segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Política de verdade

Mais uma vez, vejo-me completamente perdido no que toca à minha decisão de voto nas próximas eleições legislativas. É preciso mudança, sem dúvida. Mas mudar para melhor. E aí reside o meu problema: não vejo isso acontecer na oposição actual ao governo.

Vejamos: PP (entenda-se: Paulo Portas) é um bom demagogo, sem dúvida, mas para governar precisamos de algo mais que demagogia. PCP está claramente desenhado para estar na oposição. Bloco de Esquerda parece um mistura estranha dos dois anteriores: demagogia a rodes mas ainda assim útil na oposição.

Resta-me o PSD. E aí está um grande dilema para mim. Existem no PSD inúmeros indivíduos com capacidade para governar (bem) o nosso país - tal como no PS - mas, sinceramente, não penso que Manuela Ferreira Leite esteja entre esse grupo de pessoas. Por várias razões, uma delas sendo o vago programa do PSD apresentado para estas eleições. Ao ler o programa, eu vejo um conjunto de "visões", boas em geral, mas muito pouco de concreto. Tudo muito vago. Tudo muito no ar. Noto, sobretudo, uma clara tentativa de não se comprometerem com nada, para depois terem margem de manobra. Para que depois ninguém possa cobrar erros e metas por atingir. É uma estratégia, válida como muitas outras.

Eu prefiro alguém que se exponha ao erro. Prefiro alguém que se comprometa com as suas ideias, com as suas visões. Alguém que apresente propostas concretas sobre como atingir as suas metas. Eu prefiro alguém que arrisque o seu nome politico em prol das suas ideias, dos seus ideais. Eu prefiro alguém com coragem, alguém que se exponha porque acredita que pode melhorar o país.

Não vejo isso em Manuela Ferreira Leite. Vejo sim um enorme esforço em agradar ao eleitorado, mas pouca arte em fazê-lo. Por exemplo, vejamos a questão da privatização da segurança social. Manuela Ferreira Leite mentiu no debate com Francisco Louça, ao afirmar que não defende a privatização desta instituição. Basta ler o programa do PSD e ver que a reforma dos Portugueses deve ser crescentemente encarada como uma responsabilidade individual. Isto para não falar das suas declarações em 2008, quando questionada pelos deputados do PSD sobre as funções do Estado, respondeu que começaria por privatizar "aqueles sectores em que os privados já estão, como a saúde a educação". Em que ficamos? Qual é afinal a sua visão, o seu ideal? Ganhar as eleições, certo.

Depois temos as declarações recentes, na visita à Madeira:

A líder do PSD rejeitou a crítica de que existe "asfixia democrática" neste arquipélago, argumentando que "quem legitima o poder é o voto do povo e não está ninguém aqui por imposição, é em resultado dos votos". "Acho que há asfixia democrática no continente", adiantou(...)

Ah, mas então o actual governo foi imposto à força, ou foi eleito pelos espanhóis? Penso que nem vale a pena alongar-me sobre estas declarações, elas são auto-suficientes.

Depois temos afirmações em que diz que não importa se as acusações são verdadeiras, o que importa é a suspeição levantada. Para a auto-proclamada defensora da Politica de Verdade, estas afirmações não fazem muito sentido. Mais uma vez, parece-me pura demagogia. Mas já agora, fica aqui uma coincidência curiosa, que me chegou via a Câmara de Comuns:



Curioso, não é? Não tento com isto afirmar que a Manuela Ferreira Leite seja fascista! Quero apenas alertar para o perigo que advém da demagogia. E também salientar a importância de escolher alguém que se comprometa com as suas ideias, que se comprometa com propostas concretas.

Vamos ver o que acontece nos próximos dias. Talvez Sócrates me convença, talvez Manuela Ferreira Leite mostre que estou enganado. Não me interessa qual, desde que uma delas se verifique. Apenas quero poder votar em alguém em que acredito ser o melhor, e não apenas o menos mau.

7 comentários:

  1. As semelhanças até assustam...

    ResponderExcluir
  2. Vejamos se a Manuela Ferreira Leite mentiu ou não sobre a questão da privatização da Segurança Social.
    A curiosidade levou-me ao programa eleitoral do PSD onde se pode ler na pag 17 ponto 14 o seguinte:
    "Manteremos durante a próxima legislatura o regime da
    Segurança Social nos seus traços essenciais.

    Estudaremos, porém, a introdução de medidas destinadas
    a que a pensão de reforma dos Portugueses passe a ser
    crescentemente encarada também como uma responsabilidade
    individual, como a informação periódica sobre a situação
    de cada titular ou o progressivo plafonamento do valor das
    contribuições e das pensões mais elevadas, sempre com
    integral respeito pelo princípio da confiança"

    O primeiro paragrafo permite-me concluir que de facto a MFL não mentiu, dado que não consta do programa para a próxima legislatura do PSD a alteração do presente modelo da Segurança Social. Contudo o segundo paragrafo deixa em aberto o estudo/introdução de medidas que visam aproximar o privado da gestão das pensões. Uma dessas medidas é o "progressivo plafonamento do valor das
    contribuições e das pensões mais elevadas"? Mas que raio significa "plafonamento"? Encontrei uma resposta em:
    http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=1082
    Não deixa de ser um pouco confuso, mas pelo que percebi, trata-se de uma medida que limita a contribuição em função do salário. Esta medida foi defendida pelo governo de Santa Lopes e estava a ser preparada pelo então ministro das Finanças, António Bagão Félix, quando o Presidente da República, Jorge Sampaio, decidiu dissolver o Parlamento. Bendita hora..

    Mas então em que é que ficamos? Com tanta ambiguidade torna-se difícil perceber qual o plano da MFL para a segurança social! Acho que a minha opinião vai de encontro à do Rui: não se pode dizer que a MFL tenha mentido uma vez que ela não se expõe ao erro. O programa eleitoral é demasiadamente flexível e pouco esclarecedor.

    ResponderExcluir
  3. A Segurança Social (SS) tem duas funcionalidades fundamentais: assegurar reformas e assegurar subsídios de desemprego. Pensar numa privatização parcial das contribuições para a SS pode fazer sentido numa lógica egoísta de reforma (colocar os descontos em investimentos de alto rendimento para melhorar a reforma pessoal) mas não faz qualquer sentido para lidar com os subsídios de desemprego, onde a SS tem uma lógica equiparável a uma seguradora (pagamos todos para ajudar aqueles a quem o azar bateu à porta). Esta lógica mutualista é contrária ao interesse egoísta de retirar parcelas da SS para benefício (?) exclusivamente próprio. Mesmo que essas parcelas possam dar direito a algum apoio no desemprego, é sempre para o próprio, e não para terceiros, portanto continua a perder-se a lógica mutualista.

    Para além do mais, e só quem não quiser é que não vê, os últimos anos têm sido pródigos, nos EUA, onde o modelo privado é único, em exemplos de perda total, ou ameaça de perda total, das reformas por causa de falências (porque as reformas estavam em títulos do empregador que faliu, porque a AIG ia falindo não fosse o "maldito" Estado "dar-lhe a mão", etc.). É isso que se continua a querer com a contribuição parcial para mecanismos privados de segurança social? Continuar a vender o El Dorado como um casino onde nada se partilha com os demais?

    ResponderExcluir
  4. Ao mencionar o casino, lembrei-me que as pessoas gastam mais dinheiro nos jogos de azar em momentos de crise. Só por isso, deviam redireccionar todos os impostos do jogo para a Segurança Social. Só isso, garantia o aumento de rendimentos durante os momentos de crise.

    A Segurança Social em Portugal é um fenómeno relativamente novo, que teve um período transitório após o 25 de abril, em que muitas pessoas foram atribuidas pensões de reforma sem alguma vez terem feito descontos. No entanto, este período transitório não foi o que minou a solvência da SS. O que de facto minou a solvência da SS, o que obriga o estado a incluir o tão infame factor de sustentabilidade, foi que nos anos 80 e parte dos 90, o estado descapitalizou a SS, por esta estar cheia de dinheiro.
    Esta descapitalização não foi exclusiva de um ou outro partido que estiveram no governo. Todos meteram a mão no cookie jar.
    Esse aparente excesso de dinheiro deveu-se ao facto de pós 25 de abril, todos os trabalhadores passaram a contribuir, sem que a esperança média de vida tenha aumentado significativamente e com o aumento demográfico significativo. Eventualmente, as melhorias na saúde e da esperança média de vida fizeram-se sentir. Os contribuintes que começaram a sua vida profissional pós 25 de abril, descontaram toda a vida, para hoje ter uma reforma financiada pelos seus descontos. Isso seria verdade se o estado não tivesse descapitalizado a SS durante a sua vida contributiva.

    A ideia que a população activa tem de pagar as pensões da população reformada é uma pura falácia. Pode ser como o estado faz as contas mas não deixa de estar errada. A população activa paga a sua própria reforma e se o racio entre a população activa e a população reformada reduzir, isso não deve afectar em nada a sustentabilidade do sistema.
    A ideia de privatizar a SS é, em termos práticos, a mesma coisa que descapitalizar a SS e isso foi o que deu origem a esta situação.

    ResponderExcluir
  5. Rui, no outro dia, ouvi a opinião de uma senhora que resume bem aquilo que vão ser estas eleições... a mulher disse assim: "Não tenho partido e não sei em quem vou votar. Só sei é que não quero que ganhe o Sócrates!"
    Na minha modesta opinião estas vão ser as eleições da derrota do Sócrates. A ideia não é eleger ninguém é apenas tirá-lo de lá! Claro que a Senhora Manuela se apresenta como a alternativa mais credível (ou não...)! E eu digo que até gostava de meter o meu voto na "chaminé", era sinal de uma evolução ideológica, há quem diga que com a idade e à medida que vamos enriquecendo vamos votando sempre mais à direita(?!) Ora, eu estou mais velho, mas não estou mais rico!
    Se nunca gostei do Sócrates, a MFL também nunca me convenceu!
    O meu palpite é que seja lá qual for o vencedor, daqui a 6 meses voltamos às urnas!
    Eles todos gostam do circo que são as campanhas eleitorais, mas neste circo quem está fora é que são os palhaços!

    Zé, André e Fausto... vocês têm toda a razão! Mesmo não estando no programa do PSD a frase "privatizar a Segurança Social", a ideia está lá! Assim como está a ideia da privatização do Sistema Nacional de Saúde, da Educação, da EDP, Galp, TAP,... E desengane-se quem pensar que as mesmas ideias não transparecem do programa do PS. Nos últimos 4 anos foi o que vimos perspectivar-se para acontecer e a machadada final vai ser a Revisão Constitucional prevista para a próxima legislatura. Aí veremos se as expressões "...tendencialmente gratuito..." desaparecem da nossa Constituição.

    ResponderExcluir
  6. Tenho a certeza que Sócrates o vai convencer, primeiro porque é a única opção credível, segundo porque se olharmos para os dois programas, vemos quem se compromete com os portugueses e quem apenas faz o discurso oco de mudança, quando as únicas propostas se baseiam em suspender o processo de modernização do país.
    Obrigado,

    Mário Martins

    ResponderExcluir
  7. Caro Mário,

    Talvez, mas não está a ser fácil, confesso. Espero dentro de alguns dias conseguir ter uma ideia clara para o meu voto (e postá-la aqui).

    ResponderExcluir

Atire a sua pedra, vá!