Nos últimos dias, tenho mantido algum contacto com pequenos criadores de gado, o que me tem levado a reflectir um pouco sobre os seus problemas. Problemas esses que assentam sobretudo na concorrência estrangeira.
Todos eles se queixam da dificuldade que têm tido em vender o seu gado. Porquê? Porque, como não são capazes de rivalizar com o preço da carne importada, o mercado das grandes superfícies é-lhes inacessível. Além disso, o pequeno talhante, que mantém uma aposta na carne de qualidade, vê a sua clientela diminuir, em fuga para os preços apelativos das grandes superfícies, embora reconhecendo a diferença na qualidade. O pequeno criador vê assim o seu mercado apertar cada vez mais.
É a lei do mercado aberto, disse a alguns. Mercado injusto, responderam eles. Injusto porque essa carne importada provém de países onde o Estado presta um maior apoio aos criadores, o que lhes permite vender a preços mais competitivos. Como combater esta concorrência? Obter um maior apoio estatal, disseram-me de imediato. Concordo. O problema é que isso não depende do criador de gado, depende da vontade politica (eleitoral?). Mas a cooperação entre criadores depende apenas deles mesmo. Sim, a solução talvez passe pelo cooperativismo. Sim, porque nos países de onde importamos carne, existe um cooperativismo acentuado na agricultura. Isso permite negociar em maior volume, tornando o preço mais competitivo e abrindo assim portas a mercados mais amplos.
Em nota de rodapé, muitos destes pequenos criadores compra a carne para consumo doméstico... nas grandes superfícies. Porque é mais barato, disseram-me. É a lei do mercado. Mercado injusto...
Todos eles se queixam da dificuldade que têm tido em vender o seu gado. Porquê? Porque, como não são capazes de rivalizar com o preço da carne importada, o mercado das grandes superfícies é-lhes inacessível. Além disso, o pequeno talhante, que mantém uma aposta na carne de qualidade, vê a sua clientela diminuir, em fuga para os preços apelativos das grandes superfícies, embora reconhecendo a diferença na qualidade. O pequeno criador vê assim o seu mercado apertar cada vez mais.
É a lei do mercado aberto, disse a alguns. Mercado injusto, responderam eles. Injusto porque essa carne importada provém de países onde o Estado presta um maior apoio aos criadores, o que lhes permite vender a preços mais competitivos. Como combater esta concorrência? Obter um maior apoio estatal, disseram-me de imediato. Concordo. O problema é que isso não depende do criador de gado, depende da vontade politica (eleitoral?). Mas a cooperação entre criadores depende apenas deles mesmo. Sim, a solução talvez passe pelo cooperativismo. Sim, porque nos países de onde importamos carne, existe um cooperativismo acentuado na agricultura. Isso permite negociar em maior volume, tornando o preço mais competitivo e abrindo assim portas a mercados mais amplos.
Em nota de rodapé, muitos destes pequenos criadores compra a carne para consumo doméstico... nas grandes superfícies. Porque é mais barato, disseram-me. É a lei do mercado. Mercado injusto...
Caro Rui... Até parece que nas grandes superfícies só se vende carne de fraca qualidade... Até parece que só se vende carne de fraca qualidade porque é importada! Nada disso! Concerteza que há de tudo... Há produtos bons e outros menos bons... É mesmo assim, tem que haver oferta para todas as bolsas e é de facto uma triste realidade que bolsas mais pobres tendem a apenas conseguir adquirir e produtos de qualidade mais baixa. Em todo o caso, e de um modo geral, o facto de grandes superficies terem preços competitivos não se prende apenas com a qualidade. Não é uma relação proporcional! Simplemente têm a vantagem de conseguir bons preços junto dos fornecedores tendo em conta as grandes quantidades geralmente encomendadas; conseguem negociar melhores condições de pagamento, etc... E quanto mais não seja, compensam o preço mais barato de um artigo, subindo o preço de outro! E sejamos realistas... Só mesmo quem não tem por hábito ir às compras para casa é que não sabe que numa grande superfice (neste caso em relação a carnes) há uma oferta muito mais alargada, há produtos de elevadíssima qualidade, há carnes importadas mas também há muitas nacionais. Já para não falar na frescura dos artigos... Sabemos muito bem que é um grande prejuizo para um comerciante local deitar produtos fora só porque ninguem os comprou e estão a passar do prazo e, geralmente, tentam a todo o custo convencer os clientes mais inocentes que é um "bife tenrinho tenrinho...até comi igual hoje ao almoço...". Numa superficie grande, estas situações já estão previstas no orçamento, podem também ser re-negociadas com os fornecedores e ninguém nos tenta convencer a comprar o que quer que seja e só se deixa enganar quem quiser!
ResponderExcluirCaro anônimo,
ResponderExcluirAntes de mais, repare que o meu post não tem por objectivo focar a questão da qualidade da carne importada ou da carne vendida nas grandes superfícies. Eu pretendia chamar a atenção para a necessidade de um maior cooperativismo na agricultura...
Simplemente têm a vantagem de conseguir bons preços junto dos fornecedores tendo em conta as grandes quantidades geralmente encomendadas; conseguem negociar melhores condições de pagamento, etc...
Nem mais. E são essas grandes quantidades e esses grandes negócios feitos junto do pequeno agricultor?
há uma oferta muito mais alargada, há produtos de elevadíssima qualidade, há carnes importadas mas também há muitas nacionais.
Claro que sim. Longe de mim afirmar o contrário. Mas repare que a maior parte da carne é importada (pelo menos nos hiper que vejo). Mas eu não critico isso, lá está: lei do mercado.
Quanto ao ser nacional, talvez não saiba, mas há alguns pseudo-criadores que compram carne estrangeira e a vendem como nacional.
Quanto à questão da "elevadíssima qualidade", é sempre subjectivo. Mas por algum motivo os restaurantes de reconhecida qualidade (por exemplo, as churrascarias mais famosas, os melhores rodízios) e os grandes chefes não recorrem às grandes superfícies para comprar carne.
Sabemos muito bem que é um grande prejuizo para um comerciante local deitar produtos fora só porque ninguem os comprou e estão a passar do prazo e, geralmente, tentam a todo o custo convencer os clientes mais inocentes que é um "bife tenrinho tenrinho...até comi igual hoje ao almoço..."
Meu caro, vejo que está muito longe do que tem vindo a mudar neste mercado. A ASAE fez "maravilhas".
Vá a um pequeno talho numa zona de criação de gado tradicional. Experimente. Talvez mude de opinião quanto à "qualidade".
Então e onde está a ASAE aqui?
ResponderExcluir"Quanto ao ser nacional, talvez não saiba, mas há alguns pseudo-criadores que compram carne estrangeira e a vendem como nacional."
Ah, mas em todo o caso, acredite que eu sei no que falo...
"Quanto à questão da "elevadíssima qualidade", é sempre subjectivo. Mas por algum motivo os restaurantes de reconhecida qualidade (por exemplo, as churrascarias mais famosas, os melhores rodízios) e os grandes chefes não recorrem às grandes superfícies para comprar carne."
Certamente que não... Mas também não vão ao talho da esquina comprar todos os quilos de carne que utilizam! Vão directamente aos fornecedores e, em alguns casos, aos mesmos fornecedores a que vão os hipers.
E se falamos em restaurantes, então a questão já é outra... Isso sim, é duvidoso! Como é que alguns conseguem ter preços tão baixos? E mesmo restaurantes de alto gabarito estão lá é para fazer negócio e também não estão para ter prejuízo! Se puderem vender gato por lebre tanto melhor, e o cliente no fim ainda agradece... Afinal de contas o já só vê o produto final (depois de umas marteladas para ficar tenro)… Mas isso já é outra conversa!
Então e onde está a ASAE aqui?
ResponderExcluirPois é, é muito mais fácil cair em cima do pequeno comerciante do que em cima dos grandes revendedores. Por questões de complexidade de logística.
Vão directamente aos fornecedores e, em alguns casos, aos mesmos fornecedores a que vão os hipers.
Em alguns casos, sim. Na grande maioria, vão aos pequenos talhantes, porque assim tão um acesso mais simples ao controlo de qualidade da carne.
Se puderem vender gato por lebre tanto melhor, e o cliente no fim ainda agradece... Afinal de contas o já só vê o produto final (depois de umas marteladas para ficar tenro)… Mas isso já é outra conversa!
Pois, de facto isso já é outra conversa. A chico-espertice tão portuguesa. Mas acredite que aqueles que vão sobrevivendo e mantendo-se no topo, não tomam essas estratégias. Focam-se na qualidade. Claro que procuram o lucro, mas fazem-lo através da qualidade do serviço prestado, aumentando assim o volume de vendas e, consequentemente, o lucro.
Mais uma vez, eu gostava é que abordasse o tema do cooperativismo.
Muito bom dia e Olá a Todos! Antes de mais gostaria de agradecer ao Jorge por me ter contado acerca desde blog de amigos e convidado a participar nele. O Rui chamou à atenção um problema que afecta a nossa economia, que se trata, em geral, da falta de cooperativismo em alguns sectores, em especial na agricultura. Centros de cooperação entre agricultores existem em Portugal há muito tempo. Mesmo antes do 25 de Abril já se trabalhava nesse conceito e a esses centros de recolha e distribuição chamam-se cooperativas agrícolas. Essas nunca funcionaram como deviam porque:
ResponderExcluir1)As pessoas que as geriam pouco ou nada percebiam de gestão.
2)Interesses privados metiam-se ao barulho e todos queriam mandar na cooperativa
3)Agricultores desmotivados.
Em meados da década de 80 surgiu um burburinho de que o estado (Cavaco Silva) se preparava para investir fortemente na agricultura e meter de uma vez por todas as cooperativas a funcionar. Formaram-se camadas de jovens agricultores (o meu pai e os do Ricardo entram aqui) e criaram-se subsídios de apoio ao pequeno e médio produtor. Eram grandes ideias com grandes desígnios, porém a sua aplicação foi um fiasco. O que é que acontece quando se dá dinheiro a um “português”? Vai comprar um carro! Pois bem, a maioria dos produtores adquiriram tractores e máquinas agrícolas. Outros apoios surgiram como ajudas nos combustíveis, pesticidas, etc..As cooperativas eram responsáveis pela distribuição de todos esses apoios. Tratava-se de uma modernização em larga escala, sem grande controlo e acompanhamento. Cada um queria meter a mão no saco o mais fundo possível e extrair de lá o que conseguisse. Tanto dinheiro gasto e esqueceram-se de reestruturar as cooperativas! Claro que, passados uns anos, as máquinas ficaram velhas e os agricultores continuavam com os mesmos problemas. O grande problema das cooperativas é falta de pessoas capazes de mobilizar agricultores, que saibam criar condições para escoamento dos produtos agrícolas e que percebam de gestão! É preciso formar esses indivíduos!
Como comentário final gostava de falar da certificação dos produtos agrícolas. Hoje em dia procura-se em todo o lado o selo de qualidade, da certificação. Creio que, a par da falta de quantidade, esse é um dos maiores obstáculos que os pequenos produtores agrícolas têm para vender os seus produtos.
Zé Pedro
Caro Zé, não tinhas nada que meter os meus pais ao barulho! São pessoas de bem que tudo fizeram para ajudar a agricultura deste país a andar para a frente. "Raios'partam" a difamação! :c)
ResponderExcluirFalando a sério, e tendo tido uns pais que trabalharam de perto com a agricultura do Alto Minho, há várias coisas que me apraz dizer sobre esta questão. No caso da minha mãe, por exemplo, a "SôDonaEngenheira" teve em mãos vários projectos de emparcelamento. Para quem nao sabe, um projecto de emparcelamento visa minimizar os danos acumulados das habituais partilhas familiares, i.e., "pegar na manta de retalhos" que é o solo agrícola do norte de Portugal e transformá-lo em pseudo-latifúndios de modo a facilitar os acessos e o trabalho agrícola. O trabalho é interessante e sempre aguçou o espírito organizado da minha progenitora: é necessário fazer o levantamento do terreno, contactar os proprietários, valorizar cada pedaço de terreno, optimizar a redistribuição e realizar as acções legais para tal redistribuição.
Onde é que entra aqui a parte complicada? Na necessidade de cedência por parte dos agricultores... "O terreno já era do meu avô!", "O terreno vale bem mais daquilo que me dão!" ou "Estes doutores vêm para aqui inventar!" eram frases ouvidas várias vezes que demonstram a grande cultura "tuga": desde que ninguém me aborreça eu vivo bem, mesmo que as alterações possam facilitar (e de que maneira!) e/ou melhorar o meu quotidiano. Aproveito para dizer que, além da redistribuição, os projectos de emparcelamento também surgem como geradores de novas infraestruturas que promovem, claro, a agricultura.
Em conclusão, e após longa (e talvez desnecessária) explicação, tudo se resume ao "modus operandi" do português. Da mesma forma que, havendo subsídios (e sobre estas questões também poderia dar exemplos dado ter sido essa uma das funções do meu pai), o agricultor português - na sua maioria e não na totalidade, repare-se - tentava "sacar" dinheiro ao máximo sem, muitas vezes, cumprir com o prometido, é impossível que se queria criar cooperativismo e melhoria comum se os intervenientes querem apenas o seu lucro pessoal. Fica a ideia que, em mais uma faceta da nossa sociedade, a culpa não é APENAS dos governos e políticos mas também da nossa ESTÚPIDA maneira de olhar para as questões socio-económicas.
Viva, grande Zé!
ResponderExcluirParece-me que vocês atingem um ponto interessante: a falta de especialistas em gestão agrícola, que possam ajudar as cooperativas a vencer esta luta. Estou totalmente de acordo. Esse problema, aliado à falta de espírito de cooperativismo entre os pequenos agricultores (que se deve à desconfiança/desconhecimento do conceito de cooperativa), torna o problema do pequeno agricultor difícil de resolver.
Tal como o Ricardo diz, este é mais um exemplo que mostra que "a culpa não é APENAS dos governos e políticos mas também da nossa ESTÚPIDA maneira de olhar para as questões socio-económicas." Não o diria melhor!
Ricardo, depois de ter lido o teu comentário fiquei com a impressão que estavas a culpabilizar, em parte, os agricultores pela falta de cooperativismo e a consequente degradação da nossa agricultura.
ResponderExcluir"..é impossível que se queria criar cooperativismo e melhoria comum se os intervenientes querem apenas o seu lucro pessoal."
Eu não concordo, porque acredito que a procura por uma cooperação só faz sentido quando as partes querem maximizar o seu lucro. De que outra forma te serviria cooperar se consegues produzir e vender muito bem o teu produto directamente ao revendedor/cliente?
O que se passa é que os pequenos produtores não acreditam mais na cooperação. É uma "coisa" complicada que lá os engenheiros inventaram e que de nada serve a não ser para comprar tractores ou pesticidas sem ter que ir a Espanha. Enfim...o mal da nossa agricultura não é das "gentes" que trabalha a terra, mas sim do abandono de quem governa. Esses sim são os responsáveis pela calamidade e descrença que se vive no sector. Não basta entrar com dinheiro, é preciso criar condições para que este se transforme em soluções que a longo prazo traga a nossa agricultura a níveis do passado.
Em grande parte, concordo com o Zé, embora pense que não possamos desculpabilizar "as gentes que trabalha a terra".
ResponderExcluirDe facto, segundo o que vi, o pequeno agricultor vê a cooperação tal como o Zé descreve. Mas também é verdade que existe muito pouca abertura para aprender e experimentar novas realidades. E também muita desconfiança no "Sô Engenheiro", que só percebe de livros e nunca viu um enxada à frente.
Na minha opinião o problema da Agricultura em Portugal não reside assim tanto nos Agricultores, mas sim nos maus projectos que entretanto se associaram à Agricultura.
ResponderExcluirNão sei se se lembram da altura em que entraram os primeiros dinheiros vindos da Europa para melhorar a nossa Agricultura? "Modernizar e aumentar a competitividade da Agricultura Portuguesa", dizia-se na altura. Mas ao fim de tantos anos, é unânime considerar que a Agricultura Portuguesa não é moderna nem competitiva!
Então o que correu mal?
1. Má capacidade de negociação com os países europeus! Em troca do dinheiro que recebemos vimos montes alentejanos tornarem-se montes holandeses ou alemães, quintas durienses em quintas britânicas,... tudo a custos zero ou muito reduzidos, com projectos de qualidade duvidosa que duraram pouco mais de uns meses e rapidamente se tornaram projectos de turismo de empregabilidade nula e de excelente retorno para o dono! Portugal ficou sem terra, sem agricultura e dinheiro! Estes projectos foram um ou dois milhares por esse país fora!
2. A chico-espertice tipicamente portuguesa veio ao de cima! Não foram raros os projectos de vacarias sem vacas, de arrozais com rodas e guiador, de leitarias com mesas de bilhar, de pomares com piscinas... Mais uma vez, projectos de qualidade duvidosa de retorno zero para o país e um retorno excelente para os seus donos!
Mas nem tudo foi mau! Existiram bons projectos que vingaram nacional e internacionalmente, mas que devido aos fracos recursos desses projectos geralmente familiares não se tornaram competitivos com outros projectos europeus ou mundiais! Daí que tenha que concordar com a necessidade de unir esforços e recursos em cooperativas e que estas sejam geradoras e distribuidoras de riqueza pelos agricultores que ela pertencem e não apenas mais um projecto de um senhor engenheiro que vê ali a sua oportunidade de enriquecer à custa das mãos de um lavrador!
Ah! E deixem-se dessas ideias de que as cooperativas são ideias comunistas! Muito pelo contrário! Há quem faça o mesmo com várias empresas associando-se em grandes grupos económicos e aí não são comunistas, são capitalistas! Vá-se lá perceber!!