Em 2004, foi lançado um livro com o título
The European Dream: How Europe's Vision of the Future Is Quietly Eclipsing the American Dream. O interessante é que este livro foi escrito por um autor americano, Jeremy Rifkin, que é um economista e foi consultor em várias presidencias da União Europeia.
A grande diferença entre os dois sonhos é que a versão americana, que é sobejamente conhecida, prima pelo
individualismo radical e pelos
direitos de propriedade. Isto é claramente reflectida na 2ª Emenda da constituição Americana e numa série de leis que têm origem no direito anglo-saxónico, em que a casa de cada homem é o seu castelo. Para além disso, vemos as questões dos direitos de autor e propriedade intelectual, que são muito mais protegidos e defendidos nos EUA que na Europa.
Por outro lado, o sonho europeu, que ainda é um
work-in-progress, defende os direitos da
comunidade, da
sustentabilidade e dos
direitos humanos. Esta visão pós-modernista de uma sociedade, que foi temperada por séculos de guerras e conflitos, é reflectida nas sociedades escandinavas, que tantas vezes são alvo de inveja por parte de países do sul da Europa.
O sonho americano é uma regra muito simples:
se te esforçares e tiveres força de vontade, continuarás a ser pobre e não esperes nenhuma ajuda do estado caso tenhas um azar. Infelizmente, as excepções à regra são usadas para descrever o sonho americano. Uma estatística optimista seria uma taxa de sucesso 1:1000.
O sonho europeu é mais difícil de descrever porque não é definida pela perspectiva do indivíduo. Penso que uma boa descrição será:
se todos os membros da comunidade tiverem boas condições de vida, acesso à educação e serviços de saúde de qualidade e garantias que protecção social em caso de um azar, então todos os membros da comunidade estarão melhor servidos. Claramente, implementar esta visão é extremamente difícil e penso que a chave é a mentalidade.
Em Portugal, o chico-esperto vive do (mísero) subsídio de desemprego enquanto vai fazendo uns biscates sem passar factura e queixa-se que
só queria que a Câmara Municipal lhe desse uma casa. No entanto, conseguiu arranjar um carro importado da Alemanha e deu a volta ao sistema para não ter que pagar tantos impostos. Esses mesmos impostos de que tanto se queixa mas pouco paga.
Claramente, um país de chico-espertos não pode viver o sonho europeu, quando o único sonho que têm é ter um carro acima das suas possibilidades para poder contar aos amigos que deu 247km/h na A1.
O Richard Dawkins cunhou o termo
meme para descrever uma unidade básica de ideias e conceitos que se espalham por uma sociedade, sofrendo as mesmas pressões evolutivas que o os genes. Tal como os genes, as estratégias evolutivamente estáveis (EEE) fixam-se numa população quanto nenhuma outra estratégia consegue invadir com sucesso essa população. No entanto, uma estratégia
individualista dominante raramente consegue se invadida por uma estratégia solidária, mesmo que esta fosse benéfica para a população em geral.
Basicamente, os países escandinavos foram invadidos com sucesso por uma série de estratégias solidárias que se tornaram EEE, e por tal, uma minoria da população que seja apresente estratégias individualistas não conseguirá obter maiores benefícios e rapidamente esse
meme será eliminado por selecção natural.
Por outro lado, Portugal tem como EEE a estratégia
chico-espertismo, que muito difícilmente pode ser invadida por estratégias solidárias para que estas se tornem EEE.
A pergunta fica... Como é que se pode acabar com o
chico-espertismo em Portugal?