Mostrando postagens com marcador eleições legislativas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador eleições legislativas. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Candidato Dr. Brancos e Nulos

Os resultados das eleições presidenciais são já conhecidos. Várias interpretações subjectivas sobre os resultados são já públicas. Vitoriosos e derrotados (por vezes, uma só pessoa é ambos) irão ser tema durante os próximos dias.

Para não correr o risco de entrar numa análise que seria apenas mais do mesmo, decidi apresentar uns dados (objectivos) sobre um tipo de voto usualmente ignorado pelos analistas e políticos (a razão deste ignorar tão consensual ainda me é desconhecida): os votos em branco e os votos nulos. Penso que um cidadão que se dá ao trabalho de votar em ninguém deve ter algo a dizer. Ao contrário da abstenção.

Nestas eleições, num total de 4 489 904 milhões de votos, houve 86 543 votos nulos (1,93%) e 191 159 votos em branco (4,26%). Assim, este tipo de voto perfaz um total de 277 702 votos, o que representa 6,19% do total de votos. Considerável.

Mais interessante ainda é recalcular as percentagens de votos considerando o candidato Dr. Brancos e Nulos como candidato válido. Vejamos a distribuição obtida:

Cavaco Silva 49,67%
Manuel Alegre 18,53%
Fernando Nobre 13,23%
Francisco Lopes 6,70%
Dr. Brancos e Nulos 6,19%
José Coelho 4,22%
Defensor Moura 1,47%

Ou seja: teríamos segunda volta. Isto demonstra que os eleitores que optam pelo voto em branco e pelo voto nulo têm algo a dizer.

Olhemos agora para os resultados obtidos por este candidato nas eleições presidenciais e legislativas desde o 25 de Abril.

Legislativas 1976: 257 696 (4,7%)
Legislativas 1979: 163 714 (2,72%)
Legislativas 1980: 137 662 (2,28%)
Legislativas 1983: 146 770 (2,57%)
Legislativas 1985: 145 319 (2,51%)
Legislativas 1987: 123 668 (2,18%)
Legislativas 1991: 110 672 (1,93%)
Legislativas 1995: 113 093 (1,92%)
Legislativas 1999: 108 194 (2,0%)
Legislativas 2002: 107 774 (1,97%)
Legislativas 2005: 169 052 (2,94%)
Legislativas 2009: 175 980 (3,09%)

Presidenciais 1976: 63 495 (1,3%)
Presidenciais 1980: 60 090 (1,1%)
Presidenciais 1986 (1ª volta): 64 626 (1,1%)
Presidenciais 1986 (2ª volta): 54 280 (0,9%)
Presidenciais 1991: 180 914 (3,5%)
Presidenciais 1996: 132 791 (2,3%)
Presidenciais 2001: 127 901 (2,8%)
Presidenciais 2006: 102 785 (1,84%)
Presidenciais 2011: 277 702 (6,19%)

Para que seja ainda mais fácil visualizar a relevância do resultado obtido pelo candidato Dr. Brancos e Nulos nestas eleições, deixo-vos um gráfico que mostra a evolução da votação neste candidato.

Fig. 1: Número total de votos no candidato Dr. Brancos e Nulos

Fig. 2: Votos no candidato Dr. Brancos e Nulos, como percentagem do total

Deixo qualquer análise ao cuidado do leitor.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O valor real das coligações

Analisando o Shapley value das possíveis coligações é possível determinar o verdadeiro peso político de cada partido.
  • PS: 40%
  • PSD: 26,7%
  • PP: 20%
  • BE: 6,7%
  • CDU:6,7%
Assume-se que os deputados pelos círculos eleitorais da Europa e Fora da Europa são repartidos entre o PS e PSD.

Clarificação:
O Shapley value foi calculado para a maioria simples e assume-se que os partidos da coligação votam a favor, e os que não estão, votam contra.
Exemplo:
  • A coligação PS+BE é equivalente a 46,7%, que é insuficiente para maioria simples.
  • A coligação PS+CDU é equivalente à PS+BE, porque apesar do BE ter mais deputados, não existe nenhuma coligação possível que não possa ser feita com o BE, que também não possa ser feita com a CDU.
  • O PP tem um Shapley value superior à sua representação no parlamento, uma vez que consegue viabilizar várias coligações: {PS+PP, PSD+BE+PP, PSD+CDU+PP}.
  • Por outro lado, o PSD fica pouco acima do PP porque é apenas necessário para coligações que não incluam o PS.
  • Basicamente, qualquer coligação que têm um Shapley value superior a 50%, terão a maioria simples.

E o vencedor é...

...a democracia portuguesa. Pelo menos esta é a minha esperança. Lá chegaremos, mas antes olhemos para os partidos: o CDS é o grande vencedor destas eleições; o BE e sobretudo o PSD os derrotados.

Porque penso que o Bloco teve um desempenho negativo nestas eleições? Porque não concretizou o seu potencial. Existia uma grande dinâmica em torno do BE porque a esquerda descontente via no Bloco uma alternativa viável ao PS. Além disso, muitos eleitores "independentes" viam no Bloco uma oposição útil. O potencial no inicio da campanha era enorme e a possibilidade/expectativa de triplicar o número de deputados fazia todo o sentido. Acima de tudo, a possibilidade de governar com o PS ou então condicionar o futuro governo era uma realidade perfeitamente ao alcance.

O problema é que, com o decorrer da campanha, o BE foi desmascarado, digamos assim, e a sua imagem foi sendo colada à extrema esquerda. A sua ideologia tornou-se mais próxima da do PCP aos olhos do eleitor independente, o que fez com que muitos destes optassem por um voto útil diferente (CDS). O momento fulcral é aquele em que grande parte do eleitorado tomou consciência de que o BE poderia formar governo com o PS (algo de que tentaram desmarcar-se, com pouco sucesso) ou pelo menos ter força suficiente para, sozinhos, condicionarem um futuro governo. Isso criou algum receio em parte do eleitorado que via no BE um voto útil, que passou a procurar opções de voto mais "seguras".

O Bloco de Esquerda duplicou o número de deputados, o que é de louvar. Mas eu vejo o BE como um dos derrotados porque não soube aproveitar uma conjectura claramente favorável para chegar ainda mais longe. Ainda assim, os meus parabéns ao Dr. Louça por atingir um marco histórico na (ainda curta) história do Bloco de Esquerda e também da política nacional.

Quanto ao PSD, obteve uma derrota que, no mínimo, é estrondosa. É a consequência de dois aspectos cruciais: a péssima campanha eleitoral e, na sua base, de uma desunião dentro do partido. Este resultado é muito mais do que o quarto pior resultado do PSD desde 1976, muito mais do que apenas 0,32% melhor do que Pedro Santana Lopes em 2005: é tudo isso numas eleições frente ao primeiro-ministro mais contestado, mais desgastado e mais envolvido em polémicas (provavelmente) desde Salazar.

Esta derrota é a derrota da campanha isenta de compromissos levada a cabo pelo PSD. O único compromisso com os portugueses assumido pelo PSD foi o de retirar Sócrates do poder. Como ficou demonstrado, isso não basta para convencer os eleitores. Não basta dizer que o que lá está é mau, é preciso mostrar como se pode ser melhor. A aposta no tema da asfixia democrática saiu cara, como esperava. Foi um erro estratégico, sobretudo porque colocaram Sócrates numa posição em que ele se sente como peixe na água.

Eu sou optimista por natureza e, por isso, quero ver esta derrota do PSD como a derrota da "oposição do contra" e do "bota-abaixismo". Talvez esteja a ver castelos na nuvens, mas deixem-me apreciá-los enquanto o vento não os empurra daqui para fora.

Paulo Portas e o CDS foram o contraste (pelo menos à direita) de Manuela Ferreira Leite e da campanha do PSD: comprometeram-se com os portugueses ao apresentar propostas concretas, fugiram aos ataques pessoais e focaram-se em temas que realmente interessam a uma grande fatia do eleitorado. Resultado: passaram a barreira dos 10%, passaram a ser a 3ª força politica no parlamento e, mais importante, tornaram-se o partido (excluindo o PSD) que pode viabilizar sozinho um governo com o PS.

Portas foi o destaque positivo ao longo de toda a campanha eleitoral. Embora não seja apreciador do seu estilo, Paulo Portas mostrou ser um grande líder partidário. Os meus parabéns ao CDS pois, para além da vitória, obtiveram-na recorrendo a "politica de verdade".

Já o PCP (ou melhor, a CDU) teve um resultado "neutro". Embora tenha subido um pouco, passou para 5ª força no parlamento. É um sinal da necessidade de renovação no PCP. Mas também um sinal da estabilidade do seu eleitorado.

A análise aos resultados obtidos pelo PS e, em particular, por José Sócrates é difícil. Por um lado, o PS desce cerca de 9%, o que comprova o enorme desgaste da imagem de José Sócrates. Com esta queda, é difícil para mim concordar com o Primeiro Ministro quando enaltece a vitória obtida nestas eleições. Uma queda de 9% dificilmente pode ser vista como uma vitória, mesmo quando ainda assim é o partido mais votado e é reeleito como Primeiro Ministro.

Por outro lado, convém relembrar as batalhas travadas por este governo contra diversas classes. Professores, administração pública, magistrados, sindicatos, etc. O governo travou muitas destas batalhas mantendo-se fiel à sua visão (certa ou errada) o que levou a grande contestação e, consequentemente, grande desgaste. Ora, o facto de ainda assim terem sido reeleitos deve ser também lido à luz destas batalhas. Estarão os portugueses a dormir, como perguntava um homem hoje ao café? Ou concordarão os portugueses com o governo em todas as reformas, pois visam em geral classes consideradas privilegiadas? Ou estarão 36,56% dos eleitores, mesmo discordando de várias reformas impostas por este governo, a dar um voto de confiança a um executivo que se manteve fiel às suas ideias e levou as suas reformas avante, apesar de toda a contestação e as óbvias consequências para as eleições?

Assim, penso que é também difícil olhar para o resultado obtido como uma derrota clara para o PS. Talvez a melhor forma de descrever este resultado do PS seja um voto de confiança, mas com uma advertência muito forte. Sobretudo um alerta para a necessidade de diálogo.

É exactamente na necessidade de diálogo que reside a minha esperança, a esperança da democracia ter sido a grande vencedora destas eleições (apesar dos valores da abstenção, alarmantes para umas eleições tão importantes e num momento tão delicado). Os portugueses ditaram uma maior equilíbrio de forças no parlamento, o que levará obrigatoriamente a um maior diálogo entre os partidos. No pior dos casos (do ponto de vista do diálogo), mesmo que o PS e o CDS formem um governo de maioria absoluta, isso implicará um compromisso entre estes dois partidos que, em vários temas, têm posições opostas. Caso essa coligação não ocorra, o PS terá de obter acordos com diferentes partidos, devolvendo assim ao parlamento a sua principal função: discussão politica. E essa discussão terá de ser civilizada, pois nenhum partido está em posição de bloquear sozinho o governo. Até entre a oposição terá de haver diálogo.

Há quem preveja um período de grande instabilidade e novas eleições dentro de um ou dois anos. Como disse, sou optimista. E vejo nestes resultados uma excelente oportunidade de se elevar a qualidade da politica em Portugal. Pois ser governo agora exige cooperação. Pois ser oposição agora requer muito mais do que ser "do contra".

Este é o momento para ver até que ponto a classe politica é capaz de abandonar os seus odiozinhos e lutar, junta, por um Portugal mais forte.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sistema de votação para o parlamento

O sistema actual de votação para o parlamento e eleição do governo é claramente favorável a maiorias absolutas e minimização do peso dos pequenos partidos. O próprio método de Hondt, quem é utilizado em Portugal, é conhecido por favorecer os grandes partidos e as coligações. No entanto, o maior ataque à representação democrática são os círculos eleitorais, uma vez que existe uma grande quantidade de votos que são desperdiçados em todas as eleições.
Os partidos minoritários, em distritos com poucos deputados, raramente conseguem eleger um único deputado. No entanto, analisando o número de votos a nível nacional, a sua representação parlamentar devia ser muito superior.
Por outro lado, os círculos uninominais são considerados mais dinamizadores da participação democrática, visto que existe um deputado que representa uma região. Actualmente, os cabeças de lista dos partidos deviam ter esse papel, mas claramente isso não acontece.
Uma solução seria um sistema misto:
Cada distrito teria um deputado eleito por esse distrito. Estes deputados estariam livres para votar contra a orientação partidária e teriam como principal objectivo no parlamento defender os interesses do seu distrito.
As listas dos partidos seriam nacionais e os deputados eleitos pelo distrito dariam lugar ao nome seguinte da lista.
Nas eleições, poderiam existir dois tipos votações:
  • boletim único, em que o primeiro deputado eleito nesse distrito seria o deputado do distrito e todos os outros votos seriam contabilizados para a lista única nacional.
  • dois boletins, em que a votação para o deputado do distrito e a votação para a lista nacional seriam independentes. Este sistema teria alguns paralelismos com os sistemas parlamentares com senadores e deputados, mas sem a existência de um senado.

Com uma lista nacional, o número de deputados poderia ser reduzido para 122, dos quais 100 seriam eleitos pela lista nacional, 18 seriam eleitos pelos distritos, 2 pelas regiões autónomas e 2 seriam eleitos pelos círculos da Europa e do resto do mundo. A redução do número de deputados teria como consequência que, mesmo os deputados eleitos pela lista nacional, deixariam de ser anónimos, tal como acontece actualmente com muitos dos 230 deputados. Esta maior visibilidade dos deputados significaria uma maior responsabilização do seu trabalho, nomeadamente nas discussões das leis na especialidade. Seria reconhecida a especialização de certos deputados em áreas especificas da política. A redução do número de deputados também significaria um orçamento superior para a remuneração dos deputados, com o intuito de aumentar a competitividade do serviço publico e atrair os melhores profissionais.

Em conclusão, estas medidas teriam como objectivo reduzir o número de votos que são dispersados pela fragmentação dos círculos eleitorais e aumentar a responsabilização e visibilidade dos deputados para além de introduzir um grupo novo de deputados que teriam a responsabilidade de defender os interesses da sua região.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Leituras

Continuo afastado por uns tempos (até ao final da minha estadia no MIT) dos comentários políticos, mas não da leitura. Assim, partilho convosco alguns textos que cativaram a minha atenção recentemente:

Gostava também de chamar a atenção para um excelente blog: Fado Positivo. Um blog que vai na direcção dos meus ideais, dos meus princípios. Para abrir o apetite, vou citar apenas a descrição que o autor faz do blogue:

"Fado Positivo

Farto do bota-abaixismo.
Farto dos maus agoiros, o derrotismo e os fatalismos.
Farto do discurso do coitadinho.
Farto do discurso político vigente da desgraça iminente, apenas interrompido durante os anitos em que se está no poder.
Farto da táctica política do "quanto pior, melhor".
Farto duma imprensa que vasculha entre relatórios gigantescos até encontrar uma nota de rodapé com uma má notícia, e que apresenta os dados no modo mais sensacionalista possível.
Farto duma opinião pública que considera que qualquer má notícia é 100% objectiva e qualquer boa notícia é uma manipulação do governo.
Farto do "dantes é que era", o "isto está cada vez pior" e o "só neste país".
Farto dos velhos do Restelo.

Este blogue é optimista.
Ponto final."

Precisamos desta mudança de paradigma. Urgentemente! Parabéns ao Miguel Carvalho pela iniciativa!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

PVB

A 25 de Junho de 2009, a Manuela Ferreira Leite disse:

“Vamos rasgar e romper com todas as soluções que têm estado a ser adoptadas em termos de política económica e social”

Hoje, 9 de Junho de 2009, Manuela Ferreira Leite diz:

"Não há nenhuma medida anunciada por este Governo com a qual eu discorde. Eu nunca disse que rasgaria políticas sociais. Não há nenhuma medida a que o PSD se tenha oposto ou que tenha criticado sequer"

Eu bem quero ter esperança nesta senhora. Eu bem quero acreditar na classe politica. Eu bem quero acreditar que existe "politica de verdade" (entenda-se: politica a sério). Mas assim... Bem, irei eu de novo para o PVB?

P.S: Roubado do fantástico We have Kaos in the Garden: