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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

TAP+ANA: o golpe do século

Antes de mais nada, alguns factos:
  • A ANA e a AENA (versão espanhola) são as duas umas entidades de gestão de aeroportuária que operam todos os aeroportos dos respectivos países.
  • Na Catalunha, uma das maiores lutas do governo autonómico foi conseguir participar na gestão dos aeroportos da região e em especial do aeroporto de El Prat (BCN). Durante muitos anos, a AENA teve uma política de apoio do modelo de HUB da IBERIA, centrado em Barajas. Os milhares de passageiros que saíam de Barcelona para a América Latina, tinham necessariamente que passar por Madrid... para rentabilizar a IBERIA e o terminal T4 de Barajas (exclusivo da IBERIA).
  • O Aeroporto do Porto é dos melhores da Europa, com vários prémios, e tem uma das taxas aeroportuárias mais baixas. A RyanAir opera a partir do Porto devido ao baixos custos e ao tempo reduzido de turnaround (20-25 minutos). O tempo de turnaround é o tempo que demora a descarregar e a voltar a carrerar um avião, e é fundamental para aumentar a rentabilidade dos voos.
  • O Aeroporto de Faro é extremamente concorrido, principalmente durante a primavera e o verão e, no entanto, não tem condições para suportar todos esses passageiros. Este aeroporto claramente seria ainda mais rentável com uma remodelação semelhante ao ao Aeroporto do Porto.
  • O Aeroporto da Portela está a rebentar pelas costuras, com a sua estrutura antiquada e com remodelações superficiais sucessivas. Por outro lado, a parte militar (Figo Maduro) continua sem ser utilizada.
... e agora o golpe.

Há uns anos atrás, a TAP achou que podia ser como a IBERIA (antes do advento das low-cost). Achou que o modelo em HUB deveria ser utilizado na Portela, sendo alimentado por passageiros nacionais e europeus, para ligação ao Brasil e a países da América Latina. Para além disso, os voos para destinos europeus teriam sempre de passar por Lisboa, mesmo que houvessem passageiros suficientes do Porto para terem voos directos.
Esta política de centralizar os voos em Lisboa, provavelmente foi apoiada pela ANA, que já há muitos anos tentava justificar um aeroporto novo para Lisboa. Por outro lado, a ANA prometeu um terminal próprio para a TAP, no novo aeroporto. A TAP ia ter o seu T4... até já se sentia ao nível da IBERIA.

... e depois apareceram as low-cost.

Estas empresas conseguem operar com custos bastante inferiores porque têm um esforço constante de aumentar a eficiência, de usar a Internet, de permitir aos passageiros gerir o verdadeiro custo da viagem (bagagens, check-in, ...). Para além disso, estas empresas só oferecem voos directos, o que são mais baratos que escalas em aeroportos de HUB.
As low-cost sabem que atrasos, bagagens perdidas e um mau serviço são maus para o negócio e aumentam os custos.

... mas TAP ainda quer o seu terminal.

A TAP não consegue competir com as low-cost nem com as operadores de bandeira que já foram reestruturadas. No entanto, continua a insistir que tudo vai melhorar com um novo aeroporto.
Agora que o novo aeroporto já está quase garantido, voltou a ter voos intercontinentais a partir do Porto, de modo a reduzir a carga da Portela.

... e a ANA ainda quer o seu aeroporto.

Em vez de ter investido em reestruturações de fundo na Portela, foi adiando até ser insustentável manter o aeroporto e impossível de implementar alguma reestruturação de fundo. Agora, não existe outra possibilidade que construir o novo aeroporto.
No entanto, o negócio não é muito vantajoso. O novo aeroporto fica longe de Lisboa, o que vai reduzir a sua rentabilidade, e não está claro que a TAP consiga aumentar o número de voos para rentabilizar o aeroporto. Por outro lado, as outras operadoras não têm interesse em usar no novo aeroporto como HUB, mas apenas como destino final.

Qual a solução para adoçar o negócio?

Vende-se a ANA a quem construir o aeroporto, e assim inclui-se os outros aeroportos (bastante rentáveis) para adoçar o negócio. Quem construir o novo aeroporto, terá como melhor estratégia para aumentar a rentabilidade do novo aeroporto, voltando ao modelo de HUB e aumentando as taxas aeroportuárias dos outros aeroportos para os níveis do novo aeroporto.
Se alguém duvida que esta é a melhor estratégia, compare com a concessão da Ponte Vasco da Gama, em que a empresa também detém a concessão da ponte 25 de Abril (já paga há muitos anos), de modo a uma ponte não fazer concorrência à outra.

Conclusão.

A construção do novo aeroporto vai um encargo muito grande para o país, a TAP muito dificilmente conseguirá rentabilizar o aeroporto (basta ver as crises e greves constantes e os prejuízos constantes) e os passageiros dos outros aeroportos vão andar a pagar pelo novo aeroporto de Lisboa e vão ter um pior serviço.

Solução.

Não há solução... excepto a privatização parcial dos aeroportos do Porto e Faro, em que a participação pública passaria por uma gestão regional. Talvez assim o novo aeroporto de Lisboa seja repensado para uma solução mais racional e eficiente. O aeroporto tem de valer por sí, e não pelos dotes que vêm atrás.

terça-feira, 12 de maio de 2009

O maior problema do sistema de ensino...


...é o ilustrado neste cartoon. Com os pais a trabalhar (verdadeiramente) em conjunto com a escola e professores, muitos dos problemas actuais nem sequer existiriam.

Será que é o descarregar de frustrações da infância? Talvez. É sobretudo consequência de um dos maiores cancros da nossa sociedade: a incapacidade para distinguir entre anarquia e democracia (algo que já tinha sido abordado nesta discussão).

O 25 de Abril trouxe-nos de facto liberdade e um sistema democrático. Ora liberdade não significa anarquia. Em democracia, tanto existem direitos como deveres, e nenhum deve sobrepor-se ao outro. Esse é para mim o ponto de separação entre a anarquia e a democracia: a existência de deveres, de obrigações morais, de compromissos com a sociedade.

A verdade é que estamos cada vez mais próximos de um sistema anárquico...

quarta-feira, 18 de março de 2009

Para onde caminhamos?

Ontem tive uma experiência a que chamaria surreal, de início, mas no final de contas, parece-me banal. A caminho de casa, deparo-me com um homem caído contra um muro na berma da estrada, com a bicicleta a seus pés. Parei imediatamente o carro e, quando me preparo para sair, reparo que estão 4 carros estacionados em cima do passeio com os "4-piscas" ligados, isto muito próximo do local onde o homem se encontrava. Pensei eu: "algum acidente".

Saio do carro, dirijo-me apressadamente ao senhor e vejo que ele está inconsciente, mas após chamar várias vezes por ele, lá mostrou alguma reacção. Era um senhor já com alguma idade, que segundo ele se tinha atrapalhado com os carros e foi contra o muro. Lá ajudei o homem a levantar-se, a curar algumas das feridas e ele seguiu o seu caminho.

Ora, até aqui tudo normal. Mas qual não é o meu espanto quando me apercebo que, em 3 desses 4 carros, o condutor estava dentro dele. Naquele caso, e desculpem-me a expressão, três "senhorecas" a ler revista de fofoca enquanto esperavam pela sua vez para serem atendidas na esteticista que aí se encontra! Nenhuma delas, bem como nenhuma das pessoas que entretanto passaram no local, esboçaram sequer a mínima intenção de ajudar o homem caído!

Daí a minha revolta. Daí a minha pergunta: para onde caminhamos enquanto sociedade, enquanto seres humanos?

Será que o egoísmo irá de facto prevalecer sobre a solidariedade?

Será que a ideologia "every men for himself" irá ser levada ao seu expoente máximo? Se assim for, poderemos continuar a usar os termos "sociedade" e "comunidade"?

Continuaremos a ter uma democracia, ou a anarquia passará a reinar?

Não sei. Sinceramente, nem quero pensar nisso... O que me assusta é estarmos cada vez mais próximo deste novo paradigma social...

terça-feira, 17 de março de 2009

Como o amanhã poderá ser melhor do que o hoje

Beto: A nossa geração demonstra um espírito de maior contestação do que as gerações anteriores, mas temo que as gerações mais novas (incluído a nossa) sejam também demasiado anárquicas, sem sentido de responsabilidade, nem respeito por regras e de valorização da excelência. Contesta-se por se contestar, sem causas ou fundo de razão.

Rui: Partilho o teu receio em relação à potencial anarquia e falta de valores das futuras gerações, embora talvez não o veja como problema inerente a essas gerações, mas sim ao actual estado social.

Essas gerações, para evoluir, precisam de exemplos, de "heróis", de um modelo que possam tentar adaptar à sua realidade. Ora, para mim, o problema reside exactamente aí. Com o passar dos anos, vemos um desligar em relação à politica cada vez mais acentuado sobretudo nas camadas mais jovens. Será que se trata de um problema dessa geração per si, ou da crescente descrença na classe politica? Eu apontaria para a segunda opção pois, quando tento imaginar-me a crescer a partir de Guterres, por exemplo, tenho muita dificuldade em encontrar motivação para me interessar por problemas de estado.

No fundo, o que me parece fundamental é entender que nem essa evolução vem de baixo para cima, nem de cima para baixo. Agora, sem dúvida alguma que sem uma liderança forte, exemplar e sobretudo digna e honrada, é difícil motivar as nossas crianças a desenvolverem interesse e espírito critico por algo em que não encontram interesse nem valor.

Beto: Muitos podem dizer que temos a mania de culpar os políticos de tudo. Eu não os culpo de tudo, mas culpo de não fazerem o que deve ser feito, de não serem o melhor exemplo para os restantes.

Rui: Exactamente: Exemplo. O cerne da questão reside aí: em dar o exemplo.

Mais: os politicos são como são porque nós, enquanto cidadãos (mais do que como eleitores), assim o permitimos ou assim os molda-mos.

Beto: Há cinco anos lembrei-me de processar o Estado por enviar o meu voto para o lixo, pegando em dois exemplos claros: O CDS teve mais 100mil votos do que nas eleições anteriores e teve menos um deputado na Assembleia; O PS teve maioria absoluta com cerca de 45% dos votos. Isto vai contra os princípios básicos da Constituição Portuguesa, a igualdade. Um voto no PS (ou no partido vencedor) vale mais do que um voto no CDS ou de qualquer outro partido.

Rui: Pois, acaba por ser um pouco baseado no esquema "the rich get richer".

Beto: Com um processo destes, conseguiríamos obrigar os próprios partidos a mudar a lei eleitoral. Sei que sou um simples cidadão, mas parece-me ser necessária uma alteração que se aproxime da lei eleitoral brasileira: voto obrigatório e listas individuais (tu votas na pessoa que queres e não no partido, independentemente de pertencer ou não a um partido).

Rui: Do ponto de vista conceptual, também me agrada bastante a lei brasileira. Mas tenho algum receio que isso possa trazer ainda mais populismo, devido à falta de dignidade profissional (lá está ela, mais uma vez) da classe política.

Beto: Sou da opinião que se deve acabar com os círculos eleitorais, que pouco representam a população do distrito (tu sabes quem são os deputados do circulo eleitoral de Aveiro?).

Rui: Totalmente de acordo! Acrescentaria: e que servem apenas para criar mais alguns "tachos".

Beto: Devem ser permitidas candidaturas independentes para combater os lobbies partidários. As equipas ministeriais devem ser conhecidas antes das eleições, bem como o programa do governo.

Rui: Isso parece-me um ponto crucial! Isso seria para mim uma forma híbrida de implementares o tal voto no individuo que referias acima, pois assim não estarias tanto a votar num partido mas numa equipa completa, com a planificação já elaborada.

Para isso funcionar, seria também necessária uma maior transparência por parte do governo, para que todos pudessem fazer o tal plano para governar baseado no estado real do país e não em dados escamoteados.

Beto: Depois tem que haver alterações profundas à Constituição: cada partido que ganha, altera as leis, estas vão para a constituição, mas tem sempre as leis anteriores e algumas continuam em vigor. Isto gera confusão! Tenta perceber o que está em vigor sobre um determinado tema à tua escolha. Não te chega ler o último Decreto-lei, tens que ler os anteriores, os esclarecimentos, os despachos dos Conselhos de Ministros e por aí fora.

Rui: Isso é um problema de base, que mais uma vez nasce do típico populismo ou, diria eu, "votismo" dos nossos políticos. "O governo anterior fez isto, portanto nós faremos o contrário!", sobretudo nas questões polémicas. Daí que vejas políticos que, enquanto na oposição, defendam uma posição contrária à do Governo relativamente a um tópico polémico e que divida a sociedade e, enquanto governantes, passem para o outro lado.

No fundo, é o problema que persiste em Portugal e para o qual não se vislumbra solução: a não existência de oposição, mas sim de uma critica destrutiva. Posto de outra forma, existe o governo e existem os do contra.

Beto: Aqui tenho que concordar com o Alberto João Jardim: A constituição tem que ter leis gerais e básicas, como os direitos e deveres dos cidadãos. Tudo o resto é programa de governo, só fica em vigor durante a legislatura.

O Medina Carreira apontou um sistema presidencial, o que não me parece mau de todo, mas para tal é necessário distribuir os poderes de outra forma para não entrarmos numa populismo como se está a viver na Venezuela. Assim, talvez fosse necessário criar as regiões e haver um ministro por região. A Assembleia da República podia ser reduzida e passar a exercer um poder de maior regulação em lugar de um poder legislativo.

Rui: Totalmente de acordo!

Repara que tocas num ponto fundamental: parlamento como entidade reguladora. Eu acrescentaria: entidade reguladora e imparcial. Porque esse é também um dos nossos maiores problemas enquanto sociedade: a falta de regulação/fiscalização eficiente, transparente e sobretudo imparcial.

Beto: Bem, estas são algumas ideias no que concerne ao sistema eleitoral e legislativo. Dá a tua opinião...

Rui: Pá, e fazer um blog onde postaríamos estas nossas discussões?