quarta-feira, 25 de março de 2009

Boa noite e boa sorte.

Boa noite porque já o é; boa sorte porque se começou a ler este texto (e ainda não é tarde para parar de o fazer) vai precisar dela. Sobretudo para resistir à imensa tentação do aborrecimento ou à facilidade da irritação face à discordância. Sou homem de poucas opiniões vincadas (e de muitas impressões gerais): por isso agarre o saleiro e o pimenteiro da cozinha e tempere, sempre que me ler, a gosto.

Permitam-me aludir ao título do blog: Costa Rochosa. A metáfora lusíada da praia lusitana permanece na nossa memória colectiva e todos a entendemos sem grande esforço. Mas a título sugere antes escarpas a ocidente, rocha que se compara ao velho que vê do Restelo a partida das naus para o novo mundo. Um novo mundo que talvez desejemos também para nós, Portugal.

Mas aqui chego eu, que estudo fora do país, que vivo numa ilha tantas vezes eleita no sonho do português comum como lugar de civilização. Olho portanto à distância o meu Portugal. E digo "meu" não sem ponta de saudosismo (há quem diga que connosco nasce) mas já sem o "fatalismo" de um recém-emigrado. Esta distância vê-o com outros olhos, mais benevolentes é certo e talvez distanciados da realidade quotidiana, mas com olhos portugueses ainda assim.

E uma vez chegado, observo que se sente aqui a mudança na sociedade. E uma mudança negativa. Sobre isto, tenho uma impressão geral: é ela a de que o mundo novo está a ser alcançado e não é aquilo que desejamos! Traduzo: usando (como possivelmente o farei com alguma frequência) a experiência em Inglaterra como exemplo, percebo que há crescente convergência de comportamentos sociais (será isto também parte do fenómeno da globalização?). Tenho agora de esclarecer como vêm os meus olhos a sociedade inglesa. Em duas palavras: genericamente mal. E por isso preocupa esta convergência que, por paradoxal que seja, tem sido desejada desde que Portugal percebeu-se não na cabeça (como geograficamente se orgulha) mas na cauda (como certos indices acusam) da Europa. Os valores mudam e parecem aproximar-se perigosamente daqueles que cá vigoram...

Por outro lado, olhando as gerações mais novas, tendemos a pensar que muito mudou. O que é facto. Mas também isso pensaram aqueles que nos olhavam antes. E também eles reprovavam certos factores de mudança. Ainda que tendo uma opinião sobre essas mesmas mudanças, sob que padrões sociais ou culturais podemos julgar comportamentos ou ideias novas de forma justa (sendo que o termo justiça precisaria neste contexto de definição adequada)? Não nos esqueçamos de que fomos etiquetados de "geração rasca" em tempos idos...

Tudo isto me lembra Pessoa na Mensagem: "Falta cumprir-se Portugal", mas acho que ninguém sabe muito bem que "Portugal" é que se quer cumprir.

Se chegou a este último parágrafo: parabéns. Felicito-o pelo esforço e agradeço a paciência. Termino com a sensação que pouco disse e que mais ficou por dizer. Mas deixo-o completar com especiarias várias, ao sabor do que deseja ler, os espaços que por cá ficam. E certamente percebeu, pelo tom culinário, que na verdade escrevo esfomeado e que a hora de jantar está à porta...

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