sábado, 5 de maio de 2012

Reformas estruturais (I)

Portugal é um país como uma orografia tramada. Não temos montanhas tão altas como a Espanha, a França e a Suíça, é certo, mas em contrapartida temos um país que é mesmo muito pouco plano. A nossa rede viária base, digamos, é constituída por vias construídas com baixos declives e curvas pronunciadas, feitas para os veículos da época (primeira metade do Séc. XX, quando ainda existia muita tração animal) e com os poucos recursos financeiros da época (mínimo de obras de arte). Depois vieram os IP, os IC, as autoestradas e as SCUT, entretanto alguns IP passaram a SCUT e estas, mais tarde, a ex-SCUT.

E agora, como estamos? Mal.

As portagens das autoestradas e ex-SCUT são demasiado caras para o poder económico atual, por isso muitos abandonam-nas para circular por estradas nacionais e municipais. Estas, por causa deste afluxo inesperado, especialmente de pesados, ficam sobre-lotadas e danificadas. Globalmente, a circulação faz-se mais lentamente, diminui-se a produtividade do país. Por outro lado, as autoestradas ganham cada vez menos para pagar a sua construção e os seus custos de exploração. Parece uma rábula do Solnado, parte-se a guita, perde-se a bala, tudo prejuízo.

A meu ver, a solução passa por um compromisso: portagens proporcionais à velocidade e sem discriminação de classe de veículo. Por exemplo, 90 km/h - 1 cêntimo/Km, 120 km/h - 6 cêntimos/km, >120 km/h - 8 cêntimos/km. Para todas as classes de veículos.

O que é que se ganhava?

Bom, por um lado, retirávamos quase imediatamente todos os veículos das estradas nacionais e municipais, porque mesmo que circulassem a 90 km/h numa autoestrada, seria muito mais confortável fazê-lo aí do que numa nacional (onde muitas vezes nem a essa velocidade de circula). Notem que a essa velocidade uma viagem Lisboa-Porto custaria certa de 3 Euros e duraria cerca de 3h20. Não acredito que por 3 euros alguém que vá de Lisboa ao Porto não pague 3 Euros por essa comodidade.

Por outro lado, dinamizávamos a economia do país, a rentabilidade dos transportadores melhorava muito, e provavelmente até melhorava a rentabilidade da autoestradas com o afluxo de veículos devido ao baixo custo.

Por outro lado, economizávamos combustível, porque ao promover a circulação a velocidades moderadas constantes gasta-se menos combustível do que em todos os outros cenários considerados.

Finalmente, quem quisesse viajar mesmo rápido poderia continuar a fazê-lo, mas pagando mais por esse benefício. Desta forma, os clientes poderiam equacionar o custo-benefício de ir mais depressa ou devagar numa autoestrada, em temos de tempo vs. custo, mas sem terem de optar por não ir na autoestrada, que é o que não interessa, como já antes vimos.

E poderia continuar por aqui fora com as vantagens. Ah, e já agora, ao nível da cobrança de portagens o processo seria simples, eles sabem exatamente as horas de passagem nos pórticos, consequentemente sabem a velocidade média de circulação, pelo que podem fazer facilmente a taxação em função da velocidade.

Um comentário:

  1. O processo de cobrança de portagem e cálculo da velocidade não é assim tão simples. Há sempre o problema de quem viaja a 150km/h, mas depois pára 30 mins na estação de serviço, e no fim paga como se tivesse ido a 90km/h.

    Mas mais, a "classes" existem para, de acordo com o peso do veículo, taxar a sua passagem. Um automóvel de 2 passageiros não danifica o pavimento como um pesado levando um contentor cheio de madeira. Se considerar o peso + velocidade aí sim, seria mais justo.

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