terça-feira, 12 de maio de 2009

Sugestões para começar a caminhar num sistema de ensino diferente

Um óptimo desafio lançado pelo nosso colega Rui a propósito das 11 regras de Bill Gates.

Em primeiro lugar queria escrever que tenho evitado falar aqui de educação porque sou professor! Apesar de ter orgulho na minha profissão, o simples facto de a exercer tem sido ignorantemente visto pelos demais como redutor e desprestigiante, invalidando à partida qualquer opinião que um professor (bom ou mau) possa ter.

No entanto considero o desafio do Rui demasiado bom para o deixar sem resposta e então aqui vai!

Com o alargamento da Escola Obrigatória até ao 12º ano, (medida que eu considero utópica neste momento por não existirem condições para tal alargamento, refiro-me a alternativas ao Ensino normal, Cursos Profissionais, condições físicas nas escolas, pessoal docente e não-docente, políticas de incentivo à excelência em contraponto com o facilitismo existente,...) considero essencial ajustar melhor os Ciclos de Ensino às matérias, competências e cursos que possam vir a ser criados. Assim, alargava o 1º Ciclo em mais um ano, englobando já algumas disciplinas como uma Língua Estrangeira, TIC, entre outras... As aulas neste ciclo seriam dadas sempre que possível em regime de co-docência, podendo as turmas serem alargadas a mais alunos (para poupar nos custos). O 2º Ciclo, iria do 6º ao 8ºano e o 9º encaixaria no Ensino Secundário, formando um 3º Ciclo de 4 anos.

A minha segunda proposta iria na redução de disciplinas por período para apenas 5! Ter 13 ou 14 disciplinas como acontece actualmente no 2º e 3º Ciclo é incomportável. Face a este número de disciplinas e, compreensivelmente, os professores acabam por facilitar deixando os alunos de serem bons numa coisa para passarem a ser "jeitosos" em muitas! Ora, não é de "jeitosos" que Portugal precisa!
A redução para 5 disciplinas permitia uma melhor gestão dos vários programas e uma efectiva apreensão dos conceitos por parte dos alunos às várias disciplinas. Considero que das 5 disciplinas a leccionar em cada período, Língua Portuguesa e Matemática deviam ser obrigatórias e as outras 3 que seriam de opção em cada período entre uma Língua Estrangeira, uma da área das Ciências e outra da área das Ciências Sociais.
As 5 disciplinas por período permitiam dividir o horário em 10 blocos de 2 horas cada, o que corresponde aos alunos terem aulas somente no período da manhã ou da tarde. No período livre os alunos teriam ainda que escolher 5 actividades extra, como por exemplo: Desporto, Teatro, Trabalhos Manuais, Desenho, Acção Social,...
A avaliação deixaria de ser apenas anual e passaria a ser trimestral, com 10% correspondente à assiduidade e comportamento, 45% à avaliação interna (realizada pelo professor da disciplina) e 45% à avaliação externa (realizada nos moldes dos Testes Intermédios já existentes, com possíveis adaptações como as sugeridas pelo André (aqui)).
Desta forma, os períodos de avaliação seriam bem mais curtos, não permitindo o aumento do desinteresse revelado pelos alunos do 1º para o 3º período e a cada negativa que o aluno tenha num trimestre, teria que ter aulas extra (em lugar de uma das actividades opcionais referidas anteriormente) e repetir a avaliação (interna e externa) no período seguinte até obter aprovação.
Este sistema funcionaria no 2º e 3º Ciclos (neste último com maiores adaptações e mais opções nas disciplinas a frequentar)
No final do 2º Ciclo (8º ano) e de acordo com as notas conseguidas pelos alunos, eles seriam encaminhados para um 3º Ciclo Profissional (2 anos com disciplinas mais práticas e os outros 2 já com uma componente de Estágio) ou Técnico (mais vocacionado para o prosseguimento de estudos). Em qualquer dos casos, a realização dos exames de admissão e a própria entrada na Universidade não seriam barradas.

Esta era a estrutura que propunha para o Ensino! Podem começar a apedrejar, a fazer perguntas, críticas ou simplesmente a dar outras ideias para o Ensino.

3 comentários:

  1. Interessante, Beto. Uma formação sólida de base (focada em aprender BEM as matérias fundamentais), abrindo depois a possibilidade para complemento com matérias personalizadas.

    Agradam-me sobretudo dois aspectos: a passagem a um funcionamento verdadeiramente por trimestre (pois permite uma análise mais fina do desempenho do aluno) e a separação com base no mérito escolar entre o profissional e o técnico (algo próximo do sistema alemão, o qual eu admiro).

    Mas relativamente a este último, existem alguns obstáculos: como dizer aos papás que o filhinho querido não tem notas para entrar no técnico, para vir a ser doutor? O estado do nosso ensino já permite ter cursos verdadeiramente profissionais, ou continuaríamos com cursos "profissionais" para efeitos estatísticos?

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  2. Os obstáculos que apresentas mostram a necessidade de existir uma avaliação externa para permitir aos pais e alunos localizarem os seus filhos nas médias nacionais e assim procurarem em conjunto com eles alternativas ao "ser doutor"!
    No segundo ponto tenho que concordar contigo. Neste momento temos cursos "profissionais" apenas para efeitos estatísticos. Isto não pode ser assim se queremos bons profissionais em qualquer área!

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  3. Hum... não entendi muito bem o que queres dizer com avaliação externa? Tipo exame nacional, de forma a meter numa mesma classificação os alunos a nível nacional?

    Isso traz vários problemas, sobretudo de diferenças de qualidade entre escolas. Mas ok, isso não é assim tão importante. De qualquer forma, isso não resolveria a questão dos país, porque serão sempre criativos o suficiente para encontrar justificações para a fraca classificação dos filhos, reclamando de seguida segunda oportunidade.

    Essa contestação parece-me inevitável. Mas essa mudança, i.e. passar a admitir alunos nos diferentes cursos do secundário de um modo semelhante à admissão nas universidades ou através de um exame de admissão, parece-me necessária, até urgente. Só assim se tornaria a balança entre "doutores" e "não-doutores" mais equilibrada. Eu cá duvido que esse equilíbrio surja da parte dos alunos (ou dos seus pais).

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