O tema da avaliação dos professores voltou à ribalta (se é que alguma vez saiu), com o CDS a tentar encontrar um ponto de encontro entre a posição do governo e a dos sindicatos, ambas intransigentes até ao momento. Esta estabilidade é fundamental para o bom funcionamento do sistema de ensino, mas sinceramente espero que a base da proposta do governo se mantenha: avaliação, com subida na carreira baseada no mérito.
Fundamental para um possível entendimento é a não-intervenção de Mário Nogueira, pelo menos no estilo a que nos habitou. Já por várias vezes mostrei o meu descontentamento para com a atitude deste "professor" (há quantos anos não dá aulas mesmo?), como por exemplo aqui e aqui.
No fundo, o que me faz imensa confusão é ver tantas medidas que trazem mais dignidade à profissão e que motivam uma cultura de excelência, premiando quem de facto se revela merecedor, serem rejeitadas pelos sindicatos, usando a capa da "luta". Usando o argumento de serem uns coitados explorados pelo estado.
Veja-se o quanto o Estado os explora, neste excerto do Diário da Republica onde se podem ver alguns valores das reformas atribuídas pela Caixa Geral de Aposentações:
(dados obtidos a partir da publicação em Diário da Republica; podem ser consultados aqui)
Esta estratégia de Mário Nogueira é infeliz, muito infeliz, pois apenas contribui para o deterioramento da já desgastada imagem da classe docente. Trata-se de uma classe que é vista como privilegiada por uma parte significativa da opinião pública, donde esta atitude de "vitimização" vem apenas piorar essa imagem.
Trata-se de uma profissão crucial para o desenvolvimento de uma sociedade. Assim, é natural que se trate de uma classe privilegiada, de uma elite. É natural que queiramos privilegiar quem educa e forma os nossos filhos.
Mas, assim, é também natural exigir elevação, qualidade e excelência. Privilégios aos melhores, aos que nos privilegiam com a sua capacidade de ensinar. Para que sejam uma elite admirada pelo sociedade, é necessário que lutem por promover os melhores e afastar os que não dignificam a profissão.
Sejamos francos: não é essa a imagem que Mário Nogueira e, consequentemente, a classe dos professores nos tem vindo a transmitir.
O actual processo de avaliação pode não ser o melhor, mas é certamente melhor do que o vazio anterior. Não podemos cair no erro de, à boa maneira portuguesa, passarmos 20 anos a discutir a melhor forma de resolver o problema, enquanto o problema se agiganta e provoca danos irreversíveis.
Oh Rui!
ResponderExcluirJá tive a oportunidade de te dizer o quanto concordo contigo, no que concerne ao Sr. Mário Nogueira!
Mas quanto ao resto do post... tenho as minhas reticências...
Sim... sou professor e como tal, não gosto de ver a minha profissão exovalhada em público! Não por uma questão barata de defender por defender, mas porque nesta crítica juntas bons e maus profissionais! Naquela lista tens com certeza professores que merecem as reformas que têm! Outros nem tanto e penso que são esses que têm de ser criticados! Mas reparem que a avaliação nunca (e repito com letras garrafais NUNCA) lhes mexerá na reforma! E digo mais! O sistema de avaliação ainda em vigor é tão injusto que aumentará o número de professores incompetentes a ganhar reformas daquelas! Porquê? Fácil! Porque o professor que for activo e que critique o que acha mal, facilmente será crucificado e injustiçado neste sistema de avaliação.
A todos aqueles que acham que estou aqui a defender a não-avaliação respondo que estão completamente enganados! Não quero este sistema de avaliação que favorece o compadrio tão típico da classe política em geral e do PS em particular!
Mais acrescento que é o sistema mais estúpido que vi surgir nos últimos tempos! Para combater a progressão automática das carreiras, então cria-se um sistema que tem como principal fundamento um concurso que se baseie na própria progressão automática das carreiras! Não vejo elemento nenhum que se possa interligar ao mérito! E ao passar pelo primeiro ano de avaliação só me fez ter a certeza de que este processo é escabroso a nível burocrático! E era só o regime simplificado! Por isso imaginem o regime completo...
E a todos aqueles que estão a pensar que sou professor porque quero uma reforma de 2700 euros e por causa de todos os privilégios que a profsissão possa ter, então deixem-me dizer-lhes que nunca ganharei isso! Ganho 1100 euros há 4 anos e sempre exerci a minha profissão com um gosto enorme e num horário bem alargado (nunca menos de 50h semanais)! Doença, dirão muitos, mas então é de deste tipo de doentes que os nossos jovens precisam!
E, por último, se me permitem as palavras comuns mas sábias: "se acham que ser professor é um privilégio, então tentem ser professores!"
Beto,
ResponderExcluirNeste critica não pretendo atacar uma classe, nem nenhum profissional em particular, pela sua qualidade enquanto docentes. Pretendo, isso sim, criticá-los por uma estratégia errada. Dirias que essa estratégia foi desenhada pelo Mário Nogueira, mas a classe manifestou em peso ao lado deste senhor.
Exactamente por existirem bons ou maus profissionais é que critico a classe por não lutar por um processo de avaliação! Concordo contigo: o processo actual pode não ser o melhor. Mas é preciso começar por algum lado. Não podemos paralisar tudo à espera de agradar a gregos e troianos. O nosso país é um excelente exemplo das consequências dessa filosofia.
Exactamente por existirem bons e maus profissionais é que o anterior sistema não pode continuar! Não podemos ver verdadeiros idiotas da docência progredir na carreira ao mesmo nível de todos apenas porque... sim. Isso sim contribui (e de que maneira!) para a imagem de classe privilegiada! Mais: o anterior sistema premeia os incompetentes e, consequentemente, desmotiva os brilhantes docentes que há neste país. E isso não pode continuar!
Mais uma vez, Beto, eu concordo que o actual sistema está longe de ser perfeito. É injusto numa fase transitória (sim, porque daqui a vinte anos já todos seriam avaliados desde o inicio da carreira e aí este problema desaparece), é pesado burocraticamente, muito pesado mesmo. Mas é um ponto de partida! Há que começar por algum lado e ir afinando os detalhes para que em alguns anos o sistema já esteja a funcionar em níveis aceitáveis. Agora, se fizermos à boa maneira portuguesa, suspendemos tudo, andamos esta legislatura inteira a discutir qual o melhor sistema (tentando agradar a gregos e troianos, competentes e incompetentes). Depois, andamos mais uma legislatura para colocar o então definido processo de avaliação em funcionamento. Vá, uma estimativa optimista diz-me que dentro de 6 anos estaria a arrancar o processo de avaliação com efeitos válidos.
Respondendo à tua última frase, ser professor é de facto um privilégio. Ajudar mentes ávidas de conhecimento a desenvolverem-se é um dos maiores privilégios a que um Homem pode ambicionar.
Beto, sei que como tu existem inúmeros professores empenhados em melhorar o nosso sistema de ensino e, assim, fazer a nossa sociedade evoluir. Daí sentir-me muito esperançado no futuro do nosso ensino. Mas, Beto, para que tu e esses demais tenham a oportunidade de mudar o sistema, é preciso incutir uma cultura de excelência. É preciso que vocês sejam a voz dominante. É preciso correr com os (também muitos) que estão agarrados ao "tacho".