Finalmente chegou o dia em que atesto a mala do carro com as tralhas que juntei durante o último ano... Há quem lhe chame férias, mas eu, por razões óbvias, apelido este dia de "O Regresso a Casa".
No meio de tantos, que utilizam o mês de Agosto para regressarem à sua terra natal, eu ainda me considero um felizardo por percorrer "apenas" 300km e por ainda conseguir trabalhar em território nacional.
Mas há muitos (e parecem ser cada vez mais) aqueles que não se podem gabar do mesmo. Ao fim de tantos anos e de algumas gerações voltamos (se é que alguma vez o deixamos de ser) a ser um país de emigrantes.
À primeira vista, isto até nem seria um problema. A entrada de divisas, a experiência adquirida, a qualificação da mão de obra são apontados como os resultados positivos da emigração. Mas o contraponto parece-me extremamente pesado.
Vejo demasiados jovens a saírem do nosso país à procura de uma formação académica que de outra forma não a conseguiriam alcançar, vejo demasiados recém licenciados a sair do nosso país em busca de melhores condições de trabalho, vejo os milhões investidos na formação dos portugueses serem colocados do lado de lá da fronteira e aproveitados ao máximo pelos países estrangeiros (em muitas empresas, universidades e até governos) que esfregam as mãos de contentamento pela mão de obra altamente qualificada a custo zero, vejo muitos empregos serem ocupados por estrangeiros com formação duvidosa e vejo poucos regressos... cada vez menos regressos! Se no tempo dos nossos pais a história era a de partir, ganhar umas coroas e voltar à santa terrinha, hoje a história é partir para nunca mais voltar!
Não é pelo saudosismo que aqui escrevo, mas sim pela descrença e pelo desânimo que se apoderou do nosso país.
Olho em volta e não vejo projectos capazes de cativar os nossos emigrantes a voltar ou para manter os nossos jovens por terras lusas. Vejo aldeias a ficarem desertas e as grandes cidades com demasiada miséria. Vejo demasiado entusiasmo com o turismo que só me faz lembrar Cuba e a República Dominicana: hotéis com estrangeiros e pobreza e miséria nas ruas!
Solução? Não a tenho... pois se a tivesse já a tinha posto em prática, mas sinto que não é este o caminho que temos de tomar! Teremos que começar muita coisa de novo. Uma justiça capaz de eliminar a corrupção que mina os bons projectos, uma educação capaz de eliminar o "chico-espertismo" instalado, uma sociedade com valores de cooperação e solidariedade ao invés da falsa competitividade latente, da vida de aparências...
Apelo a um trabalho mais coordenado entre as Escolas e as Universidades e entre as Universidades e as Empresas tendo como principal objectivo a criação de projectos de excelência capazes de gerar emprego e assim uma maior riqueza, na tentativa de inverter a desertificação (de pessoas e de ideias) do nosso país!
quarta-feira, 29 de julho de 2009
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Partilho da mesma preocupação, Beto. Começa a ser assustador...
ResponderExcluirConvém notar que nem tudo na emigração é prejudicial ao país. Pode inclusive ser muito positivo. Vejamos o caso da mão-de-obra altamente qualificada: ao ter este tipo de mão-de-obra formada em países de topo mundial, Portugal tem imenso a ganhar com o regresso destes cidadãos. Veja-se o caso chinês, que têm milhares de alunos de doutoramento em universidades de topo mundial e que regressam à pátria após a conclusão dos estudos para ocuparem posições de liderança. O problema português reside precisamente aí: não há lugar para essa mão-de-obra altamente qualificada, o que leva a que esses portugueses não regressem, não retornando assim mais valias ao nosso país.