quinta-feira, 13 de maio de 2010

Como distribuía o seu dinheiro?

Proponho um exercício bem simples. Considere todo o dinheiro que tem disponível. Assuma que esse dinheiro é gerido por N indivíduos/entidades. Desses N, considere X que ao longo dos anos se tem mostrado um péssimo gestor, apresentando perdas consideráveis e consecutivas. Tem agora de decidir como redistribuir o seu dinheiro pelos N gestores.

Hipótese A: Entrega uma fatia maior do seu capital ao gestor X para que este recuperar das suas perdas.

Hipótese B: Diminui a fatia de X, para reduzir o impacto da sua fraca performance no resultado global, redistribuindo a sobra pelos gestores que apresentam os melhores resultados.

A ou B?

15 comentários:

  1. B...

    Se ao longo de anos o gestor X não deu provas de saber gerir o dinheiro, porque haverei de oferecer outra chance?

    Porque é que eu vejo aqui uma assimetria com o que se passa nos nossos sucessivos governos?

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  2. O problema é que a questão está mal formulada se tentarmos fazer uma analogia com os governos portugueses.
    A pergunta correctamente formulada seria:

    Proponho um exercício bem simples. Considere todo o dinheiro que tem disponível. Assuma que esse dinheiro é gerido por N indivíduos/entidades, mas apenas um gere todo o bolo de cada vez. Desses N, considere X que ao longo dos anos se tem mostrado um péssimo gestor, apresentando perdas consideráveis e consecutivas. Tem agora de decidir como escolher o gestor seguinte, sabendo que todos os gestores anteriores a X demonstraram ser igualmente péssimos gestores.

    Hipótese A: Entrega todo o seu capital ao gestor X para que este recuperar das suas perdas.

    Hipótese B: Entrega todo o seu capital ao gestor Y não pertencente a N para que este recuperar das suas perdas.

    Hipótese C: Muda todo o seu capital para outro país onde existem melhores gestores.

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  3. :) acho que o problema original não era única e exclusivamente referente a governos. Eu, na minha interpretação dele, é que vi uma notória semelhança.

    Relativamente à tua reformulação, entendo que a resposta C não é resposta, mas a típica maneira portuguesa de resolver problemas, que é deita-los para trás das costas...

    Logo daí só me resta A ou B. Assim sendo tenho uma questão. Como concretizas a B? Como escolhes o Y?

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  4. 1) A minha escolha seria a B.

    2) Vamos agora analisar 2 casos interessantes:

    2.1) Suponha que X seja o Estado. Neste caso é engraçado ver que uma parcela grande da população ainda aceita aumentar a fatia de dinheiro dada a X para que ele melhore o seu desempenho.

    2.2) Agora é o Estado que tem dinheiro pra distribuir entre as suas várias entidades e X é uma destas entidades. É incrível que quase sempre o Estado também faça opção pela hipótese A. E o pior, geralmente este aumento da parte de X é feito via subida de impostos.

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  5. Eu não me referi directamente ao Estado, nem a nenhuma situação concreta (embora seja notória alguma correlação :-)). Só o facto de se terem apercebido dessa semelhança já denota que algo está errado.

    Quando escrevi este post, inicialmente era de facto para ser um texto sobre as medidas de austeridade (?!). Mas ao escreve-lo, comecei a dar conta que este problema é comum a tantas outras situações, uma delas sendo a 2.2 do Tiago. O meu objectivo era precisamente ver o quão geral este problema (ou melhor, esta típica pior escolha) é.

    Digam de vossa justiça, meus caros. Por exemplo, se adequarmos este problema ao cenário onde o Estado é X, como implementamos B?

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  6. A privatização é um exemplo da implementação de B.

    Temos no Brasil exemplos de empresas que se tornaram bastante competitivas após serem privatizadas. Exemplos: Embraer, Vale do Rio Doce e Usiminas.

    Um dos benefícios da privatização foi a eliminação de vários cargos cuja nomeação era feita puramente por critérios políticos.

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  7. Embraer já foi pública? Não sabia :)

    Mas imaginando que o estado era o gestor X, uma das possibilidades seria privatizarmos a governação?

    Até poderia funcionar. Se os "governantes" privados falhassem com o que prometiam, tinham de pagar indemnizações :)

    O ponto que quero chegar é, sendo X um governo e não um ministério, como/onde escolhíamos Y.

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  8. Privatizar a governação é o que é feito quando privatizamos empresas públicas, mas acabamos sempre por esbarrar nos sectores ditos "críticos". A saúde é o típico exemplo: todos sabemos o trinta-e-um que é quando alguém fala em privatizar os serviços de saúde.

    Confesso que o post do Rui me faz alguma confusão. Ele assume a existência de vários gestores. Das duas uma: ou ele se refere ao Governo, e aí o povo tem opção de escolha todos os 4 anos (nem que seja voto em branco); ou se refere ao Estado, e aí não há o conceito de "gestores alternativos", pois o Estado é esta estrutura monolítica e inamovível (à qual, por alguma razão que me escapa, não podemos ser indiferentes).

    A terceira hipótese, e que me deixou na dúvida, é que ele se refere a algum caso específico de continuada má gestão. Mas pelos vistos ele queria ser mais genérico que isso.

    Que dizem vocês?

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  9. Diogo, privatizar a governação é mais ou menos o que o Pedro diz no comentário deles. Os tais pontos críticos existem mesmo. Por exemplo, por pior que vá a saúde pública, a resistência a privatizar esta área (ou parte dela) é enorme.

    Vou analisar o caso brasileiro. Por vários momentos aceitou-se aumentar a verba disponível da saúde para o Estado tentar tornar-se mais eficiente.

    Tivemos a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras), que era uma taxa de 0,38% que incidia sobre todas as transacções bancárias que fazíamos. Teoricamente este dinheiro iria para a saúde, mas na prática continuou tudo igual como antes. Alguns iluminados ainda queriam tornar a contribuição permanente, mas, felizmente [quase por milagre :-)], conseguiu-se derrubar esta proposta no senado. Ainda hoje há sempre alguém que tenta recriar esta "contribuição".

    Outro exemplo de ponto crítico é a Educação. Nunca o governo brasileiro investiu tanto em educação. Todavia, os índices de qualidade baixaram em relação a década passada.

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  10. Pedro, podes também ver este problema como um dilema entre liberalismo ou maior dimensão do estado, por exemplo. Dá para o que cada um quiser :-)

    Quando a privatizar a governação, os pontos críticos são de facto... críticos :-) Há três pilares fundamentais: educação, saúde e justiça/segurança. E é nesses que para mim o Estado justifica a sua existência.

    Já me chamaram minarquista por causa disto, e talvez seja isso mesmo em que acredite.

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  11. O único ponto que eu classifico como realmente crítico e que deve ser unicamente gerido pelo Estado é a justiça/segurança.

    A saúde e a educação caso estejam sendo muito mal geridas poderiam ser transferidas a iniciativa privada, sendo o papel do Estado restrito a regulação destes serviços.

    Como eu escrevi no meu último comentário, Saúde e Educação são duas áreas onde a 'hipótese A' ainda é muito bem vista por grande parte da população mesmo não tendo produzido bons resultados nos últimos anos. O problema não é falta de dinheiro, é a falta de políticas inteligentes.

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  12. Concordo com o Rui que os pontos críticos são esses 3. A saúde é uma daquelas actividades que se aplica a economia de escala. Quando se introduz fraccionamentos, o risco é espalhado por menos pessoas, o que faz subir os custos individuais. Para além disso, um sistema de saúde motivado por factores económicos introduz gastos excessivos, como nos EUA.
    A educação tem o problema da universalidade. Ao garantir educação a todos, não é possível excluir os piores. Qualquer sistema de educação que possa excluir alunos ou que estes sejam indirectamente excluídos pelo poder económico, vai produzir melhores indicadores de aproveitamento. Mas neste caso, a universalidade vai pela janela fora.

    É importante ter em conta que nem sempre as privatizações levam a redução de custos. Um caso muito recente nos EUA, a USAF vai deixar de fazer o outsourcing da manutenção dos C-17 e vários aviões de combate, uma vez que o custo desta mão de obra altamente especializada é inferior ao serem directamente contratados pela USAF.

    A premissa que privatizar reduz os custos só é válida para um estado altamente protector dos funcionários públicos. Claramente, este já não é o caso, sendo o estado o primeiro a dar o mau exemplo da precaridade laboral e, em muitos sectores, com salários a baixo dos oferecidos pelos privados.

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  13. Tiago,
    eu vejo vantagens e desvantagens numa "hiper-privatização". Se privatizarmos tudo há sempre a necessidade de salvaguardar alguns interesses, o que acaba por obrigar a subsídios e consequente deturpação do mercado.

    Mas admitindo que as vantagens superam as desvantagens na maior parte dos casos, eu vou concordar com o Rui em que Saúde e Educação são sectores críticos. O exemplo de que falaste é a típica solução de atirar mais dinheiro para o problema na esperança que as coisas melhorem. Já sabemos que nem sempre funciona, mas esse é um erro de gestão. Não é um problema exclusivo da administração pública: também é susceptível de acontecer no privado. Como tal, para mim não implica que Saúde e Educação devam ser privatizados.

    Se Saúde e Educação fossem privatizados, mais do que em qualquer outro sector o mercado seria gravemente deturpado. Pegando no exemplo do Fausto, crianças cujos pais não pudessem pagar a formação dos filhos seriam impossibilitados de ir à escola. O Estado pode regular? Claro, mas a regulação vai ser tal dimensão que as regras da economia de mercado nunca vão realmente funcionar nesse sector.

    Ou há volta a dar a isto?...

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  14. Discussão interessante. Em relação à hipótese B do Fausto, penso que o problema reside no axioma da escolha :P

    Mas eu alinho mais com a opção B inicial do Rui. Uma distribuição de capital que minimiza o risco. É isso que é fundamental.

    Em relação aos três pilares do estado gostaria que considerassem 1 muito importante: Apoio Social.

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