sábado, 7 de novembro de 2009

Watson e o gene colorido

Ora vamos lá lançar um calhau, no mínimo recheado de polémica (e talvez um pouco de inocuidade) , para ver se cria um ambiente fervoroso de discussão e partilha de ideias!
Hoje li aqui que um dos pais do ADN, o Prof. James Watson (JW), foi convidado pela Fundação Champalimaud a dar uma palestra acerca do cancro. Estas iniciativas são no meu entender extremamente benéficas para a divulgação da ciência no nosso País. Afinal de contas não é todos os dias que temos um prémio nobel em território Português (sim, porque eu acredito na correlação "forte" entre prémio nobel e mérito cientifico, mas claro está, está é outra pedra e merece outro tipo de lançamento). Contudo lembrei-me de umas palavras proferidas pelo JW numa entrevista dada ao Sunday Times algures em 2007 onde dizia:

"inherently gloomy about the prospect of Africa because all our social policies are based on the fact that their intelligence is the same as ours - whereas all the testing says not really"

Claro que estas palavras, lidas de forma literal (isto soa-me a caso recente), despertam algum sentimento de revolta, uma vez que podem ser conotadas de racistas. O Sr. JW tenta esclarecer melhor a sua posição:

"We do not yet adequately understand the way in which the different environments in the world have selected over time the genes which determine our capacity to do different things. The overwhelming desire of society today is to assume that equal powers of reason are a universal heritage of humanity. It may well be. But simply wanting this to be the case is not enough. This is not science. To question this is not to give in to racism. This is not a discussion about superiority or inferiority, it is about seeking to understand differences, about why some of us are great musicians and others great engineers."

Eu sempre pensei, de uma maneira muito simplista, que fosse o calor que fizesse atrasar o desenvolvimento na generalidade dos países africanos. Agora vejo que há quem acredite que os genes podem explicar esse atraso.
Afinal de contas, será que o gene colorido africano é mais preguiçoso que o gene desbotado dos nórdicos?
Vá lá, a nível estatístico até que poderíamos suportar as palavras do JW, mas serão elas completamente desprovidas de sentido?




3 comentários:

  1. O facto de uma coisa ser politicamente incorrecta, não a torna uma mentira. Penso que há três questões a ter em conta.
    - A pressão evolucionista faz com que certas características genéticas sejam acentuadas em populações onde essas características representem uma vantagem elovucionísta.
    - A nível genético, somos iguais às primeiras sociedades caçadoras-recolectoras. Já temos alguma adaptação genética em relação ao advento da agricultura mas isto ainda é muito recente na nossa história para causar um impacto significativo.
    - A diferenças entre os sexos, devido à acção das hormonas (não genéticas), são bastante maiores que as diferenças entre populações de etnías distintas.

    A evolução de uma sociedade é muito mais dependente da forma com que os homens tem acesso às mulheres, do que outros factores como políticas sociais ou inteligência.
    Todas as sociedades poligâmicas reflectem uma estratificação de classes muito rígida e em termos económicos, são inevitavelmente subdesenvolvidos.

    Este tópico é desenvolvido em detalhe no livro "Rainha de Copas - "Matt Ridley"

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  2. Entendo a dificuldade em se discutir este tema do ponto de vista cientifico sem ser atacado com a tag de racista. Tal como diz o Fausto, o facto de ser melindroso e até politicamente incorrecto não faz com que seja mentira ou desmerecedor de análise.

    Estando muito longe de ser um especialista nesta área, parece-me estranho que essa diferença venha dos genes. Bem, em última análise, parece ser cientificamente aceite que todos descendemos dos primeiros hominídeos, que se encontravam em África. Assim, parece-me mais natural acreditar que a diferença se deva a grandes diferenças de pressão evolucionista. Mais: penso que se trata de uma questão do foro do desenvolvimento social, muito mais do que biológica.

    De qualquer das formas, a análise deve ser feita. Sem que se usem fundamentalismos para a condicionar. Nem o preconceito racista, nem o oposto, aquele em que muitas vezes sustentamos a "discriminação positiva".

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  3. Não tenho dados científicos que me permitam afirmar que "os pretos são mais burros do que os brancos". Mas, do que me é dado a ver, posso concluir que os países africanos podiam ser tão melhores do que aquilo que são!
    Muitos dirão que é culpa dos brancos!
    Outros, dirão que é culpa dos genes!
    Outros, ainda, da tirania de muitos!
    Todos estarão certos! Mas fica-me apenas a desilusão de que África não é (e não sei se será!) o continente que podia e devia ser!

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