"O país de Eça" é a descrição de Eça de Queirós, nos seus livros, do País em que viveu. As semelhanças entre o País do Sec. XIX enquadra-se no quotidiano dos nossos dias. E olhando, no fundo, Portugal não se modificou assim tanto. Aparte da modernização causada pela globalização e o desenvolvimento tecnológico, a sociedade continua mergulha em dogmas, doutrinas e numa mentalidade muito aquém do mundo.
Celebrou-se ontem o 25 de Abril, a viragem de uma nova era. Recordar Abril é relembrar o apogeu da música popular portuguesa no seu papel de dar a voz num tempo sem liberdades, é rever a emoção do povo como pais de um recém-nascido. Recordar é viver, mas também é aprender. A revolução dos cravos triunfou! Conseguimos restabelecer a democracia e reencontramos o caminho para uma nova realidade. Então questiono-vos: Passados 36 anos, terá mesmo a revolução triunfado? Não querendo questionar sobre a viragem para a democracia, mas sim a viragem da mentalidade do povo.
O que faltou, na minha opinião, à revolução foi um pequeno factor que ainda nos pena. Vivemos 48 anos numa ditadura militar, onde a população era oprimida, comandada, sem consciência nos seus actos como uma criança cujos pais têm a sua responsabilidade. Salazar torna-se para o País como esse pai, tomando conta e comandando sobre opressão. Essa opressão ainda é visível no rosto da sociedade portuguesa, o receio dos políticos, de um controlo que não existe em liberdade e é nessa consciência que o movimento falhou, a consciência democrática ou o sentido crítico. Não se molda um País em um par de dias, nem se faz uma nação em 2 anos. Ao povo não se soube ensinar o que significa voto, poder popular, república, democracia, nem se soube criar condições de punição de maneira a controlar a corrupção. Explicar-lo, em texto, torna o argumento fraco, mas é só olhar para os nossos políticos que num dia de celebração de um marco, discursam em tom eleitoral em vez de respeitarem os partidos na Assembleia da República.
A história é clara e irrefutável. Camões retratou, através do "Velho do Restelo", a euforia do povo em busca de riqueza; Gil Vicente, pai do teatro português, representou a falsidade das promesas dos governantes e a mentalidade; Eça de Queirós contou-nos, em histórias, as tentativas de imitação falhadas da sociedade; Ary dos Santos cantou, em prosa, as angústias do povo na procura da liberdade.
Na nossa história há sempre um factor em comum: corrupção, e não basta punir nem banir, mas sim ensinar a mudar. E por sermos humanos e fracos erramos quando falamos que os ideais de Abril concretizaram-se. Afinal ainda estamos bastante longe dessa "utopia".
Na canção "O País de Eça" de Ary dos Santos (http://www.youtube.com/watch?v=9uPIX6-6I1o) no final canta-nos assim:
"Há cem anos que eu canto esta canção/sem cabeça porém no coração/porque um país do Eça de Queirós/ainda é o país de todos nós"
Relembrar Abril é recorda, é viver, é sonhar. Este é o País do Eça, do Fernando Pessoa, do Ary, do Camões. Este é o nosso País.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
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Infelizmente, estou completamente de acordo contigo Ana. Demos um salto enorme com o 25 de Abril: ganhamos a liberdade. O grande problema é que não sabemos (ainda hoje!) viver com essa liberdade. Ou melhor, ainda não sabemos como potenciar essa liberdade.
ResponderExcluirO nosso maior problema reside na falta de qualidade nos nossos critérios de exigência. Viver tantos anos sem poder exigir fez com que a nossa sociedade não saiba hoje quais os critérios de excelência que devem ser adoptados.
Por isso, continuamos a ver a verborreia prevalecer. Por isso, vamos o "amiguismo" e a cunha prevalecerem, por exemplo. Por isso, continuamos a ser "enganados" pelos governantes. Na verdade, eles não nos enganam: nós é que nos enganamos a nós mesmos.
A questão que te queria deixar é a seguinte: podemos dizer que essa cultura de excelência está a surgir cada vez mais forte em Portugal, ou teremos de bater verdadeiramente no fundo para poder reestruturar tudo de novo?
Rui, as sociedades desenvolvem-se e isso está a acontecer. E a esperança é essa, que o habito de sermos cuidados por outros acabe. E as novas gerações têm mais visão do mundo por serem mais cultos e educados.
ResponderExcluirA questão que coloco é: se batermos no fundo quem nos ajudará? Porque não estou a ver a Europa a estendermos a mão e isso vai se tornar um problema. Já não basta hoje o PSI geral ter perdido 7%, fora os outros 3% ou mais de ontem... Isto está um caos e lá vem o Teixeira dos Santos que diz: eh pah peço desculpa mas temos que agir com o PSD e tal e coiso, quando a lei da tributação é ilegal, segundo o Tribunal Constitucional.