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domingo, 22 de maio de 2011

Por uma representação mais justa

Considero que a lei eleitoral tal como está actualmente já não satisfaz em termos de representatividade política. A Constituição prevê uma série de mecanismos que poderiam melhorar a lei actual. Por outro lado, algumas provisões já não reflectem a sociedade actual.

O seguintes artigos aqui reproduzidos foram retirados da Constituição da República Portuguesa.

Artigo 148.º

Composição

A Assembleia da República tem o mínimo de cento e oitenta e o máximo de duzentos e trinta Deputados, nos termos da lei eleitoral.

Artigo 149.º

Círculos eleitorais

1. Os Deputados são eleitos por círculos eleitorais geograficamente definidos na lei, a qual pode determinar a existência de círculos plurinominais e uninominais, bem como a respectiva natureza e complementaridade, por forma a assegurar o sistema de representação proporcional e o método da média mais alta de Hondt na conversão dos votos em número de mandatos.

2. O número de Deputados por cada círculo plurinominal do território nacional, exceptuando o círculo nacional, quando exista, é proporcional ao número de cidadãos eleitores nele inscritos.

Artigo 151.º

Candidaturas

1. As candidaturas são apresentadas, nos termos da lei, pelos partidos políticos, isoladamente ou em coligação, podendo as listas integrar cidadãos não inscritos nos respectivos partidos.

2. Ninguém pode ser candidato por mais de um círculo eleitoral da mesma natureza, exceptuando o círculo nacional quando exista, ou figurar em mais de uma lista.

Artigo 152.º

Representação política

1. A lei não pode estabelecer limites à conversão dos votos em mandatos por exigência de uma percentagem de votos nacional mínima.

2. Os Deputados representam todo o país e não os círculos por que são eleitos.

A Constituição prevê uma série que situações que claramente poderiam melhorar a representatividade política.

  1. Redução para 180 deputados - só os pequenos partidos estão contra porque iriam perder assentos no parlamento, mas não existe mais representatividade por ter mais 50 deputados.
  2. Conversão dos círculos plurinominais em uninominais e criação de um círculo nacional - hoje em dia, as pessoas só sabem quem é o cabeça de lista do distrito, por isso seria equivalente ter círculos uninominais. O círculo nacional permitiria agregar todos os votos que se perdem pelo fracionamento imposto pelos círculos plurinominais. Também permitia uma melhor representatividade dos pequenos partidos, uma vez que em círculos eleitorais com poucos deputados, todos os assentos parlamentares são distribuídos entre os dois maiores partidos.

No entanto, a sociedade actual procura cada vez mais uma representatividade fora da estrutura partidária e o facto de partidos incluírem nas suas listas um determinado número de independentes já não é suficiente. Desse modo, a constituição deveria ser revista para abrir a assembleia à sociedade civil.

  1. Os candidatos por círculos uninominais são propostos a nível individual, podendo também fazer parte das listas dos partidos políticos no círculo nacional - Os círculos uninominais seriam a solução mais simples para permitir a representatividade da sociedade civil fora da estrutura partidária. No entanto, os partidos poderiam continuar a escolher os seus candidatos para cada distrito e incluí-los no círculo nacional caso não fossem eleitos, tal como previsto no ponto 2 do artigo 151.º.
  2. Os deputados eleitos por círculos uninominais são independentes e representam o seu círculo - um deputado que é eleito por um círculo uninominal tem por definição representar esse círculo e não estar dependente da disciplina de voto dos partidos. No entanto, a disciplina de voto continuaria a ser aplicada a nível dos deputados eleitos pelo círculo nacional, caso contrário a representatividade política estaria em causa.

Os partidos políticos existem porque há uma impossibilidade de representar a sociedade em geral sem existir um número reduzido de pessoas que reflectem essa sociedade. No entanto, a democracia tal como foi criada na Grécia antiga era uma democracia directa, sem partidos políticos. Apesar de muitos elementos da sociedade não serem considerados cidadãos, todos os que eram tinham a possibilidade de participar activamente neste sistema político.

Hoje em dia, que é obrigatório usar a Internet para uma série de serviços do estado, seria tão descabido preparar a sociedade para consultas populares mais frequentes?

O cartão do cidadão juntamente com o respectivo leitor tem todas as medidas de segurança e autenticação necessárias para permitir o voto electrónico pela Internet. O custo de fazer este tipo de consultas populares seria praticamente nulo. Por outro lado, a representação política da sociedade em geral estaria assegurada, num futuro cada vez mais aberto à sociedade e à sua capacidade de se exprimir através da Internet.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O valor real das coligações

Analisando o Shapley value das possíveis coligações é possível determinar o verdadeiro peso político de cada partido.
  • PS: 40%
  • PSD: 26,7%
  • PP: 20%
  • BE: 6,7%
  • CDU:6,7%
Assume-se que os deputados pelos círculos eleitorais da Europa e Fora da Europa são repartidos entre o PS e PSD.

Clarificação:
O Shapley value foi calculado para a maioria simples e assume-se que os partidos da coligação votam a favor, e os que não estão, votam contra.
Exemplo:
  • A coligação PS+BE é equivalente a 46,7%, que é insuficiente para maioria simples.
  • A coligação PS+CDU é equivalente à PS+BE, porque apesar do BE ter mais deputados, não existe nenhuma coligação possível que não possa ser feita com o BE, que também não possa ser feita com a CDU.
  • O PP tem um Shapley value superior à sua representação no parlamento, uma vez que consegue viabilizar várias coligações: {PS+PP, PSD+BE+PP, PSD+CDU+PP}.
  • Por outro lado, o PSD fica pouco acima do PP porque é apenas necessário para coligações que não incluam o PS.
  • Basicamente, qualquer coligação que têm um Shapley value superior a 50%, terão a maioria simples.

sábado, 12 de setembro de 2009

Círculos eleitorais... saga continua

Mais uma aberração do nosso sistema eleitoral:
Nunca aconteceu em Portugal, mas o sistema eleitoral abre as portas a uma equação confusa e de difícil saída: um partido pode ter mais votos, mas acabar com menos deputados no Parlamento. As sondagens recentes mostram o alto grau de disputa e imprevisibilidade das eleições de 27 de Setembro. Uma extrapolação dessas previsões, feita para o PÚBLICO pelo politólogo José António Bourdain, revela que esse cenário é possível.

Como? Devido ao sistema de representação proporcional, há sempre votos nos círculos eleitorais (distritos) que não chegam para eleger deputados. Quanto mais votos sobrarem, maior a possibilidade de um partido ter mais votos mas menos deputados.
in Publico, 12.09.2009
Já antes tinha mencionado em Sistema de votação para o parlamento, que os círculos eleitorais são um ataque à democracia, uma vez que há muitos votos desperdiçados e o parlamento não reflecte as verdadeiras escolhas dos eleitores. Nestas eleições, vamos ter a oportunidade de ver o sistema a funcionar excepcionalmente mal.

terça-feira, 17 de março de 2009

Como o amanhã poderá ser melhor do que o hoje

Beto: A nossa geração demonstra um espírito de maior contestação do que as gerações anteriores, mas temo que as gerações mais novas (incluído a nossa) sejam também demasiado anárquicas, sem sentido de responsabilidade, nem respeito por regras e de valorização da excelência. Contesta-se por se contestar, sem causas ou fundo de razão.

Rui: Partilho o teu receio em relação à potencial anarquia e falta de valores das futuras gerações, embora talvez não o veja como problema inerente a essas gerações, mas sim ao actual estado social.

Essas gerações, para evoluir, precisam de exemplos, de "heróis", de um modelo que possam tentar adaptar à sua realidade. Ora, para mim, o problema reside exactamente aí. Com o passar dos anos, vemos um desligar em relação à politica cada vez mais acentuado sobretudo nas camadas mais jovens. Será que se trata de um problema dessa geração per si, ou da crescente descrença na classe politica? Eu apontaria para a segunda opção pois, quando tento imaginar-me a crescer a partir de Guterres, por exemplo, tenho muita dificuldade em encontrar motivação para me interessar por problemas de estado.

No fundo, o que me parece fundamental é entender que nem essa evolução vem de baixo para cima, nem de cima para baixo. Agora, sem dúvida alguma que sem uma liderança forte, exemplar e sobretudo digna e honrada, é difícil motivar as nossas crianças a desenvolverem interesse e espírito critico por algo em que não encontram interesse nem valor.

Beto: Muitos podem dizer que temos a mania de culpar os políticos de tudo. Eu não os culpo de tudo, mas culpo de não fazerem o que deve ser feito, de não serem o melhor exemplo para os restantes.

Rui: Exactamente: Exemplo. O cerne da questão reside aí: em dar o exemplo.

Mais: os politicos são como são porque nós, enquanto cidadãos (mais do que como eleitores), assim o permitimos ou assim os molda-mos.

Beto: Há cinco anos lembrei-me de processar o Estado por enviar o meu voto para o lixo, pegando em dois exemplos claros: O CDS teve mais 100mil votos do que nas eleições anteriores e teve menos um deputado na Assembleia; O PS teve maioria absoluta com cerca de 45% dos votos. Isto vai contra os princípios básicos da Constituição Portuguesa, a igualdade. Um voto no PS (ou no partido vencedor) vale mais do que um voto no CDS ou de qualquer outro partido.

Rui: Pois, acaba por ser um pouco baseado no esquema "the rich get richer".

Beto: Com um processo destes, conseguiríamos obrigar os próprios partidos a mudar a lei eleitoral. Sei que sou um simples cidadão, mas parece-me ser necessária uma alteração que se aproxime da lei eleitoral brasileira: voto obrigatório e listas individuais (tu votas na pessoa que queres e não no partido, independentemente de pertencer ou não a um partido).

Rui: Do ponto de vista conceptual, também me agrada bastante a lei brasileira. Mas tenho algum receio que isso possa trazer ainda mais populismo, devido à falta de dignidade profissional (lá está ela, mais uma vez) da classe política.

Beto: Sou da opinião que se deve acabar com os círculos eleitorais, que pouco representam a população do distrito (tu sabes quem são os deputados do circulo eleitoral de Aveiro?).

Rui: Totalmente de acordo! Acrescentaria: e que servem apenas para criar mais alguns "tachos".

Beto: Devem ser permitidas candidaturas independentes para combater os lobbies partidários. As equipas ministeriais devem ser conhecidas antes das eleições, bem como o programa do governo.

Rui: Isso parece-me um ponto crucial! Isso seria para mim uma forma híbrida de implementares o tal voto no individuo que referias acima, pois assim não estarias tanto a votar num partido mas numa equipa completa, com a planificação já elaborada.

Para isso funcionar, seria também necessária uma maior transparência por parte do governo, para que todos pudessem fazer o tal plano para governar baseado no estado real do país e não em dados escamoteados.

Beto: Depois tem que haver alterações profundas à Constituição: cada partido que ganha, altera as leis, estas vão para a constituição, mas tem sempre as leis anteriores e algumas continuam em vigor. Isto gera confusão! Tenta perceber o que está em vigor sobre um determinado tema à tua escolha. Não te chega ler o último Decreto-lei, tens que ler os anteriores, os esclarecimentos, os despachos dos Conselhos de Ministros e por aí fora.

Rui: Isso é um problema de base, que mais uma vez nasce do típico populismo ou, diria eu, "votismo" dos nossos políticos. "O governo anterior fez isto, portanto nós faremos o contrário!", sobretudo nas questões polémicas. Daí que vejas políticos que, enquanto na oposição, defendam uma posição contrária à do Governo relativamente a um tópico polémico e que divida a sociedade e, enquanto governantes, passem para o outro lado.

No fundo, é o problema que persiste em Portugal e para o qual não se vislumbra solução: a não existência de oposição, mas sim de uma critica destrutiva. Posto de outra forma, existe o governo e existem os do contra.

Beto: Aqui tenho que concordar com o Alberto João Jardim: A constituição tem que ter leis gerais e básicas, como os direitos e deveres dos cidadãos. Tudo o resto é programa de governo, só fica em vigor durante a legislatura.

O Medina Carreira apontou um sistema presidencial, o que não me parece mau de todo, mas para tal é necessário distribuir os poderes de outra forma para não entrarmos numa populismo como se está a viver na Venezuela. Assim, talvez fosse necessário criar as regiões e haver um ministro por região. A Assembleia da República podia ser reduzida e passar a exercer um poder de maior regulação em lugar de um poder legislativo.

Rui: Totalmente de acordo!

Repara que tocas num ponto fundamental: parlamento como entidade reguladora. Eu acrescentaria: entidade reguladora e imparcial. Porque esse é também um dos nossos maiores problemas enquanto sociedade: a falta de regulação/fiscalização eficiente, transparente e sobretudo imparcial.

Beto: Bem, estas são algumas ideias no que concerne ao sistema eleitoral e legislativo. Dá a tua opinião...

Rui: Pá, e fazer um blog onde postaríamos estas nossas discussões?