Já por mais do que uma vez manifestei a minha opinião acerca do Jornal Nacional e, em particular, da Manuela Moura Guedes (aqui, aqui, aqui e ainda aqui - uau, não gosto mesmo da senhora...). Não é novidade para ninguém que reprovo por completo o jornalismo sensacionalista: ser jornalista representa ser uma ponte isenta entre a informação e os cidadãos, daí ser fundamental em democracia a existência da liberdade de imprensa, mas também de um código deontológico do jornalista. O problema é que, enquanto que algum ataque ao primeiro despoleta uma onda de contestação - e ainda bem!-, quando alguém desrespeita o segundo e é atacado por isso, recorre imediatamente ao primeiro, num estilo muito semelhante ao de virgens ofendidas. Adiante.
Fiquei muito surpreendido com a decisão de suspender o Jornal Nacional. Do ponto de vista de gestão económica, não faz sentido nenhum que a Direcção da TVI tenha decidido "deitar fora" um dos seus melhores activos (melhor, só as novelas). Talvez do ponto de vista ético faça algum, mas isso é outra história. Talvez haja a nova direcção tenha a intenção de acabar com a imagem sensacionalista da TVI e tenha decidido cortar o mal pela raiz. Sinceramente, não acredito.
Algo de estranho aconteceu, parece-me claro. Mas já há algum tempo se ouviam rumores que quem vinha segurando a Manuela Moura Guedes e o seu "jornalismo" era o seu marido. O "clima" não era bom. Algo aconteceu, certamente.
É natural e expectável que entre a população se comente a possibilidade de este "despacho" ter sido encomendado pelo governo. Faz parte da nossa essência portuguesa: gostamos de novelas (daí termos a TVI como líder das audiências). Que alguns meios de comunicação sensacionalistas embarquem nessa onda, também me parece natural (afinal, como a Manuela provou, as novelas é que dão audiências). O que eu não esperava é ver a classe politica e de analistas politicos assumirem de imediato que a novela é verdadeira. Vejamos:
- PCP atribui suspensão do Jornal da TVI ao incómodo do Governo e Sócrates
- Portas atribui “censura” do Jornal Nacional a "ordem socialista"
- Aguiar-Branco afirma que "Portugal e a democracia estão de luto”
- José Eduardo Moniz diz que “há um cerco à liberdade de informação”
- Paulo Rangel: "José Sócrates conseguiu a coisa extrema de limitar a liberdade de expressão em Portugal 35 anos depois do 25 de Abril. É absolutamente espantoso que em 2009 tenhamos que voltar a empunhar a bandeira da liberdade de expressão"
Vejamos então alguns títulos em blogs de opinião politica, bastante conceituados:
- A nova censura
- SIMplex na TVD (Televisão Dependente)
- LIBERDADE!!!
- Manuelita fuera de GloboTVIsión! Abajo los enemigos de la Revolución!
- Asfixia democrática
Deixem-me cá lançar polémica: e se Sócrates e o PS nada têm haver com a suspensão? UI! Que maluqueira!
De facto, acho que o que temos assistido à volta deste caso mostra uma democracia doente. Sobretudo porque os próprios defensores ofendidos da liberdade desprezam a liberdade de quem talvez esteja inocente. Tal como dizia a Manuela Ferreira Leite, não importa se as acusações são verdadeiras, o que importa é a suspeição levantada. É exactamente o mesmo principio usado pelas beatas, para quem um boato é a realidade e a realidade muitas vezes um boato. Isto assusta-me. Mesmo. Assusta-me a facilidade com que se fazem este tipo de acusações, quase à lá "Teoria da Conspiração".
Depois temos a Manuela Moura Guedes a lançar mais polémica: "Temos pronta uma peça sobre o Freeport". Para bem da nossa democracia, espero que essa peça seja emitida. O mais rápido possível. E que não se faça uma nova novela depois dessa transmissão, argumentando censura no conteúdo da peça.
Mas de facto é muito estranho. É estranho a TVI desperdiçar o seu melhor activo noticioso. É estranho acabarem com o serviço noticioso que mais tem vindo a criticar o governo português a poucos dias das eleições. Tão estranho como um governante português ter poder sobre uma entidade privada espanhola (PRISA) ou sobre a Media Capital. Tão estranho como um governo ser estúpido ao ponto de ter "calado" imprensa opositora a dias de eleições, menosprezando a mais que expectável onda de vozes a acusá-los de censura e o consequente impacto nas intenções de voto.
Muito estranho, não é? Vamos escrever uma novela para a TVI colocar no ar às sextas, às 21h?
Ora aqui está outro ponto de vista interessante.
ResponderExcluirA "Manela" não fazia jornalismo mas sim um circo sensacionalista.
ResponderExcluirCá para mim foi a melhor limpeza que fizeram na TVI desde que acabaram de vez com o Big Brother...
Acho extraordinário que se considere este acontecimento "estranho". Porquê estranho?
ResponderExcluirSim, seria estranho se fosse "encomendado" pelo Sócrates e pelo PS, porque era um tiro no pé. E mesmo que houvesse a tal reportagem sobre o Freeport, era isso que impedia de a conhecer?
Sim, parece estranho que aconteça na véspera do programa reaparecer, mas será que isso não foi intencional? Será que não foi uma forma simples de ampliar a "onda de choque"?
Estranho, sim, (ou talvez não), é o "surf" que políticos ditos responsáveis fizeram nessa onda de choque.
Estranho, sim, é quem comenta não conseguir ver a quem, verdadeiramente, interessa toda esta polémica e suspeita criada em volta da suspensão do programa. Ao Sócrates não é, decerto. Mas não falta a quem...
Nem mais, André. É como te digo: mais uma novela criada pela TVI. O que é verdadeiramente preocupante é que os actores, ou até mesmo os guionistas, sejam a classe politica juntamente com os analistas políticos.
ResponderExcluirAh, e para juntar mais um à lista dos que têm a ganhar com esta situação, repara lá nisto :-)
Muito obrigado por ter comentado o post no meu blogue "Questões Nacionais". Realmente, como disse, temos uma opinião muito próxima.
ResponderExcluirParabéns pelo seu blogue. Tem muito boa apresentação, parece-me independente e de grande actualidade.
Voltarei com toda a certeza.
Abraço.
Rui,
ResponderExcluirLamentável que o Jornal Nacional tenha sido cancelado. Concordo que não era um bom programa jornalístico, mas em um ambiente democrático apenas o telespectador tem o poder de cancelar programas (ao mudar de canal).
O primeiro-ministro merece todo o desgaste pois foi ele quem resolveu envolver-se de forma tão intensa nesta questão. Nunca um primeiro-ministro pode ir à televisão e falar de um programa da forma que ele falou naquela entrevista na RTP. Depois a questão da compra da controladora da TVI pela Portugal Telecom que também foi uma história muito mal contada.
Tiago,
ResponderExcluirRelativamente à questão de ser apenas o telespectador que tem o poder de cancelar programas, já o discutimos, e como sabes, eu não penso exactamente dessa forma. Em anarquia, sim. Mas em democracia não concordo contigo. Em democracia tem de haver um equilíbrio entre direitos e deveres e, no caso particular do jornalismo, entre liberdade de imprensa e respeito ao código. E aí acho necessário que haja um organismo (ERC) que esteja atento a estas situações.
Sócrates merece? Bem, essa já não sei... Lembraste certamente da caça ao homem. Ora, no caso de ele estar inocente, isso provoca-lhe desgaste, como é natural. Concordo que ele não podia ter perdido as estribeiras, mas também não me parece justo crucificá-lo à custa disso.
O que mais me surpreende é ver a classe politica entrar nesta onda, como diz o André. Já não há dignidade? Já não há respeito?
Nunca descobriremos se foi ou nao uma limpeza propositada pelo PS, mas acho que estamos todos de acordo: foi uma optima limpeza! O pais ja estava cansado e doente das opinioes dessa malfeitora e da projeccao tao mediatica que lhes dava. Concordo com a indecência de se pegar neste assunto e faze-lo viver como arremesso politico contra o PS. Mas a oposicao nao podia deixar escapar esta oportunidade de comunicar com o Portugal profundo, mostrando-lhe o calculismo implacavel do Governo. Parece-me notoria a falta de ideias da oposicao! Tudo o que rodeia este caso e estranho..sera que nao estaria nos planos da direccao da TVI fazer da Sra. Manuela um martir?
ResponderExcluirEu já tinha previsto que a Manuela Moura Guedes saísse, logo a seguir ao marido ter abandonado a TVI. O que eu acho estranho é ela ter tanta audiência, não é o facto de ela ter saído.
ResponderExcluirAntigamente, os jornalistas faziam estágios na BBC, para aprender com o melhores do mundo. Hoje em dia, não sei onde fazem estágios mas apostaria que fazem na FOX News.
Lembram-se daquela cena no Fight Club, em que o tipo começa a fingir que está apanhar porrada do chefe, quando este o despede, para tramar o chefe?
Este caso faz-me lembrar essa cena... nenhuma reportagem do Freeport teria tanto impacto como despedir a Manuela Moura Guedes.
Bem, aqui vai mais uma voz a clamar pela estranheza desta situação. Ainda para mais quando nesse mesmo dia de manhã MMG dá uma entrevista a chamar de estúpidos àqueles que queriam cancelar o Jornal Nacional às 6as!
ResponderExcluirMas como em muitos dos problemas do nosso país é necessário passar um tempo para se perceber um pouco melhor o que se passou. E, surge então uma nova notícia: acções da IMPRESA sobem mais 4%. Espera! Mas o marido da MMG não é agora um administrador da Ongoing que detém uma parcela desta Impresa, que por sua vez é dona da SIC concorrente da TVI??
As acções da MediaCapital descem, num futuro próximo vai dar prejuízo e lá vai a PT comprar a MediaCapital conforme negócio anunciado há pouco tempo, mas agora por metade do preço!
Oh meu Deus! Afinal a MMG tem toda a razão! Há gente muito estúpida a gerir a TVI!
E atenção! Nem falo das questões políticas, porque como se viu em Gondomar, Felgueiras e Oeiras, o que os portugueses querem é governantes suspeitos de crimes e no meio disto tudo, quem fica a ganhar é o próprio Sócrates!
Conclusão: Eu quero é sair destas novelas todas! Oh São Salgueiro Maia, porventura não deixaste por cá um igual a ti??
Tal como o que aconteceu consigo, eu não compreendo o porquê da oposição dar como certo toda esta novela Moura Guedes. Alguém de bom senso acha que essa senhora protagonizava um jornalismo imparcial? Decerto que não. O pior nem sequer é isso, o pior é vermos os analistas políticos compararem este caso com o caso Marcelo, pois como sabemos, tratava-se de um comentador, e como tal ,tem a sua opinião acerca das mais variadas temáticas, enquanto Manuela Moura Guedes tem a obrigação de passar a informação de forma isenta, será que alguma vez o fez?
ResponderExcluirMário Martins