O lucro esperado cresce com o risco do investimento.
No entanto, no mercado laboral passa-se exactamente o contrário, ou seja o lucro decresce com o risco do investimento. Os contratos a largo prazo são acompanhados de salários superiores aos contratos a curto prazo.
Como é que é possível promover a flexibilidade laboral se não se introduz um factor de risco que reflicta a duração do contrato de trabalho?
Vejamos o exemplo das consultoras focadas em recursos humanos. Estas contratam profissionais altamente qualificados, que depois são enviados para outras empresas para colmatar necessidades de curto prazo. Naturalmente, a consultora cobra um overhead muito elevado, mas este tem de cobrir o risco de manter o profissional sem que este esteja a trabalhar em nenhum projecto.
Estou plenamente de acordo com a flexibilidade laboral mas esta deveria reflectir o risco associado a essa flexibilidade. Vejamos o exemplo de dois trabalhadores:
- Trabalhador A é contratado por 6 meses a ganhar 1000 euros/mês, com possibilidade de ser renovado o contrato por outros 6 meses.
- Trabalhador B é contratado por 12 meses a ganhar 1000 euros/mês
Calcular a probabilidade poder complexa mas também pode ser muito simples. Por exemplo, se houver 4 vagas para 5 trabalhadores.
Por outro lado, acho perfeitamente normal que um empregador proponha uma redução de salário para passar o trabalhador a um contrato sem termo. Afinal o risco é claramente inferior.
Esta teoria não me parece nada errada. O que me parece errado é o que vejo acontecer com muita frequência na realidade:
ResponderExcluirO empregador X tem a possibilidade de empregar o trabalhador A por 12 meses e pagar-lhe 1000€/mês, porque sabe que este lhe dará um lucro de 3000€/mês, mas opta por colocar o mesmo trabalhador A por 1 mês a ganhar 500€, pensando que obterá à mesma o lucro de 3000€. O trabalhador A aceita o trabalho porque não tem outra alternativa e acalenta a esperança de o seu contrato ser renovado e melhorado porque está à experiência. O seu esforço é brilhante e naquele mês dá um lucro de 3500€ ao empregador X, que acaba por lhe renovar o contrato por mais 1 mês e novamente por 500€. O trabalhador sente-se desanimado por não ver o seu contrato melhorado, até porque tem noção do lucro que dá ao seu empregador. Assim, nesse mês a sua produtividade baixa para 2500€. Como os lucros baixaram da sua expectativa, o empregador X, opta então por dispensar o trabalhador A e colocar o trabalhador B, novamente por 500€ num mês. Este trabalhador não tem a qualidade do A e dá apenas o lucro de 1500€ ao seu empregador. O empregador quer dispensar o trabalhador B lembrando-se dos resultados do trabalhador A, mas entretanto, surge uma lei para promover a criação de emprego, que dá um subsídio de 1000€ ao empregador, se este passar o trabalhador que tem para o quadro. Apesar do empregador saber que o empregador B nunca lhe dará 3000€ de lucro, avança-o para efectivo.
Anos mais tarde, o empregador X opta por fechar a empresa porque sem o subsídio fica 1500€ abaixo das suas expectativas de lucro.
Os valores são fictícios, mas na década de 90 e até princípios do milénio esta era uma prática bastante real nas empresas e com isso muitos dinheiros públicos foram desperdiçados.
A flexibilidade só resulta se for extremamente transparente aos olhos de todos os trabalhadores, se estes souberem que são pagos justamente e mediante o trabalho e o lucro que dão à empresa. Só resulta se não existirem factores externos à empresa a criarem injustiças económicas e sociais. Só resulta se o patrão cumprir escrupulosamente com todas as suas obrigações perante o trabalhador e perante o Estado. Só resulta se o Estado tiver mão firme perante os prevaricadores, sejam eles patrões ou trabalhadores. Só resulta se o trabalhador e patrão olharem para a sua empresa com objectivos claros e bastante próximos entre si.
E estaria aqui pelo menos mais meia hora a enumerar ses... mas penso que os posso resumir à segurança! Daí que tenhamos ouvido falar no palavrão nórdico da flexi-segurança. Só há flexibilidade se houver segurança. Tanto para o trabalhador, como para o empregador!