sexta-feira, 28 de maio de 2010

Inquisição

Se antigamente havia caça ás bruxas, hoje há caça aos homossexuais. É estranho afirma-se uma nova inquisição, mas parece-me que o Cardeal de Lisboa assim o quer ou, talvez, os conservadores não querem ver o País retirado da ignorância, da decadência, da mísera cultural, entre outros. E o passo tomado, que para muitos forçado, do Presidente da República só vem demonstrar que o País encontra-se numa mudança cultural e social, que só beneficiamos contra uma sociedade que pretende ser futurista, mas completamente influenciada por ideias arcaicas.

No jornal i, que leio online, li esta notícia: http://www.ionline.pt/conteudo/61991-conservadores-chocados-com-cavaco-reeleicao-em-risco. Fiquei, diremos, chocada com as reacções não só das pessoas relatadas na notícia, mas também pelos comentários publicados na página, ao ponto de uma santa criatura merecer um comentário meu. O que me supreende nos comentários é a escassez de valores e de igualdade que muitos tentam passar como seguidores da igreja, sendo esta igreja ano após ano repleta de escândalos.
E o que me revolta é ver que este é o Portugal que temos. Um Portugal sem educação, sem moral, com pseudo valores cristão e sem cultura. Enoja-me ler comentários como “não consigo viver na mesma comunidade de 2 homossexuais” ou “aberrações”, sem esquecer que quem acusa torna-se no acusado, ou seja, passa a ser este a aberração, e ver uma igreja que se esquece que vivemos num Estado Laico, onde existe separação entre o Estado e a Religião, embora alguém se esqueceu de dizer isso ao Cardeal e ao padre jesuíta, de influência católicas, passo-o a citar: “Senti um arrepio, quase vómito, quando acabei de ouvir o Prof. Cavaco Silva. Que vergonha, senti. Por ele, claro. E pelo país. Assim ficou para a história como o padrinho (the best man) dos homossexuais, por incoerência da sua decisão…”. A história ensina sempre muito a quem quer e penso que se esqueceram da antiga Grécia, onde a maioria dos atenienses era bissexual e são os pais da sociedade e da cultura.

Sobre Cavaco Silva pouco se pode dizer, esteve mal na promulgação da lei, não porque não seja correcto o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, mas porque deu a parecer que tinha sido forçado a assinar algo que não queria. Sempre vi o Cavaco Silva como um Presidente um pouco apático e com discursos filosóficos, perdendo a sua força ao longo destes anos com o apoio dado a algumas das “obras” do governo.
Incentiva o pensamento de que o cargo de Presidente da República é somente um cargo simbólico e com poderes limitados, embora importantes. A questão devia ser colocada na revisão da constituição para alterar alguns estatutos que reduzes o seu campo de actuação, por exemplo o veto, pois só pode vetar uma vez uma lei e o novo estatuto dos açores. Por isso penso que o Sr. Presidente ainda tem oportunidade para ganhar, pois não encontro, neste momento, candidato tanto à esquerda como à direita com capacidade para ocupar este cargo.

Por fim, o mundo desenvolve-se, adapta-se e morre como todos os seres humanos, ou seja, o mundo é um ser humano. Fere o sentimento comum pela não existência, ou pseudo existência, de medidas anti-discriminação quando existe discriminação em páginas de internet, nas páginas sociais, em casa, nas ruas, na vida, sendo facilmente aplicadas através de uma pequeníssima actuação da justiça. E vê-se políticos na televisão a combater euforicamente a discriminação, embora sem aceitarem essas ideias que defendem. Mais uma herança da continuação da sociedade arcaica de Salazar, afinal ainda não morreu.

6 comentários:

  1. A posição da Igreja católica (enquanto organização) não me surpreende, pelo contrário. Eu olho para a história dos últimos 20 séculos e não vejo qualquer avanço civilizacional em que a Igreja tenha estado na linha da frente, antes pelo contrário. A Igreja nunca esteve contra a escravatura; nunca lutou pela difusão livre do conhecimento e da cultura; nunca lutou pela igualdade dos sexos (e ainda hoje não luta); nunca lutou pela igualdade de oportunidades e de direitos entre todos; nunca lutou por processos democráticos; no fundo, nunca aplicou os ensinamentos de Cristo, os quais foram mais bem defendidos pelos princípios humanistas da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade. Pelo contrário, a Igreja sempre lutou pelo obscurantismo (Index); pela perseguição dos dissidentes (Inquisição, noite de S. Bartolomeu e o massacre dos Huguenotes); pelo apoio, mesmo em pleno Séc. XX, às mais variadas ditaduras (Pio XII e Mussolini, Cerejeira e Salazar, Igreja Espanhola e Franco); pela proximidade do poder pelo poder material e temporal; e por aí fora. Por tanto, era-lhe difícil apoiar mais este passo no sentido da igualdade dos cidadãos, porque essa igualdade não está, nem nunca esteve, nas suas prioridades.

    Quanto a Cavaco Silva, que se pode dizer? Eu diria que não destoou do seu timbre: só sabe falar de economia e finanças. Tudo o mais, é uma vazio. Se escutarem novamente o seu discurso, ele fez questão de dizer que Portugal alinhou com mais 8 países (que não referiu), em detrimento de alinhar com outros, como a França ou a Alemanha. Ele pode ter os seus ídolos e os seus gurus nesta matéria, mas quando vejo que Portugal alinhou com países como a Holanda (o pioneiro), o Canadá, a Espanha, a Bélgica, a Suécia, a Noruega e a África do Sul, eu fico feliz com o passo dado.

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  2. Sem fazer qualquer juízo de valor (ou procurando abster-me), atiro esta pedra no charco, porque me parece interessante esclarecer um ponto.

    - o que a Igreja afirma são sobretudo orientações para os seus fiéis; que importa aos não fiéis o que a Igreja diz para os seus fiéis?

    - a Igreja não condena a pessoa homossexual, mas afirma o valor da família (que em nada condena a pessoa homossexual, ele própria membro de uma família... ou não), e afirma o valor do casamento como laço de edificação da própria família (o que em nada tira dignidade à pessoa homossexual)

    - obviamente, que quando fazemos comentários sobre os acontecimentos da vida pública, o fazemos de acordo com a nossa matriz socio-cultural e moral interna e pessoal. Ora, quando alguém da Igreja (que não se confina ao edifício, aos padres e à hierarquia, ao contrário do que erradamente se pretende fazer querer) tece comentários sobre os acontecimentos da vida pública e política, fá-los à luz deste quadro. Parece-me legítimo que qualquer cidadão possa expressar a sua opinião, assim como é legitimo que membros de associações e instituições, em nome destas ou em nome pessoal, por exemple ILGA e Igreja, expressem opiniões.
    À razão disto, reconheço legitimidade à Igreja e seus membros para tecerem comentários sobre a vida nacional e manifestarem publicamente a sua opinião. Obviamente que isto é uma forma de intervenção social, que todos, como cidadãos, temos direito e, mesmo, dever cívico.

    - Não obstante, as orientações dadas pela hierarquia da Igreja, aquelas que são vinculativas, são-no exclusivamente para os seus membros. E por isso confunde-me que sistematicmante não membros fiquem com tanta revolta por normativas eclesiais que só se aplicam a membros. Ora, se eu sou advogado, e tomo atitudes que são contra o código deontológico de... é natural que a ordem, no mínimo, instaure um processo disciplinar. Felizmente que, finalmente, e pelo menos aparentemente, a Igreja (hierarquia) decidiu tomar medidas disciplinares claras com alguns dos seus membros (recorde-se os casos de pedofilia no seio da comunidade de sacerdotes... já para não falar que a maioria das situações de pedofilia acontecem dentro da própria família... e claramente se trata de uma doença, consignada - ou não? - nos manuais de diagnóstico em psiquiatria).

    - O casamento civil em si mesmo, é um contrato social (corrijam-me, se for caso), celebrado entre 2 cidadãos. O casamento católico é uma cerimónia religiosa, para católicos, membros de uma mesma instituição. De acordo com o código moral cristão, a família deve ser constítuida e edificada no contexto deste sacramento, que mais não é do que 2 pessoas que se consagram totalmente a Deus através do amor que se têm. Ora, para 2 católicos isto faz sentido. Para quem é ateu, que sentido faz estarmos aqui a falar de Deus e de cerimónia religiosa.

    Então, porque há-de causar comichão a não membros, que as regras para membros sejam estas? As regras aplicam-se a membros, e só membros podem usufrir dos benefícios de pertencer-lhe.

    Por outro lado, para católicos, a família constituída a partir da união indissolúvel que se estabelece e se consagra a partir do sacramento cristão "casamento", está reservado a um homem e uma mulher. Ora... isto são as "regras" para os membros. Porque aquece tanto os não membros, que as reggras para os membros sejam estas? Que me importa a mim que os escuteiros tenham que andar fardados nas cerimónias. Se eu não sou escuteira, isto não me afecta. Ou afecta?
    Já dizia um velho amigo: quem está fora, racha lenha.

    Hum... poderá questionar, sim, aqueles que sendo membros, gostariam que a coisa fosse diferente. A esses cabe actuar na sede própria, que não é, seguramente, na praça pública. Pelo menos, não é só na praça pública: há que chegar aos locais.

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  3. Sem fazer qualquer juízo de valor (ou procurando abster-me), atiro esta pedra no charco, porque me parece interessante esclarecer um ponto.

    - o que a Igreja afirma são sobretudo orientações para os seus fiéis; que importa aos não fiéis o que a Igreja diz para os seus fiéis?

    - a Igreja não condena a pessoa homossexual, mas afirma o valor da família (que em nada condena a pessoa homossexual, ele própria membro de uma família... ou não), e afirma o valor do casamento como laço de edificação da própria família (o que em nada tira dignidade à pessoa homossexual)

    - obviamente, que quando fazemos comentários sobre os acontecimentos da vida pública, o fazemos de acordo com a nossa matriz socio-cultural e moral interna e pessoal. Ora, quando alguém da Igreja (que não se confina ao edifício, aos padres e à hierarquia, ao contrário do que erradamente se pretende fazer querer) tece comentários sobre os acontecimentos da vida pública e política, fá-los à luz deste quadro. Parece-me legítimo que qualquer cidadão possa expressar a sua opinião, assim como é legitimo que membros de associações e instituições, em nome destas ou em nome pessoal, por exemple ILGA e Igreja, expressem opiniões.
    À razão disto, reconheço legitimidade à Igreja e seus membros para tecerem comentários sobre a vida nacional e manifestarem publicamente a sua opinião. Obviamente que isto é uma forma de intervenção social, que todos, como cidadãos, temos direito e, mesmo, dever cívico.

    - Não obstante, as orientações dadas pela hierarquia da Igreja, aquelas que são vinculativas, são-no exclusivamente para os seus membros. E por isso confunde-me que sistematicmante não membros fiquem com tanta revolta por normativas eclesiais que só se aplicam a membros. Ora, se eu sou advogado, e tomo atitudes que são contra o código deontológico de... é natural que a ordem, no mínimo, instaure um processo disciplinar. Felizmente que, finalmente, e pelo menos aparentemente, a Igreja (hierarquia) decidiu tomar medidas disciplinares claras com alguns dos seus membros (recorde-se os casos de pedofilia no seio da comunidade de sacerdotes... já para não falar que a maioria das situações de pedofilia acontecem dentro da própria família... e claramente se trata de uma doença, consignada - ou não? - nos manuais de diagnóstico em psiquiatria).

    - O casamento civil em si mesmo, é um contrato social (corrijam-me, se for caso), celebrado entre 2 cidadãos. O casamento católico é uma cerimónia religiosa, para católicos, membros de uma mesma instituição. De acordo com o código moral cristão, a família deve ser constítuida e edificada no contexto deste sacramento, que mais não é do que 2 pessoas que se consagram totalmente a Deus através do amor que se têm. Ora, para 2 católicos isto faz sentido. Para quem é ateu, que sentido faz estarmos aqui a falar de Deus e de cerimónia religiosa.

    Então, porque há-de causar comichão a não membros, que as regras para membros sejam estas? As regras aplicam-se a membros, e só membros podem usufrir dos benefícios de pertencer-lhe.

    Por outro lado, para católicos, a família constituída a partir da união indissolúvel que se estabelece e se consagra a partir do sacramento cristão "casamento", está reservado a um homem e uma mulher. Ora... isto são as "regras" para os membros. Porque aquece tanto os não membros, que as reggras para os membros sejam estas? Que me importa a mim que os escuteiros tenham que andar fardados nas cerimónias. Se eu não sou escuteira, isto não me afecta. Ou afecta?
    Já dizia um velho amigo: quem está fora, racha lenha.

    Hum... poderá questionar, sim, aqueles que sendo membros, gostariam que a coisa fosse diferente. A esses cabe actuar na sede própria, que não é, seguramente, na praça pública. Pelo menos, não é só na praça pública: há que chegar aos locais.

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  4. Gostaria só de acrescentar: A Igreja não condena a pessoa!
    A igreja não condena a pessoa homossexual, mas obviamente pede aos seus membros coerência com o seu código de conduta (o que não exclui que os seus membros falhem ao cumprimento 500mil vezes - eu tb não cumpro sempre o código da estrada... e já me têm fechado os olhos a um estacionamento ou outro num local indevido - a quem isto não aconteceu?)

    A Igreja não condena a pessoa homossexual. Pede aos fiéis homossexuais que sejam coerentes; mantendo-se, se é seu desejo, no seu seio, mas vivendo com coerência cristã.

    Hum, claro que apenas uma minoria mto reduzida poderá concordar com este comentário. Indenpendentemente dele, posso eu concordar mais ou menos com as próprias orientações emanadas da hierarquia.

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  5. Outro comentário, é que os ensimentos de Cristo não podem ser confundidos com instituições, e não podem ser confundidos com a liberdade, igualdade e fraternidade. Vão e estão muito para além deles, e estão além de um código moral/ético de comportamento.

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  6. Caro Anônimo,

    Tomei o meu tempo para ler a sua tentativa de racionalização dos actos da igreja. A igreja católica não aceita nem virá num futuro próximo a aceitar o casamento homossexual, pois se o fizer irá contra os principios da religião, ou seja, a preservação do homem, ou melhor dizendo, a história de adão e eva.

    Simplesmente o que defendo neste texto e pelo que li do seu comentário a sua ideia é de defesa da igreja, o que não condeno pois a igreja é uma instituição que tem que se defende, mas o meu post não é um ataque a igreja, veja é apenas constatar um facto, uma realidade. E a igreja somente agora veio a punir dentro do seu próprio seio os pedofilos, no entanto são crimes civis, estão deliniados no código civil e não os vejo a ser acusados de pedofilia.

    E para esclarecer um ponto: a igreja, claro, não critica uma pessoa, critica uma percetagem alta neste momento na sociedade e isto não é um vírus, não é uma doença. Isto é uma realidade que deve de ser aceita e a igreja deverá tomar a sua posição (nada contra), mas sem influenciar o pensamento das pessoas, pois meu caro, ainda vivemos no tempo do salazar.

    Por último, gostaria de acrescentar que este post não é um debate religioso, se o quiser o ter de facto terei muito prazer em fazer-lo, mas é uma constatação da realidade cruel em que o Portugal vive. E para mais, a sociedade portuguesa é católica, mas a igreja não tem que tentar, através de artimanhas, voltar ao seu estatuto na sociedade. Isso são velhas lenga lengas, já ninguém vai nisso.

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