terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Mercado não transitivo

Este post tratava-se de um comentário a um anterior - O meu Estado. Como me fui alongando no argumento achei que por direito próprio deveria apresenta-lo também como um post.

Em geral concordo com as ideias de um Estado regulador e menos participativo no mercado. Contudo penso que o Estado deve ter o poder de intervir/controlar no mercado e por vezes até marcar "golo" se necessário ou de forma mais modesta fazer uma grande assistência.

A economia a nível mundial é um sistema deveras complexo e demasiado volátil para se deixar correr "livremente" sem que os desequilíbrios sociais aconteçam.

É sabido que num mercado livre (sobre certas condições) é expectável um equilíbrio entre a oferta e a procura. A teoria do equilíbrio económico debruça-se sobre estes assuntos e podemos colocar as seguintes questões:
1) Quais os pressupostos permitem um mercado livre atingir um equilíbrio económico?
2) Quão afastado é o nosso mercado real de um mercado livre?

Não sei responder à 2) mas talvez possa esmiuçar a 1). Um equilíbrio de um mercado livre tem por base uma relação de perfeita competitividade e transitividade de preferências. A última é sem dúvida discutível e aqui proponho reflectir sobre a transitividade. Considere-se o seguinte exemplo: Numa loja informática existem 3 computadores e estou indeciso entre qual comprar, eis as suas características:

PC CPU RAM DISCO
A 4GHz 1GB 100GB
B 3GHz 4GB 80GB
C 2GHz 2GB 120GB

De seguida vou definir uma relação de ordem ou preferências (na realidade, mais adiante veremos que nem de uma preorderm se trata) que me ajudará a decidir qual comprar. Digo que o computador X é melhor que Y (X>Y) se X tiver pelo menos duas características melhores que Y. Facilmente concluímos que A>B e B>C. Contudo C>A. Eis uma relação de preferência não transitiva! Este exemplo facilmente se transporta para outras situações e acredito que a nossa economia cria destes bichos. Um economista sem escrúpulos poderia retirar todo o dinheiro a alguém se esta pessoa estivesse disposta a trocar o seu computador velho por um melhor pagando mais 100€. Basta usar a não transitividade do exemplo anterior e verificamos que partindo de A compramos C. Partindo de C trocamos por B e partindo de B trocamos por A e por aí sucessivamente. Onde está o equilíbrio entre a oferta e a procura? Neste exemplo isso não acontece.

Não acredito num desenvolvimento económico (com base num mercado livre) que esteja de mãos dados com um desenvolvimento social justo. O estado tem um papel activo/participativo a desempenhar na economia porque os modelos económicos não passam apenas de modelos teóricos. A realidade é bem diferente e os mercados são muito mais complexos, instáveis e imprevisíveis do que nós pensamos.

Um comentário:

  1. Como matemático, tenho de concordar contigo: não existe mercado perfeito. Daí que tenhamos de optar por uma boa aproximação. Temos o extremo comunista e o extremo liberal. Nem um nem outro têm resultados bons. Portanto, temos de escolher outros pontos nesse intervalo. E eu acredito que a opção deve tender para o liberalismo, embora com alguma intervenção estatal.

    A curto prazo, uma tendência mais intervencionista aparenta trazer uma melhor justiça social. Mas a longo prazo (veja-se o exemplo das medidas de defesa do emprego em Portugal), o feitiço acaba por se virar contra o feiticeiro.

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