terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O Monstro está de volta


Penso que José Sócrates sai com uma imagem bastante reforçada desta entrevista. Miguel Sousa Tavares esteve bem, com uma posição pouco populista e bastante objectiva. Mas essa objectividade e colocação directa de questões "difíceis" colocaram o Primeiro Ministro no campo onde se sente mais à vontade: o confronto. E aí, o monstro reapareceu. Aliás, o maior erro da oposição é insistir na demagogia e nas guerrinhas que chegam a roçar o pessoal. É precisamente nesse campo de batalha que Sócrates se sente em casa.

O ponto alto foi a questão da descida de impostos. Sócrates cita Krugman e, com a lição bem estudada, dá uma explicação simples da razão que o leva a não baixar impostos: os ganhos com a baixa de impostos seriam colocados em poupança e não no mercado. Não me convence, mas o argumento é válido e foi bem defendido.

Continua a pairar uma nuvem negra sobre José Sócrates, é certo. Mas isso permite que as atenções sejam desviadas do que realmente importa, com Sócrates a dar o corpo às balas enquanto os Ministérios (bem ou mal) vão trabalhando tranquilamente. Essa nuvem, sobretudo com a insistência pouca criteriosa a que vamos assistindo, gastar-se-á. E se José Sócrates "sobreviver" a esta fase, voltará em grande força. Enquanto isso, o PSD perde-se em batalhas internas e o Bloco de Esquerda em populismo e sensacionalismo. Resta o CDS, focado em questões centrais, com uma expressão crescente mas ainda assim limitada. Assim, deixo-vos com duas previsões muito pessoais:

1. Caso este governo seja destituído pelo Presidente da República em breve, José Sócrates voltará a vencer as eleições.

2. Caso não o seja e o PSD continuar divido e egocêntrico como até aqui, José Sócrates voltará a vencer as eleições.

Este cenário é bom ou mau para o País? Sinceramente não sei. Mas que o problema reside na falta de alternativas e na falta de elevação do discurso politico, disso não tenho dúvidas.

P.S. Recomendo também o Notas Soltas de ontem.

6 comentários:

  1. Toda esta questão resume-se em dois grandes problemas para o nosso país: o cidadão Sócrates é acusado de tanta coisa, que se fez alguma delas, já devia ter-se demitido e se não fez nada daquilo pelo que é acusado então temos muito lixo na nossa sociedade. A ser esta segunda hipótese a verdadeira, temos péssimos jornalistas que acusam sem provas e em nome de interesses escondidos; temos uma Justiça nula, que permite acusações atrás de acusações sem o menor fundamento ou prova, que não age a tempo e quando age, age tão mal que complica ainda mais a vida do falsamente (ou não) acusado (vejam-se as atitudes do Sr. Procurador Geral da República e do Presidente do Supremo Tribunal); temos maus políticos que não agem em nome de ideais, nem em nome do bem geral de quem os elege, mas sim segundo os interesses pessoais (ou de outrem)!

    A minha dúvida deambula entre estas duas hipóteses e no fim de todas as opiniões ou artigos que ouço ou leio, fico com a nítida sensação de que é aí que reside a verdade... exactamente no meio: o Sócrates não é inocente e temos maus políticos, maus jornalistas e uma justiça nula!!
    Senão vejamos: Sócrates pelo menos é culpado de escolher mal os seus "boys" (veja-se o primo, o seu Secretário de Estado do Ambiente, Armando Vara, Rui Pedro Soares e muitos mais, que giram em torno do "chefe" e ele, no mínimo, permite-o) e tudo o restante é mais do que sabido de que é verdade!

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  2. Precisamente, Beto. Independentemente de quem esteja a falar verdade no meio disto tudo, a conclusão é a mesma: estamos num nível politico-social muito baixo. E isso é assustador...

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  3. Rui, discordo da tua apreciação do Sousa Tavares. Acho que foi péssima, abaixo da média nacional, que já é muito medíocre. Foram inúmeras as entradas de leão e saídas de sendeiro. Repetiu as perguntas que já se fizeram N vezes e que já toda a gente conhece as respostas. Pouco se soube de novo. No computo geral, a entrevista fui uma quase pura perda de tempo.

    O que é que eu gostaria de saber e continuo sem saber? Coisas simples:
    1 - Qual a função dos Administradores Executivos (AEs) nomeados pelo governo na direcção da PT? Cumprir linhas de orientação da PT ou do governo?
    2 - Sócrates disse que os AEs nomeados pelo governo foram escolhidos numa lista apresentada pela PT. Qual o critério para a sua escolha dentro da lista? Por que razão escolhem um em detrimento de outro? O que lhe exigem em compensação dessa escolha?
    3 - Aparentemente (e eu não queria estar a comentar assuntos relacionados com escutas, para ser coerente com a minha opinião anteriormente indicada sobre a sua publicação), aparentemente houve AEs da PT, nomeados pelo governo, que estiveram envolvidos na negociação da compra da TVI pela PT. Esse envolvimento foi solicitado pela PT, foi de moto próprio ou foi encomendado pelo governo (mesmo que não pelo Sócrates)? Até que ponto estavam alinhados com Zeinal Bava, que defendeu publicamente a compra da TVI? Estavam em sintonia com Zeinal Bava ou em sintonia com o governo, ou com ambos?

    Tudo isto, e muito mais, são perguntas que se poderiam e deveriam fazer para esclarecer o assunto, mas ninguém as faz, e Sousa Tavares nem de longe as ensaiou. Porquê? Porque o que o público gosta é de novelas, as novelas das escutas, as novelas do futebol, as novelas das namoradas do X, etc. E Sousa Tavares fez-lhes a vontade, e manteve tudo ao nível da novela, não saiu da mediocridade dos demais. É mais um entrevistador pífio. Infelizmente, em Portugal não há entrevistadores de nível. Nenhum.

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  4. O Povo Português tem um problema de amnésia grave ou sofre de esquizofrenia política. Possivelmente é um pouco dos dois. Senão vejamos:
    - Março de 2005 - eleito com maioria pelos portugueses para formar governo.
    Pontos altos:
    . Crise na educação (nunca se viu tanto professor contra um governo pós 25 de abril);
    . Caso Independente (desvio de fundos, corrupção, branqueamento de capitais, licenciatura ao domingo,etc);
    . Polémica dos Portáteis Magalhães (contracto com JP Sa Couto, vendedor de portáteis na Venezuela, mercado negro, uso ilícito de imagens para campanha do PS, erros gramaticais, desacreditado pela maioria dos professores);
    . Caso Freeport (subornos, compadrio, licenciamento de território em área protegida, primo karateka, etc);
    . Crispações/perseguição à TVI (o canal com maior audiências do País) e inicio do interminável combate contra o jornalismo populista.
    . Polémica nas obras públicas (TGV, aeroporto,etc)
    O que ficou na memória dos Portugueses: Trafulhices de A a Z, tiques de autoritarismo, intransigência, "jobs for the boys", falta de qualificações (de economia, Msc ou Phd ou outra coisa que o valha), etc. "Porreiro Pah"!
    No entanto..
    - Outubro de 2009 - eleito pelos portugueses para formar governo?! mas desta vez sem maioria absoluta. Portanto os portugueses continuam a preferir a mesma batata frita. Afinal de contas parece que não aprenderam com os últimos quatro anos, venham mais quatro por favor:
    Pontos altos até ao momento:
    . Escutas ao Cavaco e possível envolvimento de elementos do PS.
    . Um défice surpresa.
    . Rede Tentacular (Varas e coleguinhas socialistas , PT, MediaCapital, etc).
    . segredo de justiça
    . etc.
    Começo a achar que realmente o que o Povo gosta é de polémicas e quer ver sangue!! Por outro lado como alguem já disse não há alternativas. Isto porque o PSD (do resto da oposição nem falto) adora tanto esta novela que é incapaz de se unir para formar uma alternativa. Vê-se mesmo que está à espera que jogadas de bastidores vão denegrindo a imagem de Sócrates até este estar tão fraco que facilmente (mesmo que desorganizados) tomam conta do governo. Este vazio de ideias e alternativas é provavelmente o problema mais preocupante deste país. À falta de ideias, joga-se com a comunicação social e ataques pessoais ao homem.
    Pessoalmente gostei da entrevista e penso que ambos estiveram bem.
    Perguntas do tipo: "gostaria de comentar os factos que vieram a público (ilegalmente) acerca do envolvimento de elementos próximos de si em negócios poucos claros e blablabla" não elevariam a discussão e só desautorizariam a nossa justiça que serenamente deveria estar a tratar de investigar o caso. Estes "julgamentos em praça pública" são do mais baixo que há, e alguém com dois plamos de testa
    consegue encontrar um argumento simples que refuta essas "acusações".
    Um problema mais sério é a espiral de "acusações" públicas a que alguém pode estar sujeito. Talvez se trate de "Bullying político", o que também deveria ser punido,
    pois a liberdade de expressão não justifica tais ataques constantes e sem fundamento sério (diga-se jurídico) à imagem de algúem. Para finalizar, gostaria também de ter visto uma maior discussão em torno de:
    . Prioridades no investimento público para reactivar a economia. Onde/Como investir o nosso dinheiro?
    . Onde/Como recuperar o dinheiro investido?! IVA?
    . Grandes obras públicas (aeroportos, TGV) serão mesmo essenciais no actual quadro económico?
    Em suma, discutir as medidas que por um lado visam diminuir o défice público e por outro permitiriam estimular a economia.
    Esta dualidade foi pouco explorada pelo entrevistador que se contentou com a citação a Paul Krugmam. Posso acreditar que a sua formação jurídica
    não o permitisse encostar o Sócrates às cordas com perguntas mais sérias, mas poderia ter-se preparado um pouco melhor nessa área.

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  5. Que me perdoem o seguinte pensamento, mas no meio disto tudo até tenho pena do Santana Lopes! Coitado, por muito menos foi despedido com justa causa! Em qualquer país dito civilizado, bastava a mentira do défice para, pelo menos, o Ministro das Finanças se demitir! É que nem a desculpa de não conhecer a pasta o salva!
    Outro ponto que me preocupa é a inexistência do Presidente da República. É verdade que ele tarda sempre em falar, mas neste caso já se devia ter pronunciado sobre o desgoverno das contas públicas!

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  6. André, ninguém faz de facto as perguntas criticas. Mas mais do que as relacionadas com o(s) caso(s) que envolvem o PM, as perguntas que realmente importam passam pela realidade economico-financeira do nosso país. Perguntas semelhantes às que o Zé coloca.

    Esse é o grande problema destas novelas a que vimos assistindo. Estas servem apenas para desviar a atenção do que realmente é crucial. Das medidas duras que terão de ser tomadas. Da realidade.

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