In "A Vida num Sopro", de José Rodrigues dos Santos:
"Disfarçada pela máscara cintilante da civilização, que polia a realidade com o talento lustroso de um ilusionista, a vida dos homens não se afigurava em boa verdade muito diferente da dos animais, como se podia descobrir no rosto e na vida daquela mulher que vira no Rossio. Para ela não havia animatógrafo nem poesia, apenas a mão estendida para sobreviver a esse dia.
(...)
Cada desejo procura satisfação, cada obstáculo gera sofrimento. Mesma a satisfação de um desejo apenas suscita felicidade temporária; logo a seguir vem um novo desejo, de novo travado por mais um obstáculo, o que significa que a existência é sempre a luta, o sofrimento omnipresente, a felicidade efémera. (...) Olhem para Dante, que não teve qualquer dificuldade em imaginar o Inferno... Bastou-lhe ir buscar os elementos que já existiam no mundo e, pimba!, eis o Inferno! Mas, oh!, quando chegou a hora de conceber Céu, aí é que foi o cabo dos trabalhos! O grande poeta não teve artes para imaginar o Céu porque não havia neste mundo nada que o inspirasse para conceber o Paraíso! Nada! Meu Deus, não será isso a prova mais completa de que nós afinal vivemos no Inferno?"
Não partilho de uma visão tão negra (derrotista?) da humanidade, mas fez-me pensar...
"Disfarçada pela máscara cintilante da civilização, que polia a realidade com o talento lustroso de um ilusionista, a vida dos homens não se afigurava em boa verdade muito diferente da dos animais, como se podia descobrir no rosto e na vida daquela mulher que vira no Rossio. Para ela não havia animatógrafo nem poesia, apenas a mão estendida para sobreviver a esse dia.
(...)
Cada desejo procura satisfação, cada obstáculo gera sofrimento. Mesma a satisfação de um desejo apenas suscita felicidade temporária; logo a seguir vem um novo desejo, de novo travado por mais um obstáculo, o que significa que a existência é sempre a luta, o sofrimento omnipresente, a felicidade efémera. (...) Olhem para Dante, que não teve qualquer dificuldade em imaginar o Inferno... Bastou-lhe ir buscar os elementos que já existiam no mundo e, pimba!, eis o Inferno! Mas, oh!, quando chegou a hora de conceber Céu, aí é que foi o cabo dos trabalhos! O grande poeta não teve artes para imaginar o Céu porque não havia neste mundo nada que o inspirasse para conceber o Paraíso! Nada! Meu Deus, não será isso a prova mais completa de que nós afinal vivemos no Inferno?"
Não partilho de uma visão tão negra (derrotista?) da humanidade, mas fez-me pensar...
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