Aqui vai (salvo erro) o meu primeiro post sobre ciência! Que vergonha...
Deixo-vos com a transcrição integral do discurso de Maria do Carmo Fonseca na entrega do Prémio Pessoa 2010, o qual subscrevo por completo. Negritos meus.
Deixo-vos com a transcrição integral do discurso de Maria do Carmo Fonseca na entrega do Prémio Pessoa 2010, o qual subscrevo por completo. Negritos meus.
"Em nome de uma comunidade que tomou a arriscada opção de fazer ciência em Portugal, desejo expressar o meu sincero agradecimento a todos os membros do júri do Prémio Pessoa. No turbilhão de emoções desencadeado pelo anúncio do Prémio, o que sem dúvida mais me sensibilizou foi a seguinte frase de Francisco Pinto Balsemão: “O júri quis sublinhar a importância da ciência no desenvolvimento do país e a sua confiança no futuro da investigação básica em Portugal”. Hoje, gostaria de partilhar convosco a minha visão sobre duas questões que provavelmente muitos Portugueses colocaram ao ler esta frase. Primeiro, como pode a ciência feita em Portugal ser um motor de desenvolvimento do país? Segundo, vale a pena investir em ciência básica em Portugal?
Para responder à primeira questão, começo por fazer uma outra pergunta: o que precisa o país para se desenvolver social e economicamente? Mais exportações? Mais turismo? Mais indústria? Provavelmente tudo isso, mas para resolver os problemas de Portugal os Portugueses precisam mudar de atitude. E a primeira mudança a fazer é quebrar com as tradições e enfrentar a própria mudança com a curiosidade do cientista. Mudar as rotinas significa apagar as luzes e não ficar parado, paralisado pelo medo de dar um passo em falso e cair num precipício. Significa pensar, conceber estratégias para prever um percurso que conduza até à porta ou janela, e testar cada movimento de forma a evitar acidentes. Enfrentar com racionalidade o desconhecido inerente à mudança, é o que a ciência pode ensinar aos Portugueses. Vamos modificar geneticamente o fado português! Para isso, precisamos massificar a formação científica em Portugal. Não para que todos sejam cientistas, mas para que quase todos sejam contaminados, nas suas mais diversas profissões, pela curiosidade e a ambição de ver o que nunca foi visto e fazer o que nunca foi feito.
Relativamente à segunda questão, deve ou não Portugal investir em ciência básica, quero começar por referir a diferença entre ciência básica e ciência aplicada. Um cientista básico, como eu, investiga como funciona a Vida ou o Universo. No meu caso, eu procuro desvendar o modo como as instruções codificadas em moléculas de ADN no genoma humano são transmitidas e executadas pelas células. Os conhecimentos básicos acumulados nesta área deram recentemente origem a uma série de projectos aplicados que visam, por exemplo, obter tratamentos para duas doenças genéticas que causam a morte de muitas crianças e jovens, a distrofia muscular de Duchenne e a atrofia muscular espinal. Um aspecto importante a reter: o investimento em ciência básica ou aplicada é o mesmo. Usam-se os mesmos laboratórios, os mesmos produtos e os mesmos equipamentos. Até a formação das pessoas é a mesma. Os cientistas básicos geram constantemente novos conceitos, metodologias e ideias que são depois usados para desenvolver projectos aplicados. Sem uma alimentação constante por parte da ciência básica, o “pipeline” da inovação em ciência aplicada está condenado a extinguir-se ao fim de algum tempo. Por outro lado, é a ciência aplicada que atrai preferencialmente o interesse dos investidores. Como melhor rentabilizar o financiamento de ciência? A solução parece óbvia: integrar, no mesmo centro de investigação, cientistas dedicados a projectos básicos e aplicados.
Concluindo, a ciência desempenha um papel fundamental para o desenvolvimento do país, e a ciência básica é inseparável da ciência aplicada. A ciência tem um enorme potencial para atrair investimento internacional, mas, para ter sucesso, a ciência portuguesa terá de ser competitiva a nível mundial. E para serem competitivos, os cientistas portugueses precisam ter acesso a infra-estruturas tecnológicas em constante modernização. Como em todas as áreas da economia, a competitividade nacional exige opções estratégicas sobre investimentos prioritários. Em 2011, os centros de investigação não estão a receber financiamento do Estado. Alguns dos nossos melhores investigadores já aceitaram posições de liderança científica noutros países e vão abandonar Portugal. Urge que o país discuta e pondere que futuro quer dar à sua ciência.
Maria do Carmo Fonseca
18-Abril-2011"
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