quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Sobre a alteração dos feriados

Há quem pense que ao retirar feriados (ou ao movê-los para um fim-de-semana próximo) consegue ganhos de produtividade interessantes porque elimina o uso das “pontes”. Vamos partir do princípio que sim. E já que estamos numa maré de mudanças estruturais, que tal enfrentar o feriado que mais pontes gera e que para virtualmente o país porque para Lisboa: o 10 de Junho.

O 10 de Junho é uma data estranha, desde 1933 que já foi de tudo -- dia de Camões (que morreu nesse dia), dia de Portugal (porque assim o decidiu Salazar), dia da Raça (idem), dia das Comunidades Portuguesas . Chegou mesmo a ser feriado de Lisboa, após 1910.

Proponho que se esqueça o 10 de Junho e se comemore o Dia de Portugal no 5 de Outubro. Com efeito, foi nessa data que Portugal foi oficialmente reconhecido como tal (dia da assinatura do Tratado de Zamora, em 1143) e foi o dia em que foi instituída a República (em 1910). É um duplo acontecimento com grande significado: formação do Estado e instituição da República, o nosso regime atual (e, espero, futuro).

Cortes estruturais

Na conferência de imprensa de hoje o ministro das finanças anunciou que em 2012 não existirão medidas extraordinárias de correção do deficit. Deduz-se, portanto, que as medidas de eliminação dos chamados subsídios de férias e Natal, ou 13º e 14º meses, não são meras intervenções conjunturais, mas estruturais. Ou seja, é para sempre.

Isto, no entanto, já só é uma novidade para os mais distraídos, porque o ministro Miguel Relvas já tinha deixado claro que os povos desenvolvidos, do norte da Europa, ganham 12 ordenados por ano, enquanto que os incumpridores do sul ganham (ou ganhavam) mais de 12 salários. Nesse seu discurso ele deixou a mensagem subliminar de que a era dos 14 salários tinha de acabar (ou acabado) para bem do progresso do país. É preciso ser muito pobre de espírito para fazer raciocínios deste tipo. Pessoalmente, até prefiro 12 salários, mas essa não é a questão: o que interessa, como é óbvio, é o que se ganha ao longo do ano e não em quantas fatias (tranches, gostam eles de dizer…), esse montante é libertado.

O que é verdadeiramente fenomenal é o truque: corta-se os 2 meses com o argumento de redução de 15% dos salários, depois argumenta-se que o que é bom é 12 salários e depois, como é evidente, não se repõe os salários brutos anuais no valor que tinham antes do corte de 15%.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Trambiquices "made by" Troika & friends

Numa resposta minha a uma mensagem anterior comentei que o perdão de 50% da dívida à Grécia era o pior que lhe podiam fazer. E não deixa de ser curioso que “os mercados” se alegrassem todos com essa notícia, o que indiciava que deveria haver um conjunto de contrapartidas interessantes para os que, aparentemente, ficavam sem metade do que tinham emprestado. E eis que a Grécia, a pátria da democracia, resolve invocar os princípios democráticos mais elementares e vai referendar a “proposta generosa” da Troika. E como os Gregos não são parvos, e os analistas de mercado também não, é certinho que os Gregos vão votar contra e os “mercados” vão perder o que quer que seja de fantástico que estavam a antecipar nos escombros da Grécia (talvez umas ilhas…). Só isso justifica o enorme pânico que criou a notícia do referendo.

Não deixa de ser revoltante constatar que diversos líderes de países inequivocamente democráticos da Europa subitamente acham que, para os Gregos, a democracia é um problema e não deveria ser usada. Como disse Churchill, “Democracy is the worst form of government, except for all those other forms that have been tried from time to time.”. É perfeitamente legítimo que os Gregos escolham o caminho que querem trilhar. E se esse caminho for o do incumprimento, o da saída do Euro e o da saída da União Europeia, seja. Mas não lhes digam que não podem ouvir o povo e que tudo tem de ser imposto pelos credores, ou por terceiros que falam em nome dos credores.