesa é para cima de 200% do PIB?

    "Juros altos servem apenas para comer aqueles a quem se empresta dinheiro, olhando apenas ao lucro."

    Não posso concordar. O valor da taxa de juros é uma função do risco.

    Respondendo à tua pergunta: se eu tivesse a pedir empréstimos para pagar empréstimos, podes ter a certeza que compreendia quem me exigisse mais rentabilidade para emprestar dinheiro.

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