A esperança média de vida aumenta sem parar, e tenderá a aumentar ainda mais à escala mundial quando países com elevadas taxas de mortalidade tiverem acesso aos serviços mínimos de saúde e higiene. No entanto, o aumento da esperança média de vida não se traduz num aumento similar de tempo de trabalho efetivo, porque a capacidade para desenvolver uma profissão quando se tem 25 anos não é a mesma quando se tem 70 anos, mesmo que depois se consiga viver sem problemas de maior até aos 90. Objetivamente, a resistência física e a agilidade mental desaparecem, mesmo que se viva até mais tarde, a menos que queiram a 3a idade toda “speedada”. Portanto, no futuro teremos uma percentagem cada vez maior de reformados relativamente ao total da população. Esqueçam a questão do aumento da idade da reforma; isso apenas serve para que os reformados recebam menos por se reformarem antecipadamente.
A estratégia “de fuga para a frente” para “sustentar” os reformados cada vez mais numerosos é a de diminuir a sua percentagem relativa aumentando a quantidade absoluta de jovens, logo, da natalidade. No entanto, esta estratégia elementar tem um problema: aumenta o total da população, o que terá como consequência aumentar no futuro, novamente, a percentagem de reformados. Como todos os sistemas com realimentação positiva, ele não converge para um ponto estável, e o resultado será a escassez inevitável de trabalho e de recursos. Até um cego vê isto. Não é, de todo sustentável. É um caminho para o desastre, a única questão em aberto é saber quando.
Atualmente estamos num ponto em que claramente já temos excesso de população, pelo menos na Europa. Acredito que em alguns países, nomeadamente em África, ainda haja potencial em termos de área e recursos para maiores populações, mas globalmente seria desejável começar a pensar em como suster o crescimento populacional e “aguentar” de forma minimamente decente a sobrecarga de reformados que o ajuste irá necessariamente criar. Numa época de reformas estruturais, era fundamental considerar esta, a nível global, para que o planeta tenha futuro. Senão, se continuarmos a “empurrar com a barriga” o problema e a aumentar a população de forma a resolver os problemas dos reformados que se seguirão segundo os princípios do tempo dos nossos pais, um dia o problema terá de ser resolvido à custa de algo muito mais radical, como guerras ou desaparecimento de populações devido à ausência total de recursos.
É claro, é evidente, é inevitável que a pirâmide etária evolua de forma a ser mais elevada e com declive menos acentuado, e era bom que se começasse a pensar como ela poderá desejavelmente ser numa situação normal, de “cruzeiro”, e como se consegue evoluir de forma gradual entre os dois formatos. Não é altura de pensar em aumentar a natalidade, mas sim de como sustentar a os reformados durante o período de ajuste da pirâmide a daí para diante.
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Tema muito pertinente, infelizmente o controle da natalidade continua a ser um assunto tabu na maioria das sociedades. Aconselho a leitura do livro Colapso do Jared Diamond, o capítulo sobre o massacre no Ruanda é paradigmático do problema de sobrepopulação.
ResponderExcluirUm tabu que tem de ser quebrado. Ainda há pouco acabei de ler "Ishmael", do Daniel Quinn, que analisa este paradigma humano de se colocar acima de toda a espécie e recurso.
ResponderExcluirA sociedade não pode evitar ter este debate. Mas pode evitar as "soluções" mais radicais, se iniciar o debate a tempo. Pergunta: ainda iremos a tempo?