segunda-feira, 18 de maio de 2009

Uniformes

Nesta altura de crise nacional, onde se deveriam diminuir as importações sem entrar em medidas proteccionistas, há uma medida simples que poderia ter vários benefícios para os orçamentos familiares e para a industria nacional: uniformes escolares.

Não estou a brincar. Por circunstâncias que não vêm ao caso, as minhas filhas sempre frequentaram colégios onde existia um uniforme. Um uniforme completo, incluindo saias, camisas, casacos, parcas, pólos, calções, t-shirts, parcas, batas, etc. E, devo dizer-vos, é algo que muito me agrada. Em primeiro lugar, não há sequer lugar a discussões sobre o que vestir e não há modas, pois não há alternativa (bom, com raparigas há sempre, quanto mais não seja a guerra dos collants vs. meias). Em segundo lugar, o investimento inicial pode ser grande mas depois amortiza-se ao longo de anos, o que não acontece com roupa de moda. Em terceiro lugar, as crianças não se distinguem pelas modas, o que é o mesmo que dizer que não se distinguem pela marca das roupas (sim, eu sei que ainda há os relógios, e os telemóveis, e as mochilas, e os sapatos/sapatilhas, e os adereços, etc., mas sempre é menos um pouco). Em quarto lugar, cria um espírito de corpo transversal a outros rótulos (punk, betinho, dread, etc.) que os atenua. Finalmente, contribui para a industria nacional em detrimento do trabalho escravo algures, porque os volumes de uniformes não justificam a importação massiva e, dessa forma, potenciam a micro e pequena industria nacional, mais próxima.

Será que não faria sentido usar esta aproximação em todos os estabelecimentos de ensino até, digamos, ao 12º ano? Eu sei que alguns dirão que isso contribuiria para diminuir a criatividade das crianças :-) mas será que elas, nesse aspecto, são mesmo criativas? ou seguem estereótipos impostos por grupos de pessoas afins? Será que no Reino Unido, onde se usam muito os uniformes, eles têm um deficit assim tão relevante de criatividade por terem usado uniforme? Não creio.

8 comentários:

  1. em nada me agrada a ideia de uniformes escolares obrigatórios... a existência de escolas que ofereçam essa opção não me causa qualquer problema, mas a obrigatoriedade seria, na minha opinião, desagradável. Há benefícios monetários (e outros, certamente...) mas é minha opinião que tal sistema cria uma certa artificialidade nas relações sociais e torna a escola ainda mais deslocada do mundo exterior. Por isso confesso que gostaria de ter a opção de pôr os meus filhos numa escola sem uniforme...

    Quanto à situação do Reino Unido, não creio que o sistema educativo seja modelo. Sendo o país com a maior taxa de gravidez na adolescência na Europa e com os problemas de criminalidade juvenil sobejamente conhecidos (uso de armas brancas, gangs de rua, etc...) são indicadores sérios de problemas graves na sociedade que provavelmente provêm de falhas no sistema educativo... terá isto a ver com o uso de uniforme? creio que não. em todo o caso, não me parece que o modelo britânico seja desejável para o nosso país...

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  2. Devo confessar-me um pouco neutro em relação a este tema, mas com alguma tendência para o "sim" aos uniformes. Vejo-os como uma forma de combater a desigualdade, de incutir alguma disciplina mas sobretudo de combater o crescente fenómeno do bullying.

    Ainda assim, concordo com o Jorge: não sei se o modelo britânico será o melhor para nós. Eu cá gosto muito do alemão...

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  3. Sinceramente acho que o uso de uniformes em escolas só viria a piorar a constante tendência que as crianças e jovens têm para se discriminarem uns aos outros (e falo disto porque conheço alguns casos).
    Verdade seja dita também que o que motiva isso é o facto de as únicas escolas onde se usam uniformes serem colégios privados. Aqui até atribuo mais a culpa aos pais, que gostam de passear os seus filhos e filhas pela rua a mostrar aos outros que têm poder económico para os pôr em colégios... Então numa cidade pequena onde não há colégios privados e os mais próximos são no Porto ou em Gaia, pior ainda!
    Quanto às crianças/jovens, é vê-los a comparar os telemóveis, consolas de jogos, mochilas...
    "Tu não tens telemóvel?"... "Ainda é o mesmo do ano passado?"... "O meu pai comprou para mim um telemóvel mais caro do que o dele!"... "A minha mochila, cadernos, lápis, canetas,..., estojo, até os lenços para limpar o ranho, é tudo Hello Killy..."

    Não são os uniformes que vão combater a desigualdade nem o exibicionismo de muitos… nem tão pouco ajudariam… Tudo começa em casa… Como diz a minha avó, “os filhos não saem às pedras da calçada”…

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  4. Acredito que exista de facto alguma ostentação com o facto de os uniformes estarem associados a algum poder económico. Mas isso desapareceria caso se implementasse o uso de uniforme em todas as escolas.

    Quanto ao piorar a tendência de bullying, duvido. Repare que nos exemplos que dá: todos eles existem, mesmo sem uniforme.

    Tocou num ponto fundamental: tudo começa em casa. E esse é de facto o grande problema (sobre o qual escrevi aqui).

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  5. JV afirma que "tal sistema [o uso de uniformes] cria uma certa artificialidade nas relações sociais e torna a escola ainda mais deslocada do mundo exterior". Mas os uniformes usam-se em muitas e variadas situações profissionais, por isso é algo que existe no mundo exterior. Já agora, no colégio actual das minhas filhas até os professores usam o uniforme da escola.

    A comparação com Inglaterra foi relativa a questão da criatividade vs. uso de uniformes. Qualquer outra extrapolação (gravidezes, violência, etc.) está, por isso, fora do contexto. E, se como afirma JV, tais problemas dificilmente se podem imputar ao uso de uniformes, para quê referir tais assuntos no comentário à ideia apresentada?

    Caro OSD, como o Rui Costa já bem o referiu, a discriminação ostentatória por usar uniforme só existe enquanto apenas alguns o usarem. Se todos o usarem, a descriminação será feita por quem o não usar. Parece-me evidente. E, já agora, nunca fui adepto do uniforme por essa razão, mas pelas que enunciei. E por isso é que advogo o uso do mesmo por todos os alunos, e não apenas por minorias.

    Sim, não são os uniformes que vão combater toda a desigualdade e exibicionismo nas escolas. Pensando bem, nada o fará a 100%. Mas se pudermos contribuir para minorar esses problemas (admitindo que o são) estamos a dar um passo em frente. E se, para além disso,resolvermos problemas aos pais, de gestão doméstica e finaceiros, estamos a dar vários passos.

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  6. Fantástico! Uma simples proposta gerou bastante discussão e aqui vou eu lançar mais uma pedra para a mesma não parar!
    Os uniformes fazem parte da nossa vida. E o protocolo para a vestimenta também! Seja porque não podemos entrar de chinelos numa cozinha ou porque devemos usar gravata numa recepção oficial.
    Eu considero que essa seria uma medida económica excelente, mas acima de tudo uma medida extraordinária para a imposição de regras (dentro e fora das escolas). Pelo menos reduzia as vistas degradantes de pequenas de 12 ou 13 anos com tops mini-mini ou regos do rabo a querem aparecer acima dos boxers e estes com tudo à mostra acima das calças que não sei como não vão parar aos joelhos!
    Haja decência e se não houver, venham os uniformes!!

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  7. Nao me parece que seja com uniformes que se resolvam as questoes de "decencia", de "descriminacao" ou ate de orcamento familiar nas familias... Voltando ao que disse antes, considero-os uma forma de despersonalizacao enquanto que em contextos profissionais sao antes uma forma de distincao... Novamente, nao e por ter esta opiniao que desconsidero quem opta por colocar as criancas numa escola que use uniformes. Contudo parece mais do que razoavel esse mesmo direito a opcao: por isso o nao a obrigatoriedade.

    Quanto ao exemplo do reino unido, usei as minhas palavras apenas para rebater a associacao de ideias que implicitamente ligava o uso de uniforme a um pais com uma educacao desenvolvida: parecem-me conceitos desligados, pelas razoes acima indicadas...

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  8. Caro JV, eu nunca afirmei que a educação não é desenvolvida pelo simples facto de se usar uniforme. Se assim fosse, então era fácil resolver o problema da qualidade do nosso ensino. Eu apenas considero que o uniforme nas escolas é uma boa prática enquanto medida anti-discriminatória e de economia para os pais.

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