terça-feira, 30 de junho de 2009

Portugal inviável

Sou engenheiro, não sou economista nem político. E, como engenheiro, procuro resolver problemas. E há um problema que anda já há algum tempo “in the back of my brain”, como diria e Laurie Anderson, para o qual não vejo ninguém apresentar nenhuma solução e que é o seguinte: como é que Portugal pode atrair investimento estrangeiro que fomente o crescimento económico e a exportação se aquilo que temos para oferecer de melhor para os investidores, comparativamente com outros países, é apenas bom tempo? Ou seja, que respostas tem a seguinte pergunta: “O que é que temos de oferecer de melhor do que outros para atrair o investimento externo que eles atraem?”.

Bom, e a resposta, infelizmente, é nada. Nicles. Se viram a excelente entrevista que Medina Carreira deu ao Mário Crespo na Sic Notícias de sexta última, ele no fundo disse o mesmo, o que me deixou tristemente convencido de que (eu) tinha razão para pensar como pensava. Pior, não só não temos nada a oferecer de melhor, como ninguém diz (ou sabe) o que podemos alterar para oferecer algo de melhor. Fala-se muito de excelência nos dias de hoje, e no fomento da excelência, mas a continuar assim essa excelência irá procurar outras paragens mais interessantes.

Uma dos tópicos focados por Medina Carreira para indicar a falta de atractividade de Portugal é a nossa justiça, que é fundamentalmente inoperante. Na minha opinião, Portugal é um país sem lei, muito embora tenha muitas (e más) leis, porque a justiça não é aplicada de todo ou não é aplicada em tempo útil. Nos Estados Unidos o caso Madoff já está encerrado e com uma condenação exemplar. Em Portugal, os casos BCP, BPN, BPP ainda estão em parte incerta e, provavelmente, irá tudo acabar em absolvições por prescrição, falta de prova ou erro processual ou em penas suspensas. Que empresa quer ir para um país onde, em caso de contencioso, mais vale não recorrer à justiça, porque apenas servirá para perder tempo, paciência e dinheiro? Já que é um hábito recorrente procurar modelos de excelência no estrangeiro (Irlanda, Finlândia, Dinamarca, etc.) para as mais variadas coisas, os nossos políticos poderiam importar o modelo de justiça anglo-saxónico como modelo de excelência para ter uma justiça eficaz. Isso não seria uma revolução, seria uma refundação de Portugal !

OK, vou continuar a ouvir o “Imagine” do John Lenon.

domingo, 28 de junho de 2009

Para reflectir

Recebi este e-mail hoje e realmente dá que pensar... As crianças são o melhor do mundo, são puras, inocentes... Ainda estão em crescimento, em processo de aprendizagem mais intensivo que qualquer adulto. Mas é tão frequente esquecermo-nos disso e da influência que exercemos sobre elas! Muitas vezes pensamos que elas não percebem determinadas coisas, que não vale a pena explicar-lhes... Nada mais errado! Podem até não perceber, naquele momento, mas a verdade é que assimilam TUDO! Deviamos pensar mais vezes nisto e procurar dar um melhor exemplo!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Até sempre



Marcou uma geração. Marcou um estilo. Marcou-me: a primeira cassete que comprei foi dele, ainda hoje a guardo. Até sempre, Michael!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Reforma na educação portuguesa, vista dos EUA

Dei de caras com um artigo no "The Huffington Post", com o título "Note to President Obama: Want to Fix the Schools? Look to Portugal!"

É um título que agarra o leitor, sobretudo o português. Um conselheiro do Presidente e de várias empresas a pegar no exemplo português para mostrar uma saída para o grave problema no ensino nos Estados Unidos? Uau, de certeza que o tipo se está a referir a Portugal? Tenho de ler isto, pensei eu.

Não fui defraudado. Excelente artigo, e de alguém isento (a não ser que o Sócrates manipule a imprensa americana também). Excelente para a moral portuguesa. Afinal fazemos alguma coisa de jeito por cá. Em pouco tempo, é já o segundo tema no qual a imprensa americana busca o exemplo português para reformas nos EUA (o outro foi a liberalização das drogas, massivamente discutido por aqueles lados). É obra, não acham?

Porque é que a nossa imprensa não dá relevo a isto? Afinal, tratam-se de exemplos de que afinal somos bons em alguma coisa. E que tal usar isso para tentar afastar a velha mentalidade portuguesa do "coitadinho" de Portugal que é tão pequenino? Bem, isso seria uma longa discussão que só nos desviaria da análise feita neste artigo (não resisto a fazer a provocação: irá a Manuela Moura Guedes falar deste assunto na sexta?).

Neste artigo, Portugal é referido como líder na renovação do conceito de ensino. Sim, porque nem tudo o que temos e fazemos é mau, afinal. Sim, o actual Governo investiu imenso na modernização do país, criando uma plataforma para um futuro mais desenvolvido e, consequentemente, melhor. Sim, esta pode ser a base que nos permitirá sair da cauda da Europa. E não sou eu que o digo, é um conselheiro do Presidente americano.

Se não acredita, leia o artigo em baixo. Mas só para aguçar o apetite, o final da "história" é:

Yet after seeing the promise of the exciting classrooms in Portugal, I'm convinced it is worth it. Your child should be so fortunate.

Sim, é mesmo isso que leu: o autor diz que as crianças americanas deveriam ter o mesmo privilégio que as portuguesas.

Tal como José Sócrates referiu na conferência do programa CMU-Portugal (um outro exemplo de criação de uma base para desenvolvimento sustentável do país), ainda há bem pouco tempo, faziam-se boicotes a eleições por não haver electricidade. Agora, fazem-se boicotes por não se ter acesso à rede de banda larga. Sim, Portugal está a crescer.

Aqui fica o artigo (o negrito é escolha minha):

President Obama already knows that the nation's schools are failing a large number of young Americans. One-third of all students drop out before finishing high school. It's a terrible record, and it's even worse in inner city public schools, where only half of blacks and Hispanics graduate from school. This is not a legacy that would make anyone proud: More young Americans on a proportionate basis drop out of school today than at any other time in our history.

This problem is undoubtedly complicated, but one of the reasons why many American youth are unmotivated and not learning well is that they're bored in school. They're grown up in a fast paced, challenging digital world, with the Internet, mobile devices, video games and other gadgets. They watch less television than their parents did and TV is typically a background activity. They are a generation doesn't like to be broadcast to and they love to interact, multi-task and collaborate. Yet, when they get into the classroom, they're faced with stale textbooks and lectures from teachers who are still using a nineteenth century innovation, chalk and blackboard.

American classrooms need to enter the 21st century. Thousands of teachers agree. Earlier this year, several important educational groups urged the president and Congress to spend nearly $10 billion to improve technology in the classroom, and ensure teachers know how to use computers most effectively.

To show the way, I suggest the president take a look at a modest country across the Atlantic that's turning into the world leader in rethinking education for the 21st century.

That country is Portugal. Its economy in early 2005 was sagging, and it was running out of the usual economic fixes. It also scored some of the lowest educational achievement results in western Europe.

So Prime Minister Jose Socrates took a courageous step. He decided to invest heavily in a "technological shock" to jolt his country into the 21st century. This meant, among other things, that he'd make sure everyone in the workforce could handle a computer and use the Internet effectively.

This could transform Portuguese society by giving people immediate access to world. It would open up huge opportunities that could make Portugal a richer and more competitive place. But it wouldn't happen unless people had a computer in their hands.

In 2005, only 31% of the Portuguese households had access to the Internet. To improve this penetration, the logical place to start was in school, where there was only one computer for five kids. The aim was to have one computer for every two students by 2010.

So Portugal launched the biggest program in the world to equip every child in the country with a laptop and access to the web and the world of collaborative learning. To pay for it, Portugal tapped into both government funds and money from mobile operators who were granted 3G licenses. That subsidized the sale of one million ultra-cheap laptops to teachers, school children, and adult learners.

Here's how it works: If you're a teacher or a student, you can buy a laptop for 150 euros (U.S. $207). You also get a discounted rate for broadband Internet access, wired or wireless. Low income students get an even bigger discount, and connected laptops are free or virtually free for the poorest kids. For the youngest students in Grades 1 to 4, the laptop/Internet access deal is even cheaper -- 50 euros for those who can pay; free for those who can't.

That's only the start: Portugal has invested 400 million euros to makes sure each classroom has access to the Internet. Just about every classroom in the public system now has an interactive smart board, instead of the old fashioned blackboard.

This means that nearly nine out of 10 students in Grades 1 to 4 have a laptop on their desk. The impact on the classroom is tremendous, as I saw this spring when I toured a classroom of seven-year-olds in a public school in Lisbon. It was the most exciting, noisy, collaborative classroom I have seen in the world.

The teacher directed the kids to an astronomy blog with a beautiful color image of a rotating solar system on the screen. "Now," said the teacher, "Who knows what the equinox is?"

Nobody knew.

"Alright, why don't you find out?"

The chattering began, as the children clustered together to figure out what an equinox was. Then one group lept up and waved their hands. They found it! They then proceeded to explain the idea to their classmates.

This, I thought, was the exact opposite of everything that is wrong with the classroom system in the United States.

The children in this Portuguese classroom were loving learning about astronomy. They were collaborating. They were working at their own pace. They barely noticed the technology, the much-vaunted laptop. It was like air to them. But it changed the relationship they had with their teacher. Instead of fidgeting in their chairs while the teacher lectures and scrawls some notes on the blackboard, they were the explorers, the discoverers, and the teacher was their helpful guide.

Yet too often, in the U.S. school system, teachers still rely on an Industrial Model of education. They deliver a lecture, the same one to all students. It's a one-way lecture. The teacher is the expert; the students are expected to absorb what the teacher says and repeat. And students are supposed to learn alone.

Teachers often feel that this is the only way to teach a large classroom of kids, and yet the classroom in Portugal shows that giving kids laptops can free the teacher to introduce a new way of learning that's more natural for kids who have grown up digital at home.

First, it allows teachers to step off the stage and start listening and conversing instead of just lecturing. Second, the teacher can encourage students to discover for themselves, and learn a process of discovery and critical thinking instead of just memorizing the teacher's information. Third, the teacher can encourage students to collaborate among themselves and with others outside the school. Finally, the teacher can tailor the style of education to their students' individual learning styles.

It's not easy to change the model of teaching. In fact, this is the hard part. It's far easier to spend money, as Portugal did, to put Internet into the classroom and equip the kids with laptops. ( By now, half of high school students now have them, as do four in 10 middle school students.)

Yet Portugal has been careful to invest in teacher training to capitalize on the possibilities of the laptops in schools. They're also thinking of creating a new online platform to allow teachers to work together to create new lessons and course materials that take advantage of the interactive technology. Through this collaboration, the Portuguese school system will create exciting new online materials to educate children. Lots of ideas are already making their way into Portuguese classrooms, says Mario Franco, chair of the Foundation for Mobile Communication, which is managing the e-school program. There are 50 different educational programs and games inside the laptops the youngest children use. The laptops are even equipped with a control to encourage kids to finish their homework and score high marks. If they do, they get more time to play.

It's too early to assess the impact on learning in Portuguese schools. Studies of the impact of computers in schools elsewhere have been inconclusive, or mixed. One key problem is that simply providing computers in schools is not enough. Teachers facing a classroom of kids with laptops need to learn that they are no longer the expert in their domain; the Internet is.

Yet Portugal is on a campaign to reinvent learning for the 21st century. The technology is only one part of that campaign. The real work is creating a new model of learning.

I believe this could help the U.S. revive students' interest in school and perhaps keep them in school long enough to graduate, and even go to college. It would be a substantial investment. It's estimated that the total cost of giving a computer to each student, including connection to networks, training, and maintenance, is over $1,000 per year.

Yet after seeing the promise of the exciting classrooms in Portugal, I'm convinced it is worth it. Your child should be so fortunate.

Bloco de Esquerda vs PCP

Comparação muito interessante feita aqui no Delito de Opinião. Torna ainda mais curioso o facto de muitos "bloquistas" afirmarem que o PCP está acabado, que vive no passado.

Questões sobre a linha do TGV

Ora aqui estão questões muito pertinentes colocadas pelo Pedro Pestana Bastos n'O Cachimbo de Magritte:

  1. Sabendo que Madrid fica a uma latitude a norte de Coimbra porque é que o TGV Lisboa Madrid desce até Evora que fica a uma latitude a sul de Setúbal ?

  2. Se a latitude de Madrid fica a mais de 200 kilometros a norte da latitude de Lisboa porque é que os primeiros 50 Kilometros de linha são em direcção ao sul ?

  3. Se de Lisboa a Madrid por estrada são 600 Kilometros porque é que a linha de TGV vai ter 670 Kilometros?

  4. Se tanto Lisboa como Madrid ficam a norte do Tejo porque é que é necessário construir uma ponte ferroviária para passar o Tejo em Lisboa ?

  5. Se é suposto os comboios na nova linha andarem a 350 Kilometros por hora porque é que são anunciadas viagens entre Lisboa e Madrid de 2.50 ?

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Prémio Lemniscata

O blog "O Valor das Ideias" decidiu distinguir o Costa Rochosa com o Prémio Lemniscata:




Obrigado ao Carlos Santos pela distinção, que nos trará uma maior responsabilidade. Esperamos estar à altura, Carlos!

Este prémio foi criado pelo Lemniscata "a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos leitores."

De acordo com as regras do prémio, este prémio deve ser atribuído de seguida a 7 blogs. Assim, por ordem alfabética, aqui ficam os blogs que decidi distinguir:

terça-feira, 23 de junho de 2009

O "monstro" está de volta

Quem, como eu, ontem assistiu ao discurso de José Sócrates na 1ª conferência anual do programa CMU-Portugal, no Palácio da Bolsa no Porto, viu as dúvidas dissiparem-se: o "monstro politico" está de volta. Não está adormecido, está renovado.

A campanha eleitoral adivinha-se muito complicada para os seus adversários...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

BREVE MANIFESTO ANTI-PORTAS EM PORTUGUÊS SUAVE

No dia da morte do seu autor, Carlos Candal, fica aqui um link para o famoso texto que causou polemica em 95. Vale a pena ler.

Breve Manifesto Anti-Portas em Português Suave

AutoEuropa e a solidariedade dos seus funcionários



"O pré-acordo tinha sido estabelecido entre a administração da fábrica de Palmela e a Comissão de Trabalhadores e previa uma redução do pagamento do trabalho extraordinário em seis sábados por ano."


Os trabalhadores estão a conseguir fazer o que não queriam: levar aquela gente toda para o desemprego. Já exprimi a minha opinião sobre esta posição dos trabalhadores da AutoEuropa. Pouco tenho a acrescentar. Apenas a tristeza por o paradigma na relação trabalhador-empregador neste país ser ainda o que se verificava nos tempos dos meus avós (ou uma sua modificação, para pior).

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Porta aberta para coligação?

Bloco de Esquerda opta pela abstenção (em relação à moção de censura ao Governo)

Começo a ficar um pouco preocupado: será este o primeiro passo para uma possível coligação pós-eleitoral? Ou quererá dizer que o BE, que tem vem apregoando os males deste governo, afinal acha que o Governo tem feito o que pode?

De qualquer forma, fico preocupado...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Sobre o BPN e a sua supervisão pelo Banco de Portugal

Ouvi ontem parte da inquirição de Vitor Constâncio, presidente do Banco de Portugal, na comissão de inquérito sobre o BPN. E ouvi algo que até hoje me tinha escapado mas que explica muito: que Oliveira e Costa tinha dirigido a supervisão bancária quando esteve no Banco de Portugal. E, subitamente, tudo fez sentido ...

Quando um deputado do BE afirmou que o supervisor (Banco de Portugal) tinha sido ingénuo, negligente ou proteccionista, Vitor Constâncio afirmou que "ingénuo, talvez, porque nunca pensou que alguém que tivesse no passado dirigido a supervisão bancária tivesse feito o que fez". Mas isto não é ingenuidade, isto é uma completa falta de senso! Como é que se pode dizer uma coisa destas? Isto não é ingenuidade, é autismo!

Um supervisor tem de ser um "cão de caça". Tem de ser alguém que procura os mínimos erros e deslizes para os contrariar ASAP. Tem de ser alguém que não usa checklists de validação, tem de ser inesperado na maneira como supervisiona. Tem de estar um passo à frente do infractor, o que não é fácil, para isso tem de inovar constantemente os processos de supervisão, ainda mais nesta área, onde existe muita "contabilidade criativa". Tem de considerar o supervisionado sempre como um potencial infractor, como alguém que o quer enganar, e não dar-lhe o benefício da dúvida. E tem de ser frequentemente mudado para evitar a habituação, a acomodação e até o aliciamento pelo supervisionado. É isto que se passa na actividade do Banco de Portugal?

Não me parece. Diz Vitor Constâncio que a supervisão não falhou. Obviamente falhou. O que Vitor Constâncio quer dizer é que não falhou porque as práticas de supervisão usadas não permitiam detectar as fraudes feitas. Mas aqui é que está a falha da supervisão: permitiu que alguém que conhecesse os processos de supervisão (e, ao que parece, Oliveira e Costa deveria conhece-los bem) conseguisse iludi-los. Portanto, os processos de supervisão não funcionaram, talvez por serem demasiado previsíveis e estáticos.

Existe um princípio em segurança que é o da separação de deveres (separation of duties). O que este princípio advoga é que numa organização os deveres devem ser separados por vários actores para impedir que a sua acumulação num único actor leve a situações de abuso pelo mesmo. Ora, neste caso existe aparentemente algo similar. Oliveira e Costa foi, ao longo do tempo, primeiro responsável pela supervisão do Banco de Portugal e depois director de uma organização supervisionada. E isso potencia o abuso, porque o conhecimento dos processos de supervisão e, potencialmente, da "máquina" de supervisão e dos supervisores, facilita o processo de ilusão do supervisor. E não ver isto é muito mais do que simples ingenuidade, é uma falha fatal e inacreditável da supervisão.

Face a tudo isto, creio que a demissão da direcção do supervisor, e não necessariamente do seu presidente, é o mínimo que se pode exigir.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Distribuição alternativa de deputados por país no Parlamento Europeu

No seguimento da proposta do André para combater a alta abstenção nas eleições europeias, onde ele proponha que o número de deputados de cada país no Parlamento Europeu fosse proporcional ao número de votos expressos nesse país, o nosso habitual leitor e comentador Tiago Vinhoza fez as contas e enviou-me a distribuição de deputados de acordo com a regra proposta pelo André:

PaísNº deputadosNº deputados ajustadoVariação do Nº deputadosAbstenção
Alemanha9997-257,50%
Áustria1718+154,70%
Bélgica2246+249,00%
Bulgária1714-362,51%
Chipre68+241,12%
Dinamarca1317+440,50%
Eslováquia135-880,37%
Eslovénia74-371,98%
Espanha5053+354,00%
Estónia66056,10%
Finlândia1312-159,70%
França7267-559,52%
Grécia2226+447,37%
Holanda2521-463,50%
Hungria2218-463,72%
Irlanda1215+342,40%
Italia72108+3634,95%
Letónia89+147,43%
Lituânia125-779,46%
Luxemburgo612+69,00%
Malta59+421,20%
Polónia5028-2275,47%
Portugal2218-463,52%
Reino Unido7257-1565,52%
Republica Checa2214-871,78%
Roménia3321-1272,33%
Suécia1818056,20%


Aqui em Portugal, teríamos 18 eurodeputados divididos da seguinte forma: PSD=7, PS=6, BE=2, CDU=2, CDS=1.

Inúmeras análises podem ser feitas a partir desta tabela: o meu objectivo é ver como vocês reagem a esta proposta.

No mínimo, é apenas mais um indicador para a péssima campanha para as europeias a que assistimos em Portugal.

(Já agora, caso os votos em branco ou nulos correspondessem a um partido, dado o elevado número deste tipo de voto, o PS perderia um deputado para esse partido: PSD=7, PS=5, BE=2, CDU=2, CDS=1, Br/Nu=1. Vale a pena pensar nisto...)

terça-feira, 9 de junho de 2009

A mensagem é clara

Não se tem dado muita visibilidade a isso, mas nestas eleições europeias, para além da elevada abstenção, temos um sinal ainda mais claro da esperança que os portugueses depositam na actual classe politica: 236030 portugueses deram-se ao trabalho de ir votar para não votar em ninguém. Este valor representa 6.63% dos votantes! Para ser mais preciso, houve 164877 votos em branco (4.63%) e 71153 votos nulos (2%).

Quem (na classe politica) terá coragem para abordar esta questão? Sim, porque falar da abstenção é fácil e é "bonito" chamar as pessoas às urnas. Discutir as razões que levam 6.63% dos votantes a não confiar em nenhum dos candidatos é muito mais delicado.

A precisão das sondagens e o efeito de realimentação

Mais umas eleições, mais uns erros das sondagens e mais uns políticos nervosos com o assunto. Refiro-me, concretamente, a Pedro Santana Lopes e António Bagão Félix, no programa que terminou à pouco na RTP1. O segundo chegou mesmo a afirmar, se bem me lembro, que era preciso uma auditoria às técnicas usadas pelas empresas de sondagens ...

Vejamos bem as coisas. As sondagens não são ciência exacta, porque se fossem poupava-se a preparação das eleições, a ida às urnas e o escrutínio. Portanto, é normal que existam erros.

Vejamos então os erros. Ontem viu-se (eu não vi, porque apenas ouvi a RDP1, mas outros viram) que das 3 sondagens obtidas à boca da urna, duas delas deram números errados, muito embora tenham dado ambas a vitória ao PSD. Admitamos as seguintes fontes para os enganos:
  1. As empresas manipularam os resultados; ou
  2. Os eleitores sondados mentiram no voto "paralelo"; ou
  3. As empresas de sondagens escolheram mal os locais de amostragem.

A primeira fonte é ilógica, porque revela um comportamento irracional das empresas, uma vez que os resultados errados não lhes trazem qualquer benefício, apenas compromentem o seu futuro comercial.

A segunda é possível, mas tem de ser considerada como falsa para que se possa acreditar nas sondagens. Ou seja, se se partir do princípio que os eleitores amostrados mentem, então é inutil fazer sondagens. Além disso, mentir é à partida considerado pelas empresas de sondagens um comportamento não racional porque não traz benefício a quem mente (a menos que suspeite que o elemento fornecido na sondagem o possa prejudicar se for indevidamente divulgado, o que não é um receio totalmente infundado).

Resta a terceira. A escolha dos locais de amostragem é em si mesma uma ciência. O que normalmente se procura é locais onde, numa pequena escala, existe um comportamento similar à escala nacional. O problema que se coloca a esta aproximação é a continuidade com o passado. Por exemplo, quando em 1985 apareceu o PRD nas eleições, não havia experiência passada com o mesmo, logo não existia qualquer indicação sobre quais os locais a sondar ... e o resultado das sondagens, realizadas por Serras Gago, foi, como podem imaginar, um completo fiasco.

Pois bem, nestas eleições não apareceu nenhum partido com peso significativo, mas apareceram muitos eleitores novos desde as últimas europeias, em 2004, e já não temos eleições desde 2005. Tudo isto introduz um efeito de distorção que pode ser mais ou menos significativo, consoante se tenha sorte ou azar na escolha dos locais de amostragem. E creio que foi isto que aconteceu.

Quanto às sondagens que foram realizadas antes do dia das eleições, podem-se aplicar todos os raciocínios anteriormente indicados e mais dois ainda:

  1. A escolha do método de selecção de eleitores é mais complexa do que no processo "à boca da urna".
  2. A divulgação de resultados de sondagens pode influenciar os eleitores, criando um processo de realimentação positiva ou negativa complexo, porque depende de cada eleitor individualmente.

Admitindo que as empresas de sondagens são honestas, e que não manipulam resultados para fins específicos, aparentemente neste processo eleitoral a escolha do método de selecção de eleitores falhou estrondosamente. Mas isto é apenas se não contarmos com o efeito do ponto 2, que na minha óptica pode ser crítico para desmobilizar votantes (quando o seu partido está com uma vantagem "confortável") ou para mobilizar votantes (quando o seu partido está "nas lonas"). Eu não digo que foi isso que aconteceu, até porque não tenho meios para o verificar, mas afirmo que é perfeitamente possível que aconteça e que tenha acontecido. É como o princípio de incerteza de Heisenberg, não é possível saber com exactidão e divulgar as preferências dos votantes, porque após a divulgação as suas preferências podem ser mudadas pelas mesmas.

Imaginem, por um instante, o que aconteceria se o processo eleitoral fosse iterativo, ou seja, o que aconteceria se uma pessoa, após conhecido o resultado, pudesse reiterar com o sistema de modo a alterar a sua participação anterior (por exemplo, votando quando antes se absteve, votando num pequeno partido quando antes votou útil num grande, etc.). Imaginem isso e têm o efeito das sondagens.

E aqui chegamos, finalmente, onde eu queria chegar: auditoria de processos de sondagem? Acham mesmo que é possível? Acham mesmo que existe um modelo absolutamente fidedigno, certificável, que permita ter sondagens "perfeitas", das tais que podem substituir eleições?

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ainda o Rendimento Mínimo

Seguindo o conselho do Tiago aqui deixado, deixo-vos um excerto do artigo "Trabalhe pesado!", do João Mellão Neto, no jornal "O Estado de São Paulo". Este artigo consiste numa forte critica ao programa Bolsa-Família, o equivalente no Brasil ao nosso Rendimento Mínimo.

"Argumentos para defender o Bolsa-Família não faltam. O difícil é acreditar que o programa seja viável para sempre.

Pode-se argumentar, a favor dele, que, em termos imediatos é uma forma eficaz de combater os malefícios causados pela miséria. Sem dúvida. Mas trata-se de um paliativo - um remédio que cuida dos efeitos, e não das causas da moléstia. Assim sendo, o seu efeito não é duradouro e tampouco definitivo.

Há pelo menos três aspectos cruciais que estão eivando a iniciativa:


- Não se está exigindo, na prática, nenhuma contrapartida dos beneficiários;


- não se está fixando um prazo máximo para a concessão do benefício;


- o valor do benefício pago está-se revelando muito elevado.


Benefício concedido sem reciprocidade é esmola. E esmola não cria cidadãos ativos. Cria, isso sim, mendigos.


Benefício concedido para sempre não é uma ajuda, mas sim um privilégio. E privilégios não geram indivíduos independentes. Geram, quando muito, um massa disforme de parasitas.


Benefício com valor elevado não complementa o trabalho, mas o substitui. Não gera trabalhadores, mas desocupados. Em vez de pessoas ativas, uma multidão apática de ociosos. Um exército de pensionistas totalmente dependentes da boa vontade dos governantes.


Se o objetivo final de Lula e do PT é criar um gigantesco curral eleitoral, eles estão sendo muito bem-sucedidos. Os "bolsistas" do famigerado programa estarão sempre dispostos a sufragar os candidatos que o governo recomendar.


Mas se o que se pretende é emancipar as pessoas, então o Bolsa-Família está se revelando uma grande excrescência.


Como está escrito na porta do Inferno de Dante: "Abandonai todas as esperanças, vós que entrais"... Aqueles que se inscrevem no "Bolsa-Família" hão de saber que dele jamais sairão. As suas virtudes ativas, a sua independência, a sua cidadania, tudo isso, enfim, é impiedosamente moído tão logo se ingressa no programa. A ética do trabalho e do esforço como a única forma legítima de prosperar na vida deixa de existir já na soleira da porta.


Como reza o ditado, montar num tigre é fácil, o difícil é desmontar dele depois.


O Bolsa-Família é um programa que, uma vez implantado, não há mais como descartá-lo. Os milhões de beneficiários já estão acostumados com o aporte mensal do dinheiro fácil. Como dizer a eles que dali em diante deveriam suar o rosto para obtê-lo?


Tanto para o governo como para a oposição, propor o fim do Bolsa-Família seria eleitoralmente desastroso. E o programa, assim, se impõe como algo definitivo.


Aqueles que trabalham hão de votar na oposição, já aqueles que não trabalham votarão sempre no governo. Como estes últimos se estão tornando maioria, o continuísmo parece ser um prognóstico evidente.


Como é economicamente impossível pôr a totalidade dos brasileiros sob o guarda-chuva do Bolsa-Família - alguém tem de pagar a conta -, teremos no País, doravante, duas classes de cidadãos: a dos que sustentam e a dos que são sustentados pelo Bolsa-Família.


Quanto a você, que está lendo este artigo, a recomendação do governo é a seguinte: "Trate de trabalhar duro! Além da sua família, há mais 11 milhões de famílias que dependem de você!""

Debate politico no café

O PSD ganhou (mesmo com um resultado pior do que em 2004), o PS teve uns dos piores resultados de sempre (pior ainda do que o obtido por Santana Lopes!), o grande vencedor foi o BE (e já agora o CDS, ao derrotar as sondagens). Têm saído inúmeras análises aos resultados, não quero alongar-me por aí (apesar de achar um pouco estranho o proclamado estado de graça do PSD, quando na verdade decresceram em relação a 2004; a derrota do PS reflectiu-se numa distribuição de votos na restante esquerda - sobretudo no Bloco-, não propriamente no PSD).

O que eu quero partilhar convosco é uma acesa discussão a que assisti no domingo de manhã, a propósito das eleições. Não quero fazer juízos de valor, quero apenas partilhar a conversa convosco. Três senhoras estão alegremente a tomar o seu pequeno-almoço, quando uma lança o debate:

Senhora 1: Epá, já foste votar?
Senhora 2: E eu quero lá saber disso!
Senhora 1: Mas tu és burra ou quê?! Tens de ir votar no Sócrates, senão tiram-nos o rendimento mínimo! Tas a dormir, é o que é!

A terceira senhora, visivelmente irritada, decide intervir:

Senhora 3: O quê?! Votar nesse grandessíssimo filho da mãe?! Eu trabalhei uma vida inteira e recebo uma merda de reforma! E vocês, muito mais novas que eu que já não posso, recebem muito mais do que eu pra estar em casa a coçá-la, pra vir pro café fumar e beber o dia todo! Esse filho da mãe que vá pro caralho! Votar nele nem morta! Tenho é de votar para o pôr a andar!

O silêncio instala-se no café. A senhora 3 levanta-se para sair, não sem antes continuar:

Senhora 3: Ide trabalhar que podem muito mais do que eu! Ide gozar com o caralho! Farta de vos ver foder o dinheiro que eu andei tanto anos a descontar estou eu!

E é assim que as coisas vão, no país real. O que me dizem sobre isto?

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Com estas alternativas...

...venha lá o Bloco Central...



Atenção: não é um sketch dos Gato Fedorento...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Basta o título

... para percebermos que há algo de errado:

Líder da Fenprof diz em comício da CDU que Sócrates distingue entre "cidadãos de primeira e de segunda"

Hum... Líder sindical discursando num comício da CDU? Ah, esperem! Ao lermos a notícia, vemos o seguinte:

"O dirigente da Federação Nacional de Professores respondia assim às declarações do secretário-geral do PS, José Sócrates, que afirmou no sábado que há sindicatos que são instrumentalizados e que funcionam como correia de transmissão de partidos, a propósito da manifestação que juntou dezenas de milhar de docentes em Lisboa, e em que esteve presente a cabeça-de-lista da CDU ao Parlamento Europeu, Ilda Figueiredo."

Como é? Ora diga lá outra vez (mas talvez noutro local onde não esteja a decorrer um comício de um partido politico que por acaso juntou-se às manifestações dos professores).

Mais a sério, para quando o verdadeiro sindicalismo (aquele que de facto é útil ao trabalhador e à sociedade) em Portugal?

Programas para as eleições europeias (via Delito de Opinião)

Alertado pelo Blasfémias, sinto-me na obrigação de partilhar com os meus leitores o excelente trabalho levado a cabo no Delito de Opinião: ler, resumir e comentar os programas para as eleições europeias. Aqui vão os links:
  • POUS: Despedir a União Europeia

  • PH: Peace and Love

  • MPT: Curto e grosso

  • PNR: O cão-guia

  • PPM: Um rei na Casa Branca

  • MMS: Onde mora o mérito?

  • CDS: É favor não incomodar

  • MEP: Mais `sustentabilidade´

  • PCTP/MRPP: Orgulhosamente sós

  • PCP: Saudades do COMECON

  • PSD: O referendo debaixo do tapete

  • BE: 'Auscultação dos povos'

  • PS: O pecado mora ao lado

terça-feira, 2 de junho de 2009

Procura-se

... a verdadeira campanha para as eleições europeias. Tem paradeiro desconhecido desde o nascimento. Suspeita-se que a desaparecida tenha passado a identificar-se como "campanha pré-legislativas"(1).

Talvez com a excepção da CDU e do Bloco de Esquerda, onde param as propostas e discussões verdadeiramente europeias?

(1) Mesmo com esse nome, tem sido de um nível tão baixinho... Tem sido cá um prelúdio para as legislativas...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A matemática, a segurança e o legislador português

O legislador português, frequentemente considerado como exímio, tem no entanto alguma propensão para não conseguir enquadrar na sua produção legislativa a exequibilidade da mesma. Falta-lhe, claramente, uma perspectiva de engenheiro (visão egocêntrica, que fique claro, sem qualquer relação com a formação do nosso Primeiro).

Um exemplo simples desta lacuna crítica é o número de deputados no nosso parlamento (230), que proporciona, e já proporcionou, empates em votações relevantes. Tal não significa que os empates não possam acontecer com qualquer número de deputados, uma vez que isso apenas depende do número de abstenções. Mas o facto de o número de deputados não ser impar potencia os empates mesmo quando não há abstenções. Como já aconteceu, dando origem à curta-metragem do queijo Limiano.

O exemplo mais recente é o da (não) eleição do Provedor de Justiça. O Provedor é, nos termos da Constituição, um órgão do Estado eleito pela Assembleia da República, que tem por função principal a defesa e promoção dos direitos, liberdades, garantias e interesses legítimos dos cidadãos, assegurando, através de meios informais, a justiça e a legalidade do exercício dos poderes públicos. As acções do Provedor de Justiça exercem-se, nomeadamente, no âmbito da actividade dos serviços da administração pública central, regional e local, das Forças Armadas, dos institutos públicos, das empresas públicas ou de capitais maioritariamente públicos ou concessionárias de serviços públicos ou de exploração de bens do domínio público.

Por tudo isto, é conveniente que o Provedor seja uma pessoa de reconhecido mérito e competência e equidistância entre partidos, porque os poderes que ele poderá ter de enfrentar podem ser muito diversos durante o seu mandato. Desta lógica deriva a maioria de 2/3 dos deputados.

Pois bem, na teoria o princípio dos 2/3 faz sentido, mas na prática ele pode ser bloqueado. Ou seja, basta que um partido com pelo menos 77 deputados, por uma qualquer razão (não interessa qual) não queira que um Provedor seja eleito para que tal não aconteça. Na área da segurança tal é conhecido como uma negação de prestação de serviço (ou Denial of Service, DoS, em inglês). E não há nada a fazer ... a não ser mudar o sistema!

A lição a tirar deste triste exemplo é a seguinte: em qualquer caso tem de haver uma solução; pode não ser a melhor, mas tem de haver uma. Neste caso, por exemplo, a escolha poderia passar da Assembleia para o Provedor anterior, ou para o Presidente da República. Mas a continuação deste impasse é algo de indesejável, que o legislador tinha obrigação de ter acautelado e não acautelou.

EU Profiler

Ora aqui está uma aplicação online muito interessante: EU Profiler. O resultado que obtive faz-me reflectir um pouco...

Obrigado Luís!

Se alguém que merece uma despedida assim, és tu.



Emocionante. Um momento único para um jogador único, que nos proporcionou sensações inesquecíveis. De entre todas essas, escolho este grande jogo no qual o Figo proporcionou a mais fantástica reviravolta da nossa selecção (aos 0.30 minutos do vídeo).




Nunca esqueci este momento. Ainda hoje me lembro de estar num bar a ver o jogo e ter várias pessoas em meu redor a chorar, a sentir contigo essa raiva e essa esperança.

É este o charme do futebol. Proporciona guerra, ódio, mas sobretudo alegria, união e heróis. Heróis como tu, Luís.