terça-feira, 31 de março de 2009

A linha torta de Sintra

Pontos prévios à minha próxima "pedrada":
  • Não sou racista.
  • Não sou xenófobo (não gostar de gregos, franceses e alemães por motivos futebolísticos, não conta!)
Sábado, meia-noite e meia... Está noite cerrada! Estou em Lisboa, na estação de Sete Rios e tenho que fazer a viagem para Sintra de comboio. Vai cheio, com centenas de pessoas, o que me obriga a seguir a viagem em pé! Cinco jovens estão ao meu lado direito formando um semicírculo em frente da porta.
Vem o revisor, pedes-lhe o bilhete, mas os jovens olham-no de alto, sem abrir a boca. O revisor volta a perguntar, mas recebe de volta cinco caras de maus, com dentes cerrados. O revisor e todos os que estavam a assistir à cena entenderam claramente que nenhum deles tinha bilhete. O homem bem que queria dar a lição de moral àqueles jovens, mas rapidamente parou para não ser espancado.
O grupo (por coincidência ou talvez não, composto só por negros) lá continuou a sua viagem descansado. O revisor que estava somente a cumprir a sua profissão, agiu como se nada fosse, porque provavelmente já está muito habituado a este tipo de situações. As pessoas que assistiram continuaram a sua viagem rezando para que aquele grupo não provocasse problema nenhum.
Até ao final mais nada aconteceu, mas no dia seguinte dois grupos, ditos rivais, andaram às "naifadas" uns aos outros nesta mesma linha de comboio.
O presidente da comissão de utentes da linha de Sintra declarou logo que este tipo de situações ocorre imensas vezes e é sinónimo da muita insegurança que se vive nos comboios desta linha. Falou da polícia da CP que foi fundada em 1990 com 60 elementos para policiar os comboios, mas que hoje, no ano 2009, conta com 50!

Está evidente em quem colocar culpas pela falta de segurança nesta linha, mas eu acrescento que os jovens estão a agir assim constantemente. Juntam-se em gangs, entram nos comboios sem bilhete, fazem cara de maus e provocam estragos, fazem roubos, agridem as pessoas e ameaçam as autoridades. Não sei se são jovens estrangeiros, portugueses ou apenas com nacionalidade portuguesa, não sei são pobres, não possuíndo dinheiro para os bilhetes de comboio (embora vistam roupas de grandes marcas e, em alguns casos, eles ou os seus pais recebem subsídios de desemprego ou de transporte), mas sinto que vivem no nosso país de forma impune e demasiado livre, aprisionando todos os outros que pagam o seu bilhete, senão pagam a multa correspondente. Como assisti uma vez, um casal de velhotes ter comprado meio bilhete, mas não traziam consigo o bilhete de identidade para comprovar a sua idade. O revisor passou-lhes a multa quando a diferença entre os bilhetes era de apenas 50 cêntimos... Estes jovens cometem crimes de grande valor e não lhes acontece nada!

Não sei se nos seus países de origem também não pagam bilhete para andar num transporte público, mas aqui paga-se! Não sei se nos outros países há uma lei que permite espetar uma faca noutra pessoa, mas aqui isso é um crime! Não sei se nos outros países o que está guardado na carteira de alguém também é nosso, mas aqui há o conceito de propriedade e tirar algo da carteira de outrem é um roubo!
Toda a gente sabe que numa situação de crise aumenta a criminalidade e para a combater há que aumentar significativamente os meios e o pessoal de segurança! Enquanto cidadãos cumpridores temos o direito de o pedir, seja na linha de Sintra, ou em qualquer outra!

domingo, 29 de março de 2009

Regular para melhorar

Boa noite!

Que bom ter tanta coisa para ler e com sentido! Fiquei apenas dois dias sem ver o e-mail e fiquei com a caixa cheia de avisos a comentários e posts neste blog! É bom sinal... não pelo simples número de participações, mas pelo teor das mesmas! Queria escrever-vos a todos que concordo convosco e lançar mais algumas opiniões para fomentar mais alguma discussão e daí, quem sabe(?), ideias.
Pois começando pelos comentários da Nina e do Rui ao meu último post, tenho a dizer-vos que concordo convosco. Se por um lado a qualidade dos programas dos canais portugueses é cada vez mais degradante (isto para ser simpático...), por outro há que dar liberdade de imprensa aos meios de comunicação. E perguntam vocês: Mas como se pode elevar a qualidade da Comunicação Social sem abanar os fundamentos da liberdade de imprensa? Ou será que tal nem sequer é possível?
Esta é, sem dúvida, uma questão que devia ser sujeita a estudos, discutida em fóruns e artigos de opinião...
Como não gosto de atirar pedras para o ar e esperar para ver aonde caiem, aqui vai a minha modesta opinião: Não me parece que tal seja possível numa sociedade como a portuguesa actualmente. Isto porquê? Porque toda a comunicação social devia ser auto-regulada, isto é, cada jornalista devia ter em consciência se aquilo que está a fazer é informação ou é sensacionalismo puro! Aqui reside uma grande confusão! Um jornalista escreve um determinado artigo restringindo-se à informação, sem ponta de sensacionalismo, resultado? Se a informação for relevante vai para o canto da página, caso contrário, nem para o papel sai! O próprio jornal não vende se não der uma boa dose de sensacionalismo aos seus textos, porque, infelizmente, o povo quer sensacionalismo! O povo rejubila com as condenações nos jornais, com as prisões televisivas... Assim, o jornalista não-sensacionalista não sobreviverá e isso implica (por razões óbvias) que todos adquiram um pouco mais de sensacionalismo para além do desejável!
Posto isto, parece-me que a auto-regulação vai ao tecto! Soluções? Não regular a imprensa, censurá-la ou sem cair na censura, tentar regulá-la externamente? A terceira (também por razões óbvias) parece ser a melhor opção! É para isso que existe a ERC (Entidade Reguladora da Comunicação Social). E, partilhando da opinião do Rui no seu post intitulado Manuela Moura Guedes, deixem "os responsáveis da ERC (...) fazer o seu trabalho", por muito pouco que eles façam!
Relativamente a este organismo permitam-me dizer que ele sofre de um certo défice de eficácia e algumas vezes de imparcialidade. Se o primeiro me parece evidente, o segundo denota-se pela rapidez com que analisa determinados casos, enquanto que em outros deixa "a arrecadação estar a transbordar de reclamações" (Rui, não o diria melhor!).
Mas, acrescente-se que a ERC não é, de longe, a única culpada desta situação! NÓS também o somos!!! Não só porque não somos selectivos o suficiente no que concerne ao consumo televisivo, nem jornalístico, mas também porque não intervimos como devemos quando detectámos algo errado.
Para explicar este último ponto vou contar-vos a experiência que vivi numa escola: Um determinado aluno obrigou outro a rastejar, a denominá-lo seu servo, a autodenominar-se seu escravo, a comer terra e a beber restos de pacotes de sumo que já se encontravam no caixote de lixo. Tudo isto enquanto outro indivíduo gravava estas cenas com a câmara de um telemóvel, imagens essas que foram interceptadas pela directora de turma do aluno agressor (sim, nos termos da lei esta situação é encarada como uma agressão!) e, segundo o apurado, seriam para posteriormente colocar na internet. Toda a situação pareceu realmente muito estranha a todos os intervenientes no processo, por se tratar de um aluno com capacidades limitadas (basta referir que o aluno nem sabia o significado das palavras servo ou escravo) mas, como o mesmo referiu, ele só fez como viu na televisão! Na semana anterior anterior ao ocorrido, tinha sido exibida uma cena idêntica (não sei se tal e qual) na série "Morangos com Açúcar".
O aluno foi castigado com a pena máxima a aplicar mediante o Regulamento Interno da Escola e o Estatuto do Aluno, mas o que aconteceu aos verdadeiros culpados desta situação? O realizador, o produtor e o guionista da série por terem influenciado esta criança negativamente? Os donos da TVI e demais funcionários deste canal por terem exibido este episódio a horas impróprias e sem um pequeno aviso ou alerta para a não reprodução de cenas deste género? Os pais desta criança por não terem o cuidado de supervisionar aquilo que o seu filho vê na televisão? Eu, os meus colegas, o Director da Escola, os pais do aluno que foi vítima por termos resolvido a situação apenas a nível escolar e não termos apresentado queixa à ERC, à polícia, ao Ministério Público ou ao Provedor de Justiça? (já agora, muito obrigado Nina pelo esclarecimento... e sim, concordo com a tua opinião: todo este caso da escolha do Provedor de Justiça já cheira mal, é uma palhaçada e mostra a estupidez, mesquinhez e anormalidade dos políticos portugueses!)
A série lá continua (entretanto surgiu outra) a mostrar como supostamente funciona uma escola, mas esquecendo que ao retratar determinadas cenas está a aumentar exponencialmente as probabilidades de o mesmo voltar a ocorrer em outras escolas! Já era altura de haver uma discussão pública sobre este tipo de séries, chegar a conclusões e agir!
Bem, já me alonguei demasiado... mas queria deixar mais um alerta: Não façam como eu fiz naquela situação! Sempre que virem algo de errado na televisão ou na imprensa, comuniquem à ERC ou às autoridades competentes! Vamos atulhar as arrecadações destes organismos com queixas para ver se eles começam a fazer algo pela efectiva regulação da Comunicação Social! Pode parecer que não, mas podemos ajudar nesta regulação e assim a elevar a qualidade da mesma!

sexta-feira, 27 de março de 2009

Manuela Moura Guedes

Há pouco, li um artigo de opinião no qual se critica a recente posição da Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), anunciando que está a apreciar várias queixas sobre o "Jornal Nacional" da TVI, às 6ª feiras.

Eu tenho de admitir que não compreenderia outra atitude por parte da ERC. De facto, parece-me que começaram agora a analisar as tais queixas porque a arrecadação deve estar a transbordar de reclamações sobre este este suposto noticiário. Penso que não sejam propriamente as noticias em si (a TVI já há muito que se definiu como a porta-estandarte do sensacionalismo), mas antes a falta de isenção por parte de Manuela Moura Guedes (talvez algumas pela tendência monotonica do Vasco Pulido Valente; adiante). Esta dita "jornalista" parece-me não compreender um principio fundamental do jornalismo: a imparcialidade. Acho deveras irritante a sua constante "opinação" não-isenta e populista no inicio e no final (no meio não porque... bem, não dá) de cada notícia, já para não falar da forma completamente isenta... de profissionalismo com que interage com o Vasco Pulido Valente.

É fundamental que esta senhora (tenho muito dificuldade em utilizar o termo "jornalista" neste contexto) entenda que o seu papel não é o de comentador politico (será que anda atrás do lugar do Vasquinho?) mas antes de ponte isenta entre a informação e o telespectador.

Há quem diga que esta atitude por parte da ERC tem o seu toque de censura e que foi encomendada pelos nossos governantes. Eu cá acho que esta atitude mostra que, pelo menos neste caso, os responsáveis da ERC estão simplesmente a fazer o seu trabalho.

Civilização: uma ilusão?

In "A Vida num Sopro", de José Rodrigues dos Santos:

"Disfarçada pela máscara cintilante da civilização, que polia a realidade com o talento lustroso de um ilusionista, a vida dos homens não se afigurava em boa verdade muito diferente da dos animais, como se podia descobrir no rosto e na vida daquela mulher que vira no Rossio. Para ela não havia animatógrafo nem poesia, apenas a mão estendida para sobreviver a esse dia.

(...)

Cada desejo procura satisfação, cada obstáculo gera sofrimento. Mesma a satisfação de um desejo apenas suscita felicidade temporária; logo a seguir vem um novo desejo, de novo travado por mais um obstáculo, o que significa que a existência é sempre a luta, o sofrimento omnipresente, a felicidade efémera. (...) Olhem para Dante, que não teve qualquer dificuldade em imaginar o Inferno... Bastou-lhe ir buscar os elementos que já existiam no mundo e, pimba!, eis o Inferno! Mas, oh!, quando chegou a hora de conceber Céu, aí é que foi o cabo dos trabalhos! O grande poeta não teve artes para imaginar o Céu porque não havia neste mundo nada que o inspirasse para conceber o Paraíso! Nada! Meu Deus, não será isso a prova mais completa de que nós afinal vivemos no Inferno?"

Não partilho de uma visão tão negra (derrotista?) da humanidade, mas fez-me pensar...

Provedor de Justiça - O que é isso?

"O PSD está irredutível na recusa do nome de Jorge Miranda, proposto pelo PS, para o cargo de Provedor de Justiça" in JN, 26.03.2009
A propósito da novela em que se transformou a escolha do novo Provedor de Justiça ocorreu-me que provavelmente a maioria das pessoas não pode acompanhar devidamente a história, por não fazer a mínima ideia do que é isso do Provedor de Justiça. Como a comunicação social se limita a relatar as batalhas entre os partidos quanto à pessoa a nomear para esse cargo, sem explicar do que se trata, lembrei-me de fazer uma tentativa de esclarecimento. Assim:
Nascimento Rodrigues ainda é o actual Provedor de Justiça apesar de o seu mandato já ter terminado em Julho de 2008. Tudo porque ao longo destes 8 meses a Assembleia da República (AR) ainda não conseguiu chegar a um consenso quanto ao seu sucessor. Quando digo AR falo, claro está, dos partidos maioritários. Isto porque o Provedor de Justiça tem que ser designado pela AR por maioria de 2/3 dos Deputados (presentes, desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções). Isso implica que haja consenso entre os partidos o que, nestes 8 meses, ainda não se conseguiu. O mais grave é que tanto o PS como o PSD têm proposto nomes de personalidades muito interessantes e admiráveis mas nenhum dos partidos aceita que a pessoa a designar não tenha sido por si proposta!!! É um absurdo mas é apenas o espelho do que é a politica em Portugal: cada vez menos se pensa no que é melhor para o país e para os cidadãos e se colocam em 1º plano as guerras partidárias, as "politiquices". É lamentável. Para mim, e para a maioria dos portugueses, pouco importa qual foi o partido que propôs o nome da pessoa designada a votação, o que me interessa é que a pessoa que venha a ser escolhida ofereça garantias e possua competências para exercer bem o cargo! O que é importante é que haja acordo quanto às qualidades e capacidades da pessoa escolhida. O último nome apresentado - Prof. Jorge Miranda, um dos maiores constitucionalistas português - parece-me mesmo muito bem e tenho pena que vá por água abaixo apenas por politiquices, mas enfim. Estou para ver como vai terminar a novela.
Posto isto:
O Provedor de Justiça (PJ) é um órgão do Estado que tem como principal função «a defesa e a promoção dos direitos, liberdades, garantias e interesses legítimos dos cidadãos, assegurando, através de meios informais, a justiça e a legalidade do exercício dos poderes públicos» (Art. 1º do Estatuto do PJ)
Qualquer um de nós pode apresentar uma queixa ao Provedor de Justiça, de forma oral ou escrita, por acções ou omissões dos poderes públicos, sem ter que respeitar qualquer formalidade específica, pagar qualquer quatia, cumprir qualquer prazo. Não é preciso sequer ter um interesse directo e pessoal na queixa apresentada, ie, a acção ou omissão que reportamos não tem que nos afectar directamente. O PJ apreciará a queixa e apesar de não poder tomar uma decisão no sentido de ordenar ao órgão que reponha a legalidade (para isso existem os tribunais), dirigirá aos órgãos competentes as recomendações necessárias para prevenir ou reparar injustiças. O orgão visado se não acatar as recomendações tem que justificar porquê.
Podemos também alertar o PJ para a existência de uma norma que seja inconstitucional ou ilegal para que ele - se assim o entender - requeira ao Tribunal Constitucional a fiscalização da constitucionalidade da mesma.
O PJ é um órgão independente dos outros órgãos do Estado, integra também o Conselho de Estado, dá pareceres à AR...
(Para mais informações consultar o artº 23º da Constituição da República Portuguesa e a Lei 9/91 de 9 Abril 2004, alterada pela Lei 30/96 de 14 Agosto)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Democracia directa será a saída?

Muito interessante a lista de objecções à democracia parlamentar apresentada em "Porque devemos rejeitar de uma vez por todas a democracia parlamentar".

Interessante também a Declaração de Princípios do Movimento para a Democracia Directa.

Alguns destes pontos foram abordados na discussão que eu tive com o Beto.

Consequência do Simplex

Isaltino de Morais, à RTP:

“Qual é o presidente da câmara que não assina coisas todos os dias sem ler?”

Tudo em nome da eficiência.


Estado Social e a "chico-espertice"

In Blasfémias:

"... Um imposto negativo para baixos rendimentos tornaria o sistema mais transparente, permitiria aos pobres maior autonomia em relação aos profissionais da pobreza e não desincentivaria tanto o trabalho. Ou seja, o que se propõe é um sistema puro de impostos progressivos, que permita impostos negativos para os mais baixos rendimentos, sem qualquer outra benesse."

Penso que no desincentivo ao trabalho reside um ponto crucial quando se tenta analisar a "politica social" actualmente existente no nosso país. Como expoente máximo da não-eficácia desta politica social, temos o maravilhoso mundo do Rendimento Mínimo. Penso que o seu fundamento faz todo o sentido, se acreditarmos viver na utopia de uma sociedade equilibrada e justa. Se acreditarmos não viver num país onde reina a "chico-espertice".

Mais impressionante do que a utilização do Rendimento Mínimo como subsidio para quem se recusa a trabalhar porque... sim (penso que isso já seria de esperar; existem claro excepções), é a aparente aceitação desta realidade por parte do contribuinte comum. Não entendo. Eu não consigo esconder que emana em mim uma revolta quando vejo que as minhas contribuições para o Estado são utilizadas em parte para pagar uma tarde no café a uma senhora que não gosta de trabalho porque... cansa.

Mais um sinal da nossa sociedade: a não-existência de uma noção de Estado. Não entenderem que, tão grave como a actual predominância de pseudo-políticos no lugar de políticos, é todo aquele que usa a sua chico-espertice para viver às custas do Estado. Estado esse que é financiado pelos contribuintes.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Boa noite e boa sorte.

Boa noite porque já o é; boa sorte porque se começou a ler este texto (e ainda não é tarde para parar de o fazer) vai precisar dela. Sobretudo para resistir à imensa tentação do aborrecimento ou à facilidade da irritação face à discordância. Sou homem de poucas opiniões vincadas (e de muitas impressões gerais): por isso agarre o saleiro e o pimenteiro da cozinha e tempere, sempre que me ler, a gosto.

Permitam-me aludir ao título do blog: Costa Rochosa. A metáfora lusíada da praia lusitana permanece na nossa memória colectiva e todos a entendemos sem grande esforço. Mas a título sugere antes escarpas a ocidente, rocha que se compara ao velho que vê do Restelo a partida das naus para o novo mundo. Um novo mundo que talvez desejemos também para nós, Portugal.

Mas aqui chego eu, que estudo fora do país, que vivo numa ilha tantas vezes eleita no sonho do português comum como lugar de civilização. Olho portanto à distância o meu Portugal. E digo "meu" não sem ponta de saudosismo (há quem diga que connosco nasce) mas já sem o "fatalismo" de um recém-emigrado. Esta distância vê-o com outros olhos, mais benevolentes é certo e talvez distanciados da realidade quotidiana, mas com olhos portugueses ainda assim.

E uma vez chegado, observo que se sente aqui a mudança na sociedade. E uma mudança negativa. Sobre isto, tenho uma impressão geral: é ela a de que o mundo novo está a ser alcançado e não é aquilo que desejamos! Traduzo: usando (como possivelmente o farei com alguma frequência) a experiência em Inglaterra como exemplo, percebo que há crescente convergência de comportamentos sociais (será isto também parte do fenómeno da globalização?). Tenho agora de esclarecer como vêm os meus olhos a sociedade inglesa. Em duas palavras: genericamente mal. E por isso preocupa esta convergência que, por paradoxal que seja, tem sido desejada desde que Portugal percebeu-se não na cabeça (como geograficamente se orgulha) mas na cauda (como certos indices acusam) da Europa. Os valores mudam e parecem aproximar-se perigosamente daqueles que cá vigoram...

Por outro lado, olhando as gerações mais novas, tendemos a pensar que muito mudou. O que é facto. Mas também isso pensaram aqueles que nos olhavam antes. E também eles reprovavam certos factores de mudança. Ainda que tendo uma opinião sobre essas mesmas mudanças, sob que padrões sociais ou culturais podemos julgar comportamentos ou ideias novas de forma justa (sendo que o termo justiça precisaria neste contexto de definição adequada)? Não nos esqueçamos de que fomos etiquetados de "geração rasca" em tempos idos...

Tudo isto me lembra Pessoa na Mensagem: "Falta cumprir-se Portugal", mas acho que ninguém sabe muito bem que "Portugal" é que se quer cumprir.

Se chegou a este último parágrafo: parabéns. Felicito-o pelo esforço e agradeço a paciência. Termino com a sensação que pouco disse e que mais ficou por dizer. Mas deixo-o completar com especiarias várias, ao sabor do que deseja ler, os espaços que por cá ficam. E certamente percebeu, pelo tom culinário, que na verdade escrevo esfomeado e que a hora de jantar está à porta...

A realidade ficcionada ou a ficção real?

Caros leitores!

Na última sexta-feira, optei por gastar alguns minutos da minha manhã inteirando-me de algumas das notícias que vão surgindo no nosso país e no mundo. A TVI, assim como os outros canais de televisão, têm um espaço nos seus telejornais matutinos para fazer uma revista de imprensa, apresentando as capas dos jornais e revistas desses dias. No final desses espaço é apresentado o seguinte título da revista Maria: "Grávidas do mesmo homem"!Fiquei boquiaberto! Não pelo insólito da situação (pois ultimamente, de insólito esta situação tem muito pouco...), nem sequer pelo possível poder que este dito homem deve exercer sobre as mulheres. O meu espanto residiu no facto da situação descrita na capa da revista ser fruto de uma ficção, ser o final para uma das muitas novelas que a TVI tem.
Umas horas mais tarde, deslocava-me eu pelos corredores da escola onde trabalho e encontro dois pequenos envolvidos numa bulha um pouco mais acalorada. Procuro intervir separando os dois alunos. Perante a minha intervenção os dois alunos mudam a sua cara de esforço para um largo sorriso e dizem: "Oh professor! Nós apenas estávamos a lutar wrestling..."

Sei que não tenho competências para questionar a política editorial das revistas, dos jornais ou das televisões portuguesas, sei que também não posso questionar as opções de compra de imprensa por parte dos portugueses ou longe de mim querer impingir definições de "desporto" às pessoas, ou os gostos das mesmas, mas gostava de deixar aqui algumas perguntas para todos pensarmos... Não estaremos a confundir constantemente a realidade com a ficção? Não estaremos a dar demasiado valor à ficção em lugar de viver e nos preocuparmos com a própria vida real? Não estaremos nós a dar maus exemplos para os nossos jovens e para todos os cidadãos em geral? Não estaremos a publicitar formas de arruinar valores de uma sociedade moderada e temperamental como a nossa? Será que chega dizer que "é uma ficção" para as pessoas saberem que determinada situação não acontece assim na realidade? Será que chega dizer às pessoas para não tentarem reproduzir em casa aquilo que vêem na televisão para o mesmo não acontecer?

in Arco Iris a Preto e Branco

terça-feira, 24 de março de 2009

A solução passará por descer os salários?

in Jornal de Negócios:
"... Em suma, se temos produtividade de país pobre, não podemos ter salários (e consumo) de país rico. Não há volta a dar!"

Ora cá está uma reflexão que nos faz, no mínimo... reflectir.

Embora nos custe a admiti-lo, a realidade é que de facto somos um país com baixa produtividade. Não só ao nível do trabalhador, como também ao nível do gestor. Mais uma vez, uma questão de mentalidade que urge mudar... E para tal, parece-me, é fundamental entender o nosso papel no meio de tudo isto.

É um cliché dizê-lo, mas aqui aplica-se como uma luva: o trabalhador deve entender que, ao dar o máximo de si para enriquecer o negócio do seu patrão, está ele próprio a criar uma base sólida para o seu futuro. O patrão deve entender que, ao proporcionar melhores condições ao seu funcionário, está a investir na capacidade produtiva dos seus trabalhadores, o que leva a um crescimento do seu negócio.

É estranho, mas é uma situação Win-Win. Então porque não vemos isso acontecer? Porque é necessário que ambos os intervenientes tenham essa visão e tomem essa atitude em simultâneo. Caso contrário, se o trabalhador der o máximo de si e não for justamente recompensado, ou se o patrão der as melhores condições possíveis aos seus funcionários mas a produtividade não aumenta (ou até diminui), já todos nós sabemos para onde converge este processo...

quinta-feira, 19 de março de 2009

O esquerdo também tem direitos...

A preocupação com a falta de solidariedade na nossa sociedade é enorme, mas há outra coisa que eu não compreendo. É o apelo cada vez maior aos direitos de cada um sem pensar nos direitos dos outros! Um desses direitos é o direito à liberdade...

Estas ditas modas de andar com as calças em baixo exibindo a sua roupa interior e, na maior parte das vezes, o rêgo do rabo, tem sido justificado de forma leviana com a liberdade de vestir. Mas então e a liberdade do mais comum transeunte? Não existe? Temos que levar com esta degradante imagem sem nos queixarmos?

Outro caso muito próximo do anterior: quantas e quantas vezes vamos nós num transporte público ou na rua e levamos com as músicas estranhas (ou não) que outros transportam nos seus telemóveis e insistem em colocar em altos berros para toda a gente ouvir. Eu sei que existe liberdade de escolher e ouvir as músicas que queremos, mas será esse um direito exclusivo de quem tem um telemóvel estereofónico? Não poderei eu querer fazer uma viagem em silêncio? Que aconteceu aos benditos auscultadores?


"Também tenho direitos! Também pago os meus impostos!" Esta expressão está cada vez mais elevada ao estatuto de chavão, usada por tudo e todos (quer aqueles que os pagam, como aqueles que os devem)! Mas meus caros... pagar os impostos não é direito, é um dever e como tal deve ser cumprido! Direitos temos sempre, nem que não paguemos impostos! Se nos dirigimos a uma repartição pública e somos mal atendidos, nunca devemos apelar pelos nossos deveres... apelemos pelos nossos direitos! Se temos direito a ser bem atendidos e esclarecidos, quem lá está tem o dever de atender bem e esclarecer melhor! Mas ela também tem o direito à boa educação por parte dos outros! Quando alguém diz... "pago os meus impostos para pagar os salários desta gente" está a apelar a um dever e de um direito do outro, que é o seu salário!

Por isso, em lugar de pronunciar as frases anteriores, apelem pelo direito a serem bem atendidos, a serem esclarecidos, com certeza ficarão a ganhar!


Outro direito que temos é o direito de reclamar, de denunciar! Direitos esses que cada vez mais nos têm sido negados (ou sonegados) pelo medo de represálias! Como ouvi ontem... “vivemos numa sociedade de medo”, que protege muito mais facilmente um criminoso do que a sua vítima.

Neste tipo de sociedade quem fica a ganhar são os gangues (ou os bandos, como eu gosto de lhes chamar!) que recrutam elementos em troca de uma pseudo segurança com a qual a polícia (ou a própria sociedade) não consegue concorrer. A coação, a agressão e a manutenção de um estatuto social fazem o resto! Nós e a nossa sociedade é que ficamos a perder!
O direito à queixa e à denúncia também existe! Receber uma resposta pronta, imediata, capaz e que nos defenda também é um direito!

quarta-feira, 18 de março de 2009

Para onde caminhamos?

Ontem tive uma experiência a que chamaria surreal, de início, mas no final de contas, parece-me banal. A caminho de casa, deparo-me com um homem caído contra um muro na berma da estrada, com a bicicleta a seus pés. Parei imediatamente o carro e, quando me preparo para sair, reparo que estão 4 carros estacionados em cima do passeio com os "4-piscas" ligados, isto muito próximo do local onde o homem se encontrava. Pensei eu: "algum acidente".

Saio do carro, dirijo-me apressadamente ao senhor e vejo que ele está inconsciente, mas após chamar várias vezes por ele, lá mostrou alguma reacção. Era um senhor já com alguma idade, que segundo ele se tinha atrapalhado com os carros e foi contra o muro. Lá ajudei o homem a levantar-se, a curar algumas das feridas e ele seguiu o seu caminho.

Ora, até aqui tudo normal. Mas qual não é o meu espanto quando me apercebo que, em 3 desses 4 carros, o condutor estava dentro dele. Naquele caso, e desculpem-me a expressão, três "senhorecas" a ler revista de fofoca enquanto esperavam pela sua vez para serem atendidas na esteticista que aí se encontra! Nenhuma delas, bem como nenhuma das pessoas que entretanto passaram no local, esboçaram sequer a mínima intenção de ajudar o homem caído!

Daí a minha revolta. Daí a minha pergunta: para onde caminhamos enquanto sociedade, enquanto seres humanos?

Será que o egoísmo irá de facto prevalecer sobre a solidariedade?

Será que a ideologia "every men for himself" irá ser levada ao seu expoente máximo? Se assim for, poderemos continuar a usar os termos "sociedade" e "comunidade"?

Continuaremos a ter uma democracia, ou a anarquia passará a reinar?

Não sei. Sinceramente, nem quero pensar nisso... O que me assusta é estarmos cada vez mais próximo deste novo paradigma social...

terça-feira, 17 de março de 2009

Como o amanhã poderá ser melhor do que o hoje

Beto: A nossa geração demonstra um espírito de maior contestação do que as gerações anteriores, mas temo que as gerações mais novas (incluído a nossa) sejam também demasiado anárquicas, sem sentido de responsabilidade, nem respeito por regras e de valorização da excelência. Contesta-se por se contestar, sem causas ou fundo de razão.

Rui: Partilho o teu receio em relação à potencial anarquia e falta de valores das futuras gerações, embora talvez não o veja como problema inerente a essas gerações, mas sim ao actual estado social.

Essas gerações, para evoluir, precisam de exemplos, de "heróis", de um modelo que possam tentar adaptar à sua realidade. Ora, para mim, o problema reside exactamente aí. Com o passar dos anos, vemos um desligar em relação à politica cada vez mais acentuado sobretudo nas camadas mais jovens. Será que se trata de um problema dessa geração per si, ou da crescente descrença na classe politica? Eu apontaria para a segunda opção pois, quando tento imaginar-me a crescer a partir de Guterres, por exemplo, tenho muita dificuldade em encontrar motivação para me interessar por problemas de estado.

No fundo, o que me parece fundamental é entender que nem essa evolução vem de baixo para cima, nem de cima para baixo. Agora, sem dúvida alguma que sem uma liderança forte, exemplar e sobretudo digna e honrada, é difícil motivar as nossas crianças a desenvolverem interesse e espírito critico por algo em que não encontram interesse nem valor.

Beto: Muitos podem dizer que temos a mania de culpar os políticos de tudo. Eu não os culpo de tudo, mas culpo de não fazerem o que deve ser feito, de não serem o melhor exemplo para os restantes.

Rui: Exactamente: Exemplo. O cerne da questão reside aí: em dar o exemplo.

Mais: os politicos são como são porque nós, enquanto cidadãos (mais do que como eleitores), assim o permitimos ou assim os molda-mos.

Beto: Há cinco anos lembrei-me de processar o Estado por enviar o meu voto para o lixo, pegando em dois exemplos claros: O CDS teve mais 100mil votos do que nas eleições anteriores e teve menos um deputado na Assembleia; O PS teve maioria absoluta com cerca de 45% dos votos. Isto vai contra os princípios básicos da Constituição Portuguesa, a igualdade. Um voto no PS (ou no partido vencedor) vale mais do que um voto no CDS ou de qualquer outro partido.

Rui: Pois, acaba por ser um pouco baseado no esquema "the rich get richer".

Beto: Com um processo destes, conseguiríamos obrigar os próprios partidos a mudar a lei eleitoral. Sei que sou um simples cidadão, mas parece-me ser necessária uma alteração que se aproxime da lei eleitoral brasileira: voto obrigatório e listas individuais (tu votas na pessoa que queres e não no partido, independentemente de pertencer ou não a um partido).

Rui: Do ponto de vista conceptual, também me agrada bastante a lei brasileira. Mas tenho algum receio que isso possa trazer ainda mais populismo, devido à falta de dignidade profissional (lá está ela, mais uma vez) da classe política.

Beto: Sou da opinião que se deve acabar com os círculos eleitorais, que pouco representam a população do distrito (tu sabes quem são os deputados do circulo eleitoral de Aveiro?).

Rui: Totalmente de acordo! Acrescentaria: e que servem apenas para criar mais alguns "tachos".

Beto: Devem ser permitidas candidaturas independentes para combater os lobbies partidários. As equipas ministeriais devem ser conhecidas antes das eleições, bem como o programa do governo.

Rui: Isso parece-me um ponto crucial! Isso seria para mim uma forma híbrida de implementares o tal voto no individuo que referias acima, pois assim não estarias tanto a votar num partido mas numa equipa completa, com a planificação já elaborada.

Para isso funcionar, seria também necessária uma maior transparência por parte do governo, para que todos pudessem fazer o tal plano para governar baseado no estado real do país e não em dados escamoteados.

Beto: Depois tem que haver alterações profundas à Constituição: cada partido que ganha, altera as leis, estas vão para a constituição, mas tem sempre as leis anteriores e algumas continuam em vigor. Isto gera confusão! Tenta perceber o que está em vigor sobre um determinado tema à tua escolha. Não te chega ler o último Decreto-lei, tens que ler os anteriores, os esclarecimentos, os despachos dos Conselhos de Ministros e por aí fora.

Rui: Isso é um problema de base, que mais uma vez nasce do típico populismo ou, diria eu, "votismo" dos nossos políticos. "O governo anterior fez isto, portanto nós faremos o contrário!", sobretudo nas questões polémicas. Daí que vejas políticos que, enquanto na oposição, defendam uma posição contrária à do Governo relativamente a um tópico polémico e que divida a sociedade e, enquanto governantes, passem para o outro lado.

No fundo, é o problema que persiste em Portugal e para o qual não se vislumbra solução: a não existência de oposição, mas sim de uma critica destrutiva. Posto de outra forma, existe o governo e existem os do contra.

Beto: Aqui tenho que concordar com o Alberto João Jardim: A constituição tem que ter leis gerais e básicas, como os direitos e deveres dos cidadãos. Tudo o resto é programa de governo, só fica em vigor durante a legislatura.

O Medina Carreira apontou um sistema presidencial, o que não me parece mau de todo, mas para tal é necessário distribuir os poderes de outra forma para não entrarmos numa populismo como se está a viver na Venezuela. Assim, talvez fosse necessário criar as regiões e haver um ministro por região. A Assembleia da República podia ser reduzida e passar a exercer um poder de maior regulação em lugar de um poder legislativo.

Rui: Totalmente de acordo!

Repara que tocas num ponto fundamental: parlamento como entidade reguladora. Eu acrescentaria: entidade reguladora e imparcial. Porque esse é também um dos nossos maiores problemas enquanto sociedade: a falta de regulação/fiscalização eficiente, transparente e sobretudo imparcial.

Beto: Bem, estas são algumas ideias no que concerne ao sistema eleitoral e legislativo. Dá a tua opinião...

Rui: Pá, e fazer um blog onde postaríamos estas nossas discussões?