sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Vou abrir um banco

...e a seguir criar um estado, mas isso fica para outra altura...

Recebi um email com um suposta carta de um cliente dirigida ao BES. Não posso atestar pela veracidade da mesma, mas ainda assim penso que nela é feita uma descrição muito interessante do autentico roubo perpetuado pelas entidades bancárias. O que eu acho curioso é ninguém ainda ter levantado a questão da existência de um cartel bancário.

Eu sou daqueles clientes chatos. Daqueles em que se lhe cobram 1 cêntimo por ter acedido ao serviço de online banking (sim, já me aconteceu), perde uma hora no banco a reclamar esse cêntimo de volta. E caso não mo devolvam, fecho, na medida do possível, todas as contas naquele banco (é normalmente no pedido de fecho de conta que, subitamente, o cêntimo afinal pode ser devolvido).

Não o faço por uma questão de sovinice. Faço porque não gosto de ser roubado. Faço porque penso que, ao dar liberdade ao banco para fazer o que bem entender com o meu dinheiro, já estou a pagar todos os serviços básicos. Como diz a minha querida avó, faço-o porque pura e simplesmente não gosto de dar de mamar a chulos.

Bem, já me alonguei em demasia. Aqui fica a tal "carta":
 
      Exmos. Senhores Administradores do BES  
Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina da v/. Rua, ou pela existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da tabacaria, ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.  
Funcionaria desta forma: todos os senhores e todos os usuários pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, farmácia, mecânico, tabacaria, frutaria, etc.). Uma taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao utilizador. Serviria apenas para enriquecer os proprietários sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade ou para amortizar investimentos. Por qualquer outro produto adquirido (um pão, um remédio, uns litro de combustível, etc.) o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até ligeiramente acima do preço de mercado.  
Que tal?  
Pois, ontem saí do BES com a certeza que os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e honestidade. A minha certeza deriva de um raciocínio simples.  
Vamos imaginar a seguinte situação: eu vou à padaria para comprar um pão. O padeiro atende-me muito gentilmente, vende o pão e cobra o serviço de embrulhar ou ensacar o pão, assim como todo e qualquer outro serviço. Além disso impõe-se taxas de. Uma 'taxa de acesso ao pão', outra 'taxa por guardar pão quente' e ainda uma 'taxa de abertura da padaria'. Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.  
Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o que ocorreu comigo no meu Banco.  
Financiei um carro, ou seja, comprei um produto do negócio bancário. Os senhores cobram-me preços de mercado, assim como o padeiro cobra-me o preço de mercado pelo pão.  
Entretanto, de forma diferente do padeiro, os senhores não se satisfazem cobrando-me apenas pelo produto que adquiri.  
Para ter acesso ao produto do v/. negócio, os senhores cobram-me uma 'taxa de abertura de crédito'-equivalente àquela hipotética 'taxa de acesso ao pão', que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar  
Não satisfeitos, para ter acesso ao pão, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente no v/. Banco. Para que isso fosse possível, os senhores cobram-me uma  'taxa de abertura de conta'.  
Como só é possível fazer negócios  com os senhores depois de abrir uma conta, essa 'taxa de abertura de conta' se assemelharia a uma 'taxa de abertura de padaria', pois só é possível fazer negócios com o padeiro, depois de abrir a padaria.  
Antigamente os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como 'Papagaios'. Para gerir o 'papagaio', alguns gerentes sem escrúpulos cobravam 'por fora', o que era devido. Fiquei com a impressão que o Banco resolveu antecipar-se aos gerentes sem escrúpulos. Agora, ao contrário de 'por fora' temos muitos 'por dentro'.  
Pedi um extracto da minha conta - um único extracto no mês - os senhores cobram-me uma taxa de 1 EUR. Olhando o extracto, descobri uma outra taxa de 5 EUR 'para manutenção da conta' - semelhante àquela 'taxa de existência da padaria na esquina da rua'.  
A surpresa não acabou. Descobri outra taxa de 25 EUR a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial vou pagar os juros mais altos do mundo. Semelhante àquela 'taxa por guardar o pão quente'.  
Mas os senhores são insaciáveis.  
A prestável funcionária que me atendeu, entregou-me um desdobrável onde  sou informado que me cobrarão taxas por todo e qualquer movimento que eu fizer.  
Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores se devem ter esquecido de cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações de v/. Banco.  
Por favor, esclareçam-me uma dúvida: até agora não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma?  
Depois de eu pagar as taxas correspondentes talvez os senhores me respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço bancário é muito diferente de uma padaria. Que a v/. responsabilidade é muito grande, que existem inúmeras exigências legais, que os riscos do negócio são muito elevados, etc., etc., etc. e que apesar de lamentarem muito e de nada poderem fazer, tudo o que estão a cobrar está devidamente coberto pela lei, regulamentado e autorizado pelo Banco de Portugal. Sei disso, como sei também que existem seguros e garantias legais que protegem o v/. negócio de todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de uma padaria, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados.  
Sei que são legais, mas também sei que são imorais. Por mais que  estejam protegidos pelas leis, tais taxas são uma imoralidade. O cartel algum dia vais acabar e cá estaremos depois para cobrar da mesma forma.  

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Ensino de qualidade II

Fausto!

Em primeiro lugar, ia apenas comentar a tua pedrada, mas depois fui divagando até que tornei isto num barroco!

Quero deixar claro que gostei muto da tua ideia e que ela seria bem recebida por muitos professores e pretendo explicar aqui o porquê! Mas antes quero comentar um facto que assinalaste de extrema importância: a ambiguidade dos rankings de escolas.

Os rankings actuais são criados pelas redacções dos jornais tendo por base os dados fornecidos pelo Ministério da Educação. 1º problema: Cada redacção adopta os critérios que quer... uns limitam as escolas pelo número de alunos, outros pela área geográfica e outros ainda pelo número de exames. Demasiados critérios, pouca informação relevante e poucas conclusões se retiram dos rankings. 2º problema: Ninguém sabe se os rankings são para se levar a sério ou se são apenas para fazer notícias e assim condicionar a opinão pública!
O que é verdade é que ambíguos ou não, os rankings mostram que no seu topo estão sempre escolas privadas, mas também é verdade que no seu fundo também estão escolas privadas. Também é verdade que os maiores fossos entre a avaliação interna e o resultado obtido no exame também se registam em escolas privadas. A acrescentar a este facto, temos que as escolas privadas realizam poucos exames e recebem apenas os alunos que querem, ao passo que as escolas públicas têm muitos exames e recebem todos os alunos (internos ou externos) que neles se inscrevam!
Desta forma, parece claro que as escolas públicas e privadas não "concorrem" (o termo não me parece o melhor, porque não se trata de um concurso...) no mesmo pé de igualdade e portanto a elaboração de um ranking fiável e claro não se pode basear apenas nos resultados dos Exames Nacionais. Mas é bastante importante que esse ranking seja mais uma ferramenta de trabalho com o objectivo de melhoria do ensino.

Quanto à proposta do Fausto, considero-a (quase) brilhante uma vez que, ao contrário do que é vigente no ensino em Portugal, preocupa-se com os alunos com melhores capacidades! Este tipo de alunos tem tido pouco incentivo no ensino português, preferindo-se apoiar todos aqueles que apresentam dificuldades, indisciplina constante, pouco interesse ou empenho no estudo!
A selecção dos alunos para a frequência de escolas de referência é um bom ponto de partida, mas não será o único! A criação de projectos a nível de escola, como o Projecto TurmaMais da Escola Rainha Santa Isabel, em Estremoz, e a aproximação entre Escolas e Universidades serão outros aspectos a explorar!

A todos aqueles que apontam o dedo à proposta do Fausto gritando "discriminação", muitos mais baterão palmas clamando por "justiça"! Os professores facilmente concordarão com esta proposta, pois ela valoriza o mérito e incentiva ao interesse e empenho pelas actividades escolares, em detrimento das preocupações e tempo desperdiçado com os indisciplinados e desinteressados!
Mas os professores não querem medidas avulso como as que têm sido tomadas nos últimos 30 anos e legisladas por pessoas distantes do ensino que não conhecem a realidade... Os exemplos de más leis são tantos que daria para outro barroco! Os professores querem um projecto nacional para o Ensino e leis reais e coerentes!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ensino de qualidade

Os rankings das escolas são claramente ambíguos e dados a múltiplas interpretações.
No entanto, uma coisa está clara... os colégios privados dominam os topo da tabela.

Penso que deveria existir na rede de escolas públicas, um conjunto de escolas de topo que dominassem os rankings e fossem uma alternativa pública aos colégios privados. Em certos países, existem este tipo de escolas, ou em alternativa, uma série de bolsas de estudo para os melhores alunos que não têm possibilidades económicas para frequentar os colégios privados.

A solução para implementar este tipo de escolas é, por incrível que pareça, extremamente simples.
  • para regiões servidas por uma rede relativamente densa de escolas, permitir a criação de uma escola de regime especial.
  • Estas escolas, inicialmente, só seriam diferentes das outras pelo facto de poderem escolher os alunos. Os alunos que não fossem aceites por esta escola ou que fossem convidados a sair, teriam de ser aceites pelas outras escolas. Hoje em dia, é praticamente impossível uma escola recusar um aluno.
  • As escolas teriam de manter um número normal de alunos, ou seja, só poderiam expulsar um aluno se isso não implicasse descer abaixo de um número mínimo de alunos.
  • As escolas podiam manter uma lista de espera de alunos que quisessem entrar ou pedir transferência. Estes seriam seleccionados e convidados a entrar caso um aluno fosse expulso.
  • Numa segunda fase, os professores e toda a equipa não-docente também seriam escolhidos. Não haveria professores efectivos nessas escolas, estando lá todos por destacamento. Os períodos de destacamento seriam definidos (por exemplo: 3 anos) e renováveis. A renovação seria pendente de uma série de critérios, tal como os resultados dos próprios alunos, mas mais importante ainda seria a avaliação dos outros professores.
  • A avaliação dos encarregados de educação NÃO seriam um dos critérios... infelizmente, os pais às vezes têm prioridades enviesadas. Acham que um bom professor é amigo dos alunos e dá boas notas... claramente isso não define um bom professor que produz bons resultados.
Para os críticos da criação deste conjunto de escolas por supostamente criar discriminação no sistema público, o meu comentário é apenas um: se as escolas públicas não oferecerem uma alternativa aos colégios privados, a discriminação será baseada em factores económicos em vez de factores de mérito.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Campeão do Salto com Vara


Deixa-me surpreendido, perplexo, estupefacto e por fim revoltado quando assisto a tanto "chico-espertismo"! O caso que me fez mudar de cor foi o do Sr. Armando Vara. Faço das minhas palavras as do Miguel Sousa Tavares que melhor caracterizam o personagem (ler aqui). O texto remonta a janeiro de 2009, altura em que o personagem em questão ainda não se encontrava a braços com a justiça. Este caso, para mim, é sem dúvida o do verdadeiro campeão do salto com Vara! Conseguiu driblar tudo e todos, usando a política como veículo para chegar ao lugar que ambicionava que era.. banqueiro! Há coisa de 4 anos atrás decidiu tirar um curso superior, daqueles instantâneos, que se dissolvem com água quente, de forma a disfarçar a sua escalada em busca do poder supremo. Mais, conseguiu obter uma pós-graduação mesmo antes de ter acabado a licenciatura (ver curriculum no site do BCP)! Isto é Fantástico!!

Francamente...sinto-me revoltado e indignado. Mas tenho esperança que este caso, tal como outros, sejam esclarecidos e devidamente julgados por forma a fazer renascer a credibilidade nas instituições.


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Humpty-dumpty?

O PCP está velho, gasto... A laburiosa defesa dos direitos dos trabalhadores é quase como umas calças velhas num homem que nunca as tirou desde miúdo: ficam-lhe curtas demais... Mas recusa comprar umas novas porque o consumismo é também base do capitalismo, afinal de contas...

Mas tudo isto são lérias quando as comparamos com isto.

Celebrar a queda do muro é celebrar a Europa, a liberdade. Há mudanças que se coligam com a evolução temporal: as transiçoes absolutismo-liberalismo, monarquia-republica por exemplo são em regra unidireccionais - a historia raras vezes dá cambalhotas para trás. Por isso o PCP está velho: porque no que diz guarda a vontade de uma pirueta acrobática e do regresso ao que já não é.

Berlim unificado é, pela queda da muro, simbolo de prevalencia de democracia e de união na diferença. E percorrendo a Karl Marx Allee, ladeado de uma arquitectura imponente, reminiscente de um regime quadrado - até mesmo na sua estética - não consigo deixar de sorrir perante a alegria de uma cidade que, ainda que com dois rostos, tem hoje uma alma apenas.

A avaliação a Mário Nogueira... de novo.

O tema da avaliação dos professores voltou à ribalta (se é que alguma vez saiu), com o CDS a tentar encontrar um ponto de encontro entre a posição do governo e a dos sindicatos, ambas intransigentes até ao momento. Esta estabilidade é fundamental para o bom funcionamento do sistema de ensino, mas sinceramente espero que a base da proposta do governo se mantenha: avaliação, com subida na carreira baseada no mérito.


Fundamental para um possível entendimento é a não-intervenção de Mário Nogueira, pelo menos no estilo a que nos habitou. Já por várias vezes mostrei o meu descontentamento para com a atitude deste "professor" (há quantos anos não dá aulas mesmo?), como por exemplo aqui e aqui.

No fundo, o que me faz imensa confusão é ver tantas medidas que trazem mais dignidade à profissão e que motivam uma cultura de excelência, premiando quem de facto se revela merecedor, serem rejeitadas pelos sindicatos, usando a capa da "luta". Usando o argumento de serem uns coitados explorados pelo estado.

Veja-se o quanto o Estado os explora, neste excerto do Diário da Republica onde se podem ver alguns valores das reformas atribuídas pela Caixa Geral de Aposentações:



(dados obtidos a partir da publicação em Diário da Republica; podem ser consultados aqui)

Esta estratégia de Mário Nogueira é infeliz, muito infeliz, pois apenas contribui para o deterioramento da já desgastada imagem da classe docente. Trata-se de uma classe que é vista como privilegiada por uma parte significativa da opinião pública, donde esta atitude de "vitimização" vem apenas piorar essa imagem.

Trata-se de uma profissão crucial para o desenvolvimento de uma sociedade. Assim, é natural que se trate de uma classe privilegiada, de uma elite. É natural que queiramos privilegiar quem educa e forma os nossos filhos.

Mas, assim, é também natural exigir elevação, qualidade e excelência. Privilégios aos melhores, aos que nos privilegiam com a sua capacidade de ensinar. Para que sejam uma elite admirada pelo sociedade, é necessário que lutem por promover os melhores e afastar os que não dignificam a profissão.

Sejamos francos: não é essa a imagem que Mário Nogueira e, consequentemente, a classe dos professores nos tem vindo a transmitir.

O actual processo de avaliação pode não ser o melhor, mas é certamente melhor do que o vazio anterior. Não podemos cair no erro de, à boa maneira portuguesa, passarmos 20 anos a discutir a melhor forma de resolver o problema, enquanto o problema se agiganta e provoca danos irreversíveis.

sábado, 7 de novembro de 2009

Watson e o gene colorido

Ora vamos lá lançar um calhau, no mínimo recheado de polémica (e talvez um pouco de inocuidade) , para ver se cria um ambiente fervoroso de discussão e partilha de ideias!
Hoje li aqui que um dos pais do ADN, o Prof. James Watson (JW), foi convidado pela Fundação Champalimaud a dar uma palestra acerca do cancro. Estas iniciativas são no meu entender extremamente benéficas para a divulgação da ciência no nosso País. Afinal de contas não é todos os dias que temos um prémio nobel em território Português (sim, porque eu acredito na correlação "forte" entre prémio nobel e mérito cientifico, mas claro está, está é outra pedra e merece outro tipo de lançamento). Contudo lembrei-me de umas palavras proferidas pelo JW numa entrevista dada ao Sunday Times algures em 2007 onde dizia:

"inherently gloomy about the prospect of Africa because all our social policies are based on the fact that their intelligence is the same as ours - whereas all the testing says not really"

Claro que estas palavras, lidas de forma literal (isto soa-me a caso recente), despertam algum sentimento de revolta, uma vez que podem ser conotadas de racistas. O Sr. JW tenta esclarecer melhor a sua posição:

"We do not yet adequately understand the way in which the different environments in the world have selected over time the genes which determine our capacity to do different things. The overwhelming desire of society today is to assume that equal powers of reason are a universal heritage of humanity. It may well be. But simply wanting this to be the case is not enough. This is not science. To question this is not to give in to racism. This is not a discussion about superiority or inferiority, it is about seeking to understand differences, about why some of us are great musicians and others great engineers."

Eu sempre pensei, de uma maneira muito simplista, que fosse o calor que fizesse atrasar o desenvolvimento na generalidade dos países africanos. Agora vejo que há quem acredite que os genes podem explicar esse atraso.
Afinal de contas, será que o gene colorido africano é mais preguiçoso que o gene desbotado dos nórdicos?
Vá lá, a nível estatístico até que poderíamos suportar as palavras do JW, mas serão elas completamente desprovidas de sentido?